Pavão
talvez, gato nunca
Pedro
J. Bondaczuk
“A
Literatura é uma dama caprichosa que exige, antes de tudo, dedicação
plena”. Essa declaração, vou logo avisando, não é minha,
embora eu concorde plenamente com ela. É do jornalista, escritor e
tradutor baiano, Hélio Pólvora de Almeida, cuja vida e obra
abordei, recentemente, no contexto de uma série de estudos que
escrevi (e partilhei com vocês) sobre alguns dos principais
ficcionistas da Bahia. E ele não está certo? Certíssimo!!! Só
faltou acrescentar que essa tal “dama caprichosa” exige
praticamente tudo de nós – cérebro, coração, corpo e alma –
mas não nos garante nada em troca. Às vezes nos recompensa, mas...
na maioria dos casos não dá a mínima para as nossas aspirações.
Tomo
como exemplo específico o que ocorre comigo. Nos últimos trinta
anos, venho me dedicando com afinco, com gana, com paixão à
Literatura. É verdade que, até não faz muito, essa dedicação não
era integral. Partilhava-a com o jornalismo. Afinal, preciso de
dinheiro para viver. Quem não precisa? Agora, todavia, submeti-me à
sua absoluta ditadura, aos seus caprichos que exigem irrestrita
exclusividade. E qual o resultado disso? Nenhum! Ou quase nenhum!
Refiro-me a resultados práticos, se não a ganhos materiais, como
depósitos expressivos em minha raquítica conta bancária, pelo
menos o reconhecimento, e já nem digo dos leitores, mais caprichosos
e infiéis até do que essa “dama caprichosa”, mas, pelo menos,
dos meus pares.
E
olhem que venho agindo de forma a merecer alguma recompensa, por
pífia que seja. Não se trata propriamente de vaidade, embora haja
uma dose dela. Caramba! Sou humano! Tenho direito a um pouquinho que
seja desse narcótico do espírito. Sou vaidoso, sim, mas creio que
sem exagero. Aliás, minha vaidade, se não está satisfeita, tem
tudo para estar. Foram dezenas as homenagens que recebi pelos meus
textos, como medalhas, diplomas e troféus. Minha produção
literária, inclusive, já foi utilizada para formulação de
questões em pelo menos três vestibulares (é possível que até em
mais), dos que tomei ciência. Foi usada, também, em concursos
públicos o que, convenhamos, atesta, no mínimo, sua excelência. E
o que ganhei em troca? Nada, a não ser a antipatia de alguns
estudantes, dos que se deram mal nos exames, por não conseguirem
interpretar minhas idéias. Estes que estudem mais, ora bolas!
Prefácios
já escrevi às dezenas, tantos que até perdi a conta. Fui citado,
nominalmente, em alguns livros, inclusive de autores de renome. “O
que você quer mais?!”, perguntará, admirado e em tom ostensivo de
reprovação aquele leitor chato (sempre existe algum), doido para
assumir o papel de “árbitro do comportamento”, mas do alheio,
claro, nunca do próprio. É como aquele macaco que ri do fato do
rabo de outro símio estar despelado, sem atentar, todavia, que o seu
está muito pior. O que quero é reconhecimento. O que quero é que
meus livros vendam muito, não pelo tanto que essa venda possa me
render em direitos autorais (embora isso não seja desprezível, ora
bolas), mas para que minhas idéias cheguem, de fato, às mãos dos
que se destinam: os leitores. E, claro, ao maior número possível
deles. Por mais que eu me empenhe, porém, não é o que vem
ocorrendo.
A
“dama caprichosa”, que exige tanto de mim (na verdade exige
tudo), teima em não me dar nada, absolutamente nada em troca. Por
exemplo, eu que já escrevi sobre mais de um milhar de escritores
(isso sem falar em artistas de outras artes, como compositores,
pintores, escultores etc.), só pude ler três ou quatro análises já
não digo da minha pessoa, mas da minha obra. E essa pretensão de
ser avaliado não se trata de vaidade (pelo menos, não somente
dela), mas de senso prático. Quanto mais escreverem a meu respeito,
mais pessoas serão atraídas para os meus textos, o que é, em
última instância, o que de fato desejo. Como qualquer escritor que
se preze, não escrevo para o próprio deleite. Faço-o tendo em
mente, invariavelmente, esse ditador cruel e caprichoso, mas que é o
verdadeiro juiz da minha produção: o leitor.
Apesar
dos pesares, não pretendo desistir. Aliás, não vou. Não sou
masoquista, contudo não estou disposto a abrir mão dessa paixão,
mesmo que ela signifique absoluta servidão a essa “caprichosa
dama”. Sei que este desabafo pode soar (e a muitos, soará mesmo)
como antipático, vaidosos etc.etc.etc. Estou me lixando para isso.
Não abro mão de tratar meu leitor com transparência e verdade.
Abomino a mentira e se desse a entender, mesmo que apenas através
silêncio (afinal, quem cala, consente) que estou satisfeito com a
atual situação, estaria faltando com a verdade. Prefiro, pois, ser
visto como incorrigível “pavão” do que como um hipócrita
“gato”..
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