Mão de obra ociosa
Pedro J. Bondaczuk
O economista Cláudio
Considera, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, levanta uma
tese interessante para explicar as altas taxas de desemprego no País.
Atribui o crescimento do número de desempregados não a demissões
em massa nas empresas, mas ao aumento explosivo da População
Economicamente Ativa.
Ou seja, o enorme contingente
de crianças das décadas de 60 e 70 se tornou adulto, com
necessidade de uma colocação profissional. Mas a economia
brasileira não acompanhou esse crescimento, deixando de gerar,
portanto, as vagas que pudessem absorver esses candidatos ao mercado
de trabalho.
Embora admitindo que o
processo de modernização da indústria e do setor de serviços, com
a aplicação de alta tecnologia e o advento da informática,
extinguiu várias ocupações, citou dados comprovando que houve mais
criação do que extinção de empregos.
A pergunta que se faz é: o
que fazer com esse enorme potencial de mão de obra ociosa? Afinal,
esse contingente não pode (e as pessoas inseridas neste grupo não
querem) ser um peso morto para a sociedade. A questão extrapola o
terreno econômico para se transformar em um problema social e
humano.
São homens e mulheres com os
mesmos sonhos e aspirações dos seus semelhantes que estão na
ativa, como empregados ou como empresários. Ou seja, estudam,
preparam-se para exercer uma profissão, planejam casar, constituir
família, construir um patrimônio e deixar herança para os filhos
que gerarem. Mas para isso, precisam trabalhar. Requerem uma
atividade remunerada.
Considera enfatiza que dados
estatísticos disponíveis mostram que nos últimos dois anos, a
despeito dos sucessivos balanços dando conta do aumento do
desemprego, a economia brasileira gerou 600 mil novos postos de
trabalho apenas em 18 meses, contra uma perda muito menor.
Em 1995, foram 400 mil. No
primeiro semestre deste ano, foram mais 200 mil. Ocorre que o déficit
de vagas, mesmo assim, é imenso. A cada ano, três milhões de
jovens tornam-se aptos a trabalhar, sem que tenham onde. Daí ser
preciso mudar o enfoque quanto ao seu aproveitamento.
É preciso, nas atuais
circunstâncias, incentivar as microempresas, em grandes dificuldades
atualmente, face à conjuntura econômica, voltada ao combate à
inflação, com a indesejável componente recessiva. O País não
pode desperdiçar tamanho potencial produtivo.
Compete aos planejadores
buscar alternativas que, sem comprometer as metas inflacionárias ---
e estamos muito distantes do ideal, com taxas anuais nove vezes
maiores do que as dos países de Primeiro Mundo, como enfatizou o
deputado Delfim Netto --- permita a absorção desses jovens.
A economia moderna está
dimensionada de tal forma que, para uma sociedade não entrar em
colapso, é vital descobrir, e estimular, novas necessidades nas
pessoas, não importa se supérfluas (a maioria é). Para a sua
satisfação, constituem-se imensas estruturas industriais,
comerciais e de serviços que geram ocupações, salários, impostos
e, por consequência, riquezas.
No Brasil sequer é preciso
isso. Há necessidades prementes --- educação, cultura, segurança,
habitação, alimentação, etc. --- longe de serem satisfeitas, por
falta de investimentos do Estado e de vontade política da sociedade.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de julho
de 1996).
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