Wednesday, August 01, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - História pouco ensinou


História pouco ensinou


Pedro J. Bondaczuk

O filósofo francês Voltaire, conhecido por sua irreverência, afirmou que “a história nunca se repete. Mas o homem se repete sempre”. A afirmação cai como uma luva para os políticos do Brasil. O combate à inflação tem sido, ao longo de toda a história republicana brasileira, um objetivo frustrante e frustrado, desde antes desta palavra estar em moda como agora.

Mesmo antes de ser desenvolvida metodologia para medir a escalada inflacionária, seus efeitos perversos penalizavam duramente a população, em especial aquela faixa que dispôs de recursos para proteger seus ganhos da desvalorização.

O jornal “O Estado de São Paulo” – que ainda se chamava “A Província de São Paulo” – constatou, em 13 de dezembro de 1889: “Os gêneros de primeira necessidade, arroz, feijão e todos os alimentos, têm subido tanto de preço que as classes operárias e pobres estão quase privadas deles”. Nada diferente de agora, 102 anos depois.

Era a inflação devastando impiedosamente as economias domésticas. A devastação prossegue, afetando quase dez vezes mais pessoas, já que a população do País é estimada, atualmente, em 155 milhões de habitantes. Transcorrido tanto tempo, os mecanismos adotados pelos economistas para fazer face a essa distorção virtualmente não mudaram, embora hoje tenham nomes mais complicados e fórmulas esotéricas entendidas apenas por alguns iniciados.

Na essência, todavia, são os mesmos. Ainda se adotam congelamentos, controles de preços e outras soluções arcaicas e ineficazes quando o ideal seria o mercado reger-se por suas próprias leis naturais. Governo algum ainda colocou em prática um controle eficiente.

Ao invés de interferir nos negócios, que deveriam ser deixados por conta da iniciativa privada, o Estado precisa controlar a si próprio, já que não passa de uma projeção da sociedade e não a própria. Seu papel, nunca exercido, é o de mero árbitro, não de personagem central, que invariavelmente rouba a cena alheia.

A máquina estatal deve ser enxuta, ágil, eficiente e rápida nas decisões e sobretudo não perdulária. O ex-presidente do Banco Central, Afonso Celso Pastore, em artigo que publicou em outubro de 1989, forneceu parte da receita anti inflacionária – que aliás o governo a que ele serviu não aplicou.

É preciso lastrear a moeda, tornando-a forte e dando-lhe poder aquisitivo constante. Para isso, nada melhor do que seriedade fiscal”. A equipe do presidente Fernando Collor, todavia, optou, no plano anunciado na quinta-feira, por um recurso antigo e ineficaz que o próprio governante havia descartado em entrevista coletiva dada antes da posse, em 14 de fevereiro de 1990. O que teria feito o presidente mudar de ideia em dez meses de poder?

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de fevereiro de 1991).

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