Monetarismo exacerbado
Pedro
J. Bondaczuk
A
contraproposta do governo ao acordo firmado entre representantes de
uma parcela dos trabalhadores e empresários, apresentada anteontem,
na reunião do chamado entendimento nacional, praticamente jogou por
terra as esperanças de um pacto social que permita uma travessia
suave pelo “cinzento” ano – na previsão do próprio presidente
Fernando Collor – de 1991.
Fontes
governamentais revelaram, em caráter reservado, que isso foi
proposital. Que o objetivo dos negociadores do Planalto foi chamar as
outras duas partes à realidade. Afinal, a proposta apresentada
conjuntamente por elas virtualmente minava o plano econômico –
traçado dentro do mais rígido padrão monetarista – em sua base.
A
prefixação de preços e salários, convenhamos, é uma ilusão,
principalmente no que se refere ao primeiro desses dois fatores. O
governo, com as cartas que colocou na mesa, deixou claro que qualquer
entendimento entre as três partes deve ocorrer nos seus termos. Ou
seja, quer, simplesmente, que empresários e trabalhadores concordem
com o plano batizado de Brasil Novo, se tornando seus aliados, e não
adversários.
O
grande pecado de uma política monetarista, especialmente quando ela
é ortodoxa, sem prever, portanto, nenhuma flexibilidade, é que ela
nunca leva em conta o custo social. E este é fundamental num país
como o nosso, de tanta miséria, onde o indivíduo que perde o
emprego fica em seriíssimo apuro, já que o seguro-desemprego é
incipiente e as oportunidades de colocação são diminutas, quando
se sabe que há muito mais oferta do que procura de mão de obra.
Se
antes do fracasso, pelo menos dessa primeira rodada decisiva, do
entendimento nacional, as previsões de um 1991 “cinzento”
preocupavam, agora estão alarmando. Afinal, o corrente ano foi o
pior de toda uma década.
Nos
primeiros nove meses de 1990, por exemplo, pelo menos 500 mil
trabalhadores perderam seus empregos. Mas as demissões cresceram
muito de setembro para cá. Portanto, essa cifra já deve andar
rondando pelo um milhão.
A
inflação de novembro, de 16,64%, foi a mais alta do Plano Collor,
acumulando 2.359% nos últimos 12 meses. O retrocesso geral da
economia já atingia, no mês passado, a 3,8%, num país onde a taxa
de natalidade gira ao redor de 2,5%.
O
programa antiinflacionário pode até ser correto, tecnicamente. Mas
não se pode negar que é trágico, do ponto de vista social. A
equipe econômica do governo age, no caso, como aquele terapeuta
maluco, que para curar alguém da indesejável caspa, decide cortar a
cabeça do paciente. Espera-se, somente, que a contraproposta do
Planalto não seja a definitiva, mas somente um turno, de uma longa e
– tomara – bem-sucedida negociação.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de
dezembro de 1990).
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