Monday, August 06, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Juros ameaçam o real


Juros ameaçam o real

Pedro J. Bondaczuk

O balanço dos 20 primeiros dias de implantação do real, embora não seja entusiasmante, por causa de alguns problemas surgidos, que aliás são normais e esperados numa operação desse porte, é positivo. O desempenho econômico em julho, frise-se, é fundamental para as expectativas sobre o fracasso ou o sucesso do plano.

No geral, os preços se mantêm estáveis, talvez em decorrência da gordura que têm, depois da fúria remarcatória de junho passado. Alguns tiveram um sutil recuo e outros subiram, posto que a taxas pequenas. Mas nessa guerra sem quartel contra a inflação, a batalha, se não decisiva, pelo menos muito importante, ainda está por ser travada. Trata-se da determinação das taxas corretas de juros.

Hoje elas estão altíssimas e provavelmente exageradas. É bom que a equipe econômica tenha em conta a lição da medicina de que o mesmo produto que cura doenças, caso administrado a um paciente em dosagem inadequada, tende a ser um poderoso veneno. O mesmo raciocínio vale para esse caso.

Se é verdade que os juros elevados forçam os comerciantes a se desfazer de estoques, com reflexos positivos nos preços, não é menos real que pressionam os custos industriais, atuando como realimentadores da inflação. É esse ponto ideal, o do equilíbrio, que nem estimula demandas exageradas nem desestimula a produção, que se tornou o maior desafio do ministro Rubens Ricupero.

A explosão de compras, neste momento, ao contrário do que ocorreu no Plano Cruzado, em 1986, está fora de questão. O poder aquisitivo dos trabalhadores, os consumidores por excelência do País, não cresceu e no caso de algumas categorias até teve discreta queda.

A poupança, por outro lado, continua sendo atrativa e sequer houve a esperada corrida dos investidores para ativos reais, como veículos, imóveis e outros bens. Se nem a euforia da Copa do Mundo provocou a elevação das vendas --- muito pelo contrário, o comércio se queixa de retração, pelo menos nos primeiros dias de julho --- é porque, a médio prazo, o aumento do consumo, se vier a acontecer, acompanhará o incremento da produção, que pode vir se os empresários confiarem no sucesso do plano e resolverem investir. Mas para que essa confiança se estabeleça, os juros precisarão retroagir das altíssimas taxas em que hoje estão.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de julho de 1994).

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