Thursday, August 09, 2018

CRÔNICA DO DIA - Crer para agir


Crer para agir


Pedro J. Bondaczuk


As pessoas carentes de fé deixam de usufruir de uma imensa fonte de forças, ao dispor de todos nós, para realizar o que pretendem na vida. Ao não acreditarem no sucesso de suas ações, deixam de crer, principalmente, nas próprias possibilidades e potenciais. Descrentes, não conseguem trazer à tona os imensos poderes que certamente têm em seu interior, e que nem mesmo sabem (nunca procuraram saber), ou intuem, que possuam. E nem poderiam. Não acreditam neles!!!

Quero deixar claro que quando me refiro a fé, não estou me reportando à crença religiosa. Não discuto religião com ninguém, e nem por decreto, por não estar habilitado a tanto e por respeitar crenças e opiniões alheias, por mais estapafúrdias que pareçam ou de fato sejam. Teologia, deixo bem claro, não é minha especialidade. Ademais, minhas convicções pessoais, a propósito, prefiro manter distantes de olhares indiscretos (ou mesmo discretos, não importa).

À menor frustração, quem é cético empedernido entrega-se ao desânimo, ao desencanto e à inércia e, não raro, se anula. Não tem a que se apegar. Não acredita em nada e ninguém e, principalmente, em si próprio. Charles Templeton nos lembra que “há em nós capacidades e poderes que estão além da nossa compreensão. A fé pode trazer-nos sabedoria para perceber o que podemos fazer e força para fazê-lo”. Claro que é essencial separar o joio do trigo. Ou seja, distinguir fé genuína e eficaz da mera superstição, fruto de imensa e primitiva ignorância.

Carl Sagan, em “O mundo assombrado por demônios” (1996), trata a respeito. Adverte sobre as vantagens (e elas existem) e desvantagens (que são muitas) do ceticismo. Um pouquinho dele é salutar e desejável. Mas note bem, só um pouquinho. É o que chamamos de “senso crítico”. Contudo, o ceticismo tem que ser na medida certa. O difícil é conhecer qual ela é. Complicado é saber os limites do exagero, tanto para mais, quanto para menos.

Sagan destaca, no aludido livro: ”Se somos apenas céticos, as novas ideias não conseguem penetrar em nossa mente. Nunca aprendemos nada. Se somos tão abertos a ponto de ser crédulos, não podemos distinguir as ideias promissoras das que pouco valem. Aceitar acriticamente toda noção, ideia e hipótese professada, equivale a não conhecer nada. As ideias se contradizem umas às outras; somente pelo exame cético podemos decidir entre elas”. Mas... Sem exagerar na dose, aduzo e reitero.

A fé, ao contrário do que afirmam os céticos empedernidos (aqueles a que me referi como exagerados na dose), gera sabedoria. É preciso, sobretudo, acreditar em alguma coisa, antes de procurar conhecê-la. Se sequer acreditarmos na sua existência, não buscaremos, é óbvio, jamais, chegar às suas raízes e fundamentos. Claro que essa crença tem que ser racional, posto que tudo no universo tem lógica (embora muitos achem que não) e se prende a inflexíveis leis naturais.

Temos, em algum momento da vida, súbito lampejo de sabedoria, que varia em intensidade e duração e de pessoa para pessoa. Cada um tem sua realidade e seu quinhão variável de capacidade. Alguns esmeram-se em buscar detalhes dessa centelha, estudam, pesquisam, perquirem e leem e se tornam sábios. A maioria, porém, fica comodamente à espera de novos lampejos, que acabam nunca vindo. Perdem, assim, a oportunidade de chegar à fonte da sabedoria.

Ressalte-se que saber não implica, necessariamente, em conhecer, embora seja o princípio do conhecimento. Trata-se da informação bruta sobre um fato, conceito ou coisa, sem o devido detalhamento. Só o estudo, a meditação, o raciocínio e a leitura nos levam à plenitude do conhecimento, em princípio acessível a todos, mas que poucos conseguem obter. Henry David Thoreau observa a esse propósito, num dos seus mais famosos ensaios: “A sabedoria não chega aos espíritos em detalhes; ela viaja nos lampejos da luz celeste”. Para agir, que é o que importa, por resultar em obras e consequências, reitero, é condição sine qua non acreditar.

Queiram ou não, a ação é sempre um ato de fé. Já escrevi inúmeras vezes a esse propósito, pode parecer que estou sendo repetitivo (e estou mesmo), mas nunca é demais reiterar. A reiteração tende a fixar na mente conceitos que convém ter plena ciência.

A ação é, sobretudo, fruto da crença em nossas forças, nossa capacidade e nossa criatividade. Não se age, convenhamos, quando não se acredita nos efeitos da ação, ou seja, nos resultados positivos dela. A menos, é verdade, que se esteja sob irresistível pressão, premido pelas circunstâncias, com risco iminente à integridade física, quando não à vida e, por isso, em sérios apuros.

Essa situação, porém, é diferente. Não se trata, propriamente, de ação, mas de “reação” a determinado perigo ou circunstância. Agir é sempre contar com a iniciativa. É atuar espontaneamente, sem que nada e ninguém nos induzam a essa atuação. É fazer o que tem quer ser feito à nossa maneira e no tempo que julgarmos apropriado para tal. E essa iniciativa só temos quando acreditamos nos resultados que irão decorrer da nossa ação. Ninguém se esforça para perder propositalmente. A derrota pode acontecer, mas se ocorrer, será à nossa revelia. É como afirmou, com toda a pertinência, o escritor Romain Rolland: “Agir é acreditar!”. E acreditar... é ter fé, logicamente.


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