Wednesday, August 29, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Benesses para o campo


Benesses para o campo

Pedro J. Bondaczuk

Foi muito concorrida em Brasília a posse do pecuarista Antônio Cabrera Mano Filho, no comando da pasta da Agricultura. Apesar do informe de não pertencer ao movimento da UDR, como se chegou a anunciar, cerca de mil pessoas compareceram àquela solenidade, no geral todas elas ligadas às atividades do campo. Houve não só a presença de tratores, mas também se notou junto ao edifício do ministério um caminhão carregado de bois, numa demonstração evidente de apoio político ao novo titular daquela importante pasta ministerial.

Assinalou o novo ministro, em seu discurso de posse, o detalhe de que a democracia, no atual governo do presidente Fernando Collor de Mello, chegou ao campo, prometendo desde já a introdução de muitas inovações na política agrícola, até porque, como disse, estamos no início da década do cooperativismo. Também foi muito claro na afirmativa de que a reforma agrária será meta prioritária deste governo, "isto porque precisamos aumentar a renda no campo e o País não suporta mais o vergonhoso êxodo rural".

Todos sabem que uma nação não será suficientemente forte se contar com uma agricultura fraca. Comentou-se, certa feita, com abundância de pormenores, estar o Brasil na iminência de representar o papel de autêntico celeiro do mundo, levando em conta os recursos invejáveis proporcionados pela natureza ao País. Ironicamente, no entanto, a cada dia que passa, as condições de trabalho no campo pioram de maneira dramática. Tudo se realiza entre nós na base da improvisação ou do chutômetro. De há muito, por exemplo, o Estado de São Paulo se transformou em imenso canavial, ficando a população paulista na dependência da produção de alimentos de outros Estados.

Muito se tem falado a respeito da reforma agrária, chegando inclusive o saudoso presidente Tancredo Neves a criar um ministério próprio para a implantação de medidas adequadas nesse setor. O certo é que pouco ou nada se fez de prático nesse sentido, a não ser o confronto generalizado entre trabalhadores rurais e proprietários de terras, levando apreensões e provocando mortes em tantas regiões. Aliás, fica realmente um tanto difícil o propósito de fixar o homem no campo, quando os centros urbanos oferecem toda a sorte de vantagens e atrativos. Existe muita gente por aí pensando que a simples entrega de um pedaço de terra a qualquer cidadão é o suficiente para encher de vez a panela de alimentos dos brasileiros.

O novo ministro está anunciando farta e generosa ajuda ao setor agrícola. Serão liberados ainda neste mês cerca de Cr$ 14 bilhões para o custeio das atividades desenvolvidas no campo. Vamos aguardar pois nesta época de "vacas magras", de escassez de dinheiro, como se processará a distribuição de tantas benesses e regalias.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular em 7 de abril de 1990)



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