Sunday, August 12, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Mão de obra ociosa


Mão de obra ociosa


Pedro J. Bondaczuk


O economista Cláudio Considera, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, levanta uma tese interessante para explicar as altas taxas de desemprego no País. Atribui o crescimento do número de desempregados não a demissões em massa nas empresas, mas ao aumento explosivo da População Economicamente Ativa.

Ou seja, o enorme contingente de crianças das décadas de 60 e 70 se tornou adulto, com necessidade de uma colocação profissional. Mas a economia brasileira não acompanhou esse crescimento, deixando de gerar, portanto, as vagas que pudessem absorver esses candidatos ao mercado de trabalho.

Embora admitindo que o processo de modernização da indústria e do setor de serviços, com a aplicação de alta tecnologia e o advento da informática, extinguiu várias ocupações, citou dados comprovando que houve mais criação do que extinção de empregos.

A pergunta que se faz é: o que fazer com esse enorme potencial de mão de obra ociosa? Afinal, esse contingente não pode (e as pessoas inseridas neste grupo não querem) ser um peso morto para a sociedade. A questão extrapola o terreno econômico para se transformar em um problema social e humano.

São homens e mulheres com os mesmos sonhos e aspirações dos seus semelhantes que estão na ativa, como empregados ou como empresários. Ou seja, estudam, preparam-se para exercer uma profissão, planejam casar, constituir família, construir um patrimônio e deixar herança para os filhos que gerarem. Mas para isso, precisam trabalhar. Requerem uma atividade remunerada.

Considera enfatiza que dados estatísticos disponíveis mostram que nos últimos dois anos, a despeito dos sucessivos balanços dando conta do aumento do desemprego, a economia brasileira gerou 600 mil novos postos de trabalho apenas em 18 meses, contra uma perda muito menor.

Em 1995, foram 400 mil. No primeiro semestre deste ano, foram mais 200 mil. Ocorre que o déficit de vagas, mesmo assim, é imenso. A cada ano, três milhões de jovens tornam-se aptos a trabalhar, sem que tenham onde. Daí ser preciso mudar o enfoque quanto ao seu aproveitamento.

É preciso, nas atuais circunstâncias, incentivar as microempresas, em grandes dificuldades atualmente, face à conjuntura econômica, voltada ao combate à inflação, com a indesejável componente recessiva. O País não pode desperdiçar tamanho potencial produtivo.

Compete aos planejadores buscar alternativas que, sem comprometer as metas inflacionárias --- e estamos muito distantes do ideal, com taxas anuais nove vezes maiores do que as dos países de Primeiro Mundo, como enfatizou o deputado Delfim Netto --- permita a absorção desses jovens.

A economia moderna está dimensionada de tal forma que, para uma sociedade não entrar em colapso, é vital descobrir, e estimular, novas necessidades nas pessoas, não importa se supérfluas (a maioria é). Para a sua satisfação, constituem-se imensas estruturas industriais, comerciais e de serviços que geram ocupações, salários, impostos e, por consequência, riquezas.

No Brasil sequer é preciso isso. Há necessidades prementes --- educação, cultura, segurança, habitação, alimentação, etc. --- longe de serem satisfeitas, por falta de investimentos do Estado e de vontade política da sociedade.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de julho de 1996).


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