Juros ameaçam o real
Pedro J. Bondaczuk
O balanço dos 20 primeiros
dias de implantação do real, embora não seja entusiasmante, por
causa de alguns problemas surgidos, que aliás são normais e
esperados numa operação desse porte, é positivo. O desempenho
econômico em julho, frise-se, é fundamental para as expectativas
sobre o fracasso ou o sucesso do plano.
No geral, os preços se mantêm
estáveis, talvez em decorrência da gordura que têm, depois da
fúria remarcatória de junho passado. Alguns tiveram um sutil recuo
e outros subiram, posto que a taxas pequenas. Mas nessa guerra sem
quartel contra a inflação, a batalha, se não decisiva, pelo menos
muito importante, ainda está por ser travada. Trata-se da
determinação das taxas corretas de juros.
Hoje elas estão altíssimas e
provavelmente exageradas. É bom que a equipe econômica tenha em
conta a lição da medicina de que o mesmo produto que cura doenças,
caso administrado a um paciente em dosagem inadequada, tende a ser um
poderoso veneno. O mesmo raciocínio vale para esse caso.
Se é verdade que os juros
elevados forçam os comerciantes a se desfazer de estoques, com
reflexos positivos nos preços, não é menos real que pressionam os
custos industriais, atuando como realimentadores da inflação. É
esse ponto ideal, o do equilíbrio, que nem estimula demandas
exageradas nem desestimula a produção, que se tornou o maior
desafio do ministro Rubens Ricupero.
A explosão de compras, neste
momento, ao contrário do que ocorreu no Plano Cruzado, em 1986, está
fora de questão. O poder aquisitivo dos trabalhadores, os
consumidores por excelência do País, não cresceu e no caso de
algumas categorias até teve discreta queda.
A poupança, por outro lado,
continua sendo atrativa e sequer houve a esperada corrida dos
investidores para ativos reais, como veículos, imóveis e outros
bens. Se nem a euforia da Copa do Mundo provocou a elevação das
vendas --- muito pelo contrário, o comércio se queixa de retração,
pelo menos nos primeiros dias de julho --- é porque, a médio prazo,
o aumento do consumo, se vier a acontecer, acompanhará o incremento
da produção, que pode vir se os empresários confiarem no sucesso
do plano e resolverem investir. Mas para que essa confiança se
estabeleça, os juros precisarão retroagir das altíssimas taxas em
que hoje estão.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de julho de 1994).
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