Benesses para o campo
Pedro J. Bondaczuk
Foi muito concorrida em
Brasília a posse do pecuarista Antônio Cabrera Mano Filho, no
comando da pasta da Agricultura. Apesar do informe de não pertencer
ao movimento da UDR, como se chegou a anunciar, cerca de mil pessoas
compareceram àquela solenidade, no geral todas elas ligadas às
atividades do campo. Houve não só a presença de tratores, mas
também se notou junto ao edifício do ministério um caminhão
carregado de bois, numa demonstração evidente de apoio político ao
novo titular daquela importante pasta ministerial.
Assinalou o novo ministro, em
seu discurso de posse, o detalhe de que a democracia, no atual
governo do presidente Fernando Collor de Mello, chegou ao campo,
prometendo desde já a introdução de muitas inovações na política
agrícola, até porque, como disse, estamos no início da década do
cooperativismo. Também foi muito claro na afirmativa de que a
reforma agrária será meta prioritária deste governo, "isto
porque precisamos aumentar a renda no campo e o País não suporta
mais o vergonhoso êxodo rural".
Todos sabem que uma nação
não será suficientemente forte se contar com uma agricultura fraca.
Comentou-se, certa feita, com abundância de pormenores, estar o
Brasil na iminência de representar o papel de autêntico celeiro do
mundo, levando em conta os recursos invejáveis proporcionados pela
natureza ao País. Ironicamente, no entanto, a cada dia que passa, as
condições de trabalho no campo pioram de maneira dramática. Tudo
se realiza entre nós na base da improvisação ou do chutômetro. De
há muito, por exemplo, o Estado de São Paulo se transformou em
imenso canavial, ficando a população paulista na dependência da
produção de alimentos de outros Estados.
Muito se tem falado a respeito
da reforma agrária, chegando inclusive o saudoso presidente Tancredo
Neves a criar um ministério próprio para a implantação de medidas
adequadas nesse setor. O certo é que pouco ou nada se fez de prático
nesse sentido, a não ser o confronto generalizado entre
trabalhadores rurais e proprietários de terras, levando apreensões
e provocando mortes em tantas regiões. Aliás, fica realmente um
tanto difícil o propósito de fixar o homem no campo, quando os
centros urbanos oferecem toda a sorte de vantagens e atrativos.
Existe muita gente por aí pensando que a simples entrega de um
pedaço de terra a qualquer cidadão é o suficiente para encher de
vez a panela de alimentos dos brasileiros.
O novo ministro está
anunciando farta e generosa ajuda ao setor agrícola. Serão
liberados ainda neste mês cerca de Cr$ 14 bilhões para o custeio
das atividades desenvolvidas no campo. Vamos aguardar pois nesta
época de "vacas magras", de escassez de dinheiro, como se
processará a distribuição de tantas benesses e regalias.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular em 7 de abril de 1990)
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