Prevenindo a tormenta
Pedro
J. Bondaczuk
A
cada vez mais possível deflagração de uma guerra no Golfo Pérsico,
que já tem até uma data marcada para começar, a próxima
terça-feira, embora seus primeiros tiros não sejam necessariamente
disparados nesse dia, tende a acentuar ainda mais o sofrimento dos
brasileiros, que está muito distante de ser pequeno.
Quem
admitiu isso foi a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, e
nem seria necessário que ela fizesse tal advertência. A própria
lógica indica que conflitos dessa natureza, numa região tão
importante para o mundo, não costumam deixar ninguém de fora.
Há,
todavia, caminhos mais suaves para uma travessia, senão segura, pelo
menos não tão traumática por essa tormenta. Para isso, existem
duas palavras chaves, duas atitudes prudentes, para as quais todos,
governantes e governados, deveriam atentar: austeridade e união.
Nunca
o governo precisou antes ser tão austero quanto numa circunstância
como a que se desenha. Os recursos brasileiros, já bastante escassos
para fazer frente a todas as necessidades, especialmente sociais,
certamente tendem a se tornar ainda menores.
As
despesas com importação de petróleo podem triplicar em relação
aos gastos atuais. O saldo da balança comercial começa a cair
vertiginosamente e não será possível sequer cogitar em qualquer
dinheiro proveniente do exterior.
Análises
feitas por vários economistas e institutos econômicos, projetando o
que pode ocorrer no País no caso de acontecer uma guerra no Golfo,
divergem nos números, mas concordam na previsão de que tanto a
inflação, quanto a recessão, vão se agravar.
Mas
esta dobradinha perversa pode ser frustrada caso o governo controle,
com a máxima responsabilidade e austeridade possíveis suas contas,
gastando estritamente nos limites da arrecadação. Outro fator que
contribuirá para que a crise não se agrave tanto será um
indispensável espírito de união nacional.
A
sociedade, sem que haja necessidade alguma para pânico, precisa se
conscientizar da gravidade deste momento. Os diversos setores
sociais, sob pena de desagregação, têm que deixar de lado as
diferenças, mesmo que estas sejam apenas adiadas, e se concentrar
nos interesses comuns, se tornando aliados, ao invés de
antagonistas.
Se
o País agir com prudência, se houver espírito de sacrifício da
parte daqueles que ainda podem se sacrificar, que são pouquíssimos,
o Brasil atravessará 1991 sem maiores problemas. Ficará fortalecido
para ser mais competitivo num novo cenário mundial, que se prevê
extremamente problemático, especialmente se a guerra não for tão
rápida quanto todos estão esperando que seja, que vai emergir deste
estúpido conflito.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de
janeiro de 1991).
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