Monday, August 13, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Prevenindo a tormenta


Prevenindo a tormenta



Pedro J. Bondaczuk

A cada vez mais possível deflagração de uma guerra no Golfo Pérsico, que já tem até uma data marcada para começar, a próxima terça-feira, embora seus primeiros tiros não sejam necessariamente disparados nesse dia, tende a acentuar ainda mais o sofrimento dos brasileiros, que está muito distante de ser pequeno.

Quem admitiu isso foi a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, e nem seria necessário que ela fizesse tal advertência. A própria lógica indica que conflitos dessa natureza, numa região tão importante para o mundo, não costumam deixar ninguém de fora.

Há, todavia, caminhos mais suaves para uma travessia, senão segura, pelo menos não tão traumática por essa tormenta. Para isso, existem duas palavras chaves, duas atitudes prudentes, para as quais todos, governantes e governados, deveriam atentar: austeridade e união.

Nunca o governo precisou antes ser tão austero quanto numa circunstância como a que se desenha. Os recursos brasileiros, já bastante escassos para fazer frente a todas as necessidades, especialmente sociais, certamente tendem a se tornar ainda menores.

As despesas com importação de petróleo podem triplicar em relação aos gastos atuais. O saldo da balança comercial começa a cair vertiginosamente e não será possível sequer cogitar em qualquer dinheiro proveniente do exterior.

Análises feitas por vários economistas e institutos econômicos, projetando o que pode ocorrer no País no caso de acontecer uma guerra no Golfo, divergem nos números, mas concordam na previsão de que tanto a inflação, quanto a recessão, vão se agravar.

Mas esta dobradinha perversa pode ser frustrada caso o governo controle, com a máxima responsabilidade e austeridade possíveis suas contas, gastando estritamente nos limites da arrecadação. Outro fator que contribuirá para que a crise não se agrave tanto será um indispensável espírito de união nacional.

A sociedade, sem que haja necessidade alguma para pânico, precisa se conscientizar da gravidade deste momento. Os diversos setores sociais, sob pena de desagregação, têm que deixar de lado as diferenças, mesmo que estas sejam apenas adiadas, e se concentrar nos interesses comuns, se tornando aliados, ao invés de antagonistas.

Se o País agir com prudência, se houver espírito de sacrifício da parte daqueles que ainda podem se sacrificar, que são pouquíssimos, o Brasil atravessará 1991 sem maiores problemas. Ficará fortalecido para ser mais competitivo num novo cenário mundial, que se prevê extremamente problemático, especialmente se a guerra não for tão rápida quanto todos estão esperando que seja, que vai emergir deste estúpido conflito.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de janeiro de 1991).


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