História pouco ensinou
Pedro
J. Bondaczuk
O filósofo
francês Voltaire, conhecido por sua irreverência, afirmou que “a
história nunca se repete. Mas o homem se repete sempre”. A
afirmação cai como uma luva para os políticos do Brasil. O combate
à inflação tem sido, ao longo de toda a história republicana
brasileira, um objetivo frustrante e frustrado, desde antes desta
palavra estar em moda como agora.
Mesmo
antes de ser desenvolvida metodologia para medir a escalada
inflacionária, seus efeitos perversos penalizavam duramente a
população, em especial aquela faixa que dispôs de recursos para
proteger seus ganhos da desvalorização.
O
jornal “O Estado de São Paulo” – que ainda se chamava “A
Província de São Paulo” – constatou, em 13 de dezembro de 1889:
“Os gêneros de primeira necessidade, arroz, feijão e todos os
alimentos, têm subido tanto de preço que as classes operárias e
pobres estão quase privadas deles”. Nada diferente de agora, 102
anos depois.
Era
a inflação devastando impiedosamente as economias domésticas. A
devastação prossegue, afetando quase dez vezes mais pessoas, já
que a população do País é estimada, atualmente, em 155 milhões
de habitantes. Transcorrido tanto tempo, os mecanismos adotados pelos
economistas para fazer face a essa distorção virtualmente não
mudaram, embora hoje tenham nomes mais complicados e fórmulas
esotéricas entendidas apenas por alguns iniciados.
Na
essência, todavia, são os mesmos. Ainda se adotam congelamentos,
controles de preços e outras soluções arcaicas e ineficazes quando
o ideal seria o mercado reger-se por suas próprias leis naturais.
Governo algum ainda colocou em prática um controle eficiente.
Ao
invés de interferir nos negócios, que deveriam ser deixados por
conta da iniciativa privada, o Estado precisa controlar a si próprio,
já que não passa de uma projeção da sociedade e não a própria.
Seu papel, nunca exercido, é o de mero árbitro, não de personagem
central, que invariavelmente rouba a cena alheia.
A
máquina estatal deve ser enxuta, ágil, eficiente e rápida nas
decisões e sobretudo não perdulária. O ex-presidente do Banco
Central, Afonso Celso Pastore, em artigo que publicou em outubro de
1989, forneceu parte da receita anti inflacionária – que aliás o
governo a que ele serviu não aplicou.
“É
preciso lastrear a moeda, tornando-a forte e dando-lhe poder
aquisitivo constante. Para isso, nada melhor do que seriedade
fiscal”. A equipe do presidente Fernando Collor, todavia, optou, no
plano anunciado na quinta-feira, por um recurso antigo e ineficaz que
o próprio governante havia descartado em entrevista coletiva dada
antes da posse, em 14 de fevereiro de 1990. O que teria feito o
presidente mudar de ideia em dez meses de poder?
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de
fevereiro de 1991).
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