Falta continuidade
Pedro
J. Bondaczuk
O Plano
Collor, que atropelou a sociedade em 16 de março de 1990, foi
cantado e decantado, em verso e prosa, como a solução para todos os
problemas econômicos brasileiros e considerado absolutamente
“imexível” – neologismo consagrado pelo ministro do Trabalho,
Rogério Magri – pelos seus autores.
Todavia,
com menos de um ano de execução, eis que está sendo deixado de
lado, substituído por outro pacote. A ministra da Economia, Zélia
Cardoso de Mello, nega que o programa original esteja sendo
abandonado. Argumenta que as medidas anunciadas na quinta-feira, são
simples complementações do plano original, que vinha fazendo água
por todos os lados, prestes a naufragar.
Muitos
economistas, todavia, discordam. E preveem que as mudanças
econômicas serão impotentes para conter o ritmo inflacionário. Um
dos que não acreditam na eficácia do novo programa é o coordenador
do cálculo do índice da Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas da Universidade de São Paulo, Juarez Rizzieri.
Ele
vai mais longe e alerta para a iminência de uma hiperinflação a
curto prazo, aliada a um processo muito mais perverso, a
hiperrecessão. Tomara, porém, que ele não esteja certo, para o bem
de todos. O sucesso ou fracasso do plano não é uma preocupação
que deva ser apenas do governo ou dos políticos. Nem somente dos que
elegeram o presidente Fernando Collor.
É
a vida de cada brasileiro que está em jogo, com sua qualidade sendo
afetada na medida em que se consiga ou não a retomada do
desenvolvimento, sem que o monstro inflacionário siga levando os
esforços de cada um ao absoluto desperdício.
Os
economistas do governo precisam se conscientizar de que não estão
lidando apenas com frios números e com complicadas teorias
econômicas, mas com destinos de pessoas, na hora de tomarem suas
decisões. Trata-se de uma responsabilidade muito séria, que não
admite erros.
Uma
falha pode comprometer o futuro, muitas vezes de maneira
irreversível, de milhões de cidadãos. Este tipo de alerta não é
novo e nem somente brasileiro. O escritor inglês do século XIX,
Walter Bagheot, já constatava naquela ocasião, no Reino Unido: “Os
economistas políticos britânicos não falam de homens reais, mas de
pessoas imaginárias – não de homens como nós os vemos, mas de
homens inventados para a conveniência do poder”.
Talvez
tivesse sido por causa dessa insensibilidade que o escritor Lawrence
J. Peter tenha desabafado: “Um economista é um especialista que
saberá amanhã porque as coisas que previu ontem não aconteceram
hoje”. É bem o caso brasileiro da atualidade.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de
fevereiro de 1991).
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