Crer
para agir
Pedro J. Bondaczuk
As pessoas carentes de fé deixam de usufruir de uma imensa fonte de
forças, ao dispor de todos nós, para realizar o que pretendem na
vida. Ao não acreditarem no sucesso de suas ações, deixam de crer,
principalmente, nas próprias possibilidades e potenciais.
Descrentes, não conseguem trazer à tona os imensos poderes que
certamente têm em seu interior, e que nem mesmo sabem (nunca
procuraram saber), ou intuem, que possuam. E nem poderiam. Não
acreditam neles!!!
Quero deixar claro que quando me refiro a fé, não estou me
reportando à crença religiosa. Não discuto religião com ninguém,
e nem por decreto, por não estar habilitado a tanto e por respeitar
crenças e opiniões alheias, por mais estapafúrdias que pareçam ou
de fato sejam. Teologia, deixo bem claro, não é minha
especialidade. Ademais, minhas convicções pessoais, a propósito,
prefiro manter distantes de olhares indiscretos (ou mesmo discretos,
não importa).
À menor frustração, quem é cético empedernido entrega-se ao
desânimo, ao desencanto e à inércia e, não raro, se anula. Não
tem a que se apegar. Não acredita em nada e ninguém e,
principalmente, em si próprio. Charles Templeton nos lembra que “há
em nós capacidades e poderes que estão além da nossa compreensão.
A fé pode trazer-nos sabedoria para perceber o que podemos fazer e
força para fazê-lo”. Claro que é essencial separar o joio do
trigo. Ou seja, distinguir fé genuína e eficaz da mera superstição,
fruto de imensa e primitiva ignorância.
Carl Sagan, em “O mundo assombrado por demônios” (1996), trata a
respeito. Adverte sobre as vantagens (e elas existem) e desvantagens
(que são muitas) do ceticismo. Um pouquinho dele é salutar e
desejável. Mas note bem, só um pouquinho. É o que chamamos de
“senso crítico”. Contudo, o ceticismo tem que ser na medida
certa. O difícil é conhecer qual ela é. Complicado é saber os
limites do exagero, tanto para mais, quanto para menos.
Sagan destaca, no aludido livro: ”Se somos apenas céticos, as
novas ideias não conseguem penetrar em nossa mente. Nunca aprendemos
nada. Se somos tão abertos a ponto de ser crédulos, não podemos
distinguir as ideias promissoras das que pouco valem. Aceitar
acriticamente toda noção, ideia e hipótese professada, equivale a
não conhecer nada. As ideias se contradizem umas às outras; somente
pelo exame cético podemos decidir entre elas”. Mas... Sem exagerar
na dose, aduzo e reitero.
A fé, ao contrário do que afirmam os céticos empedernidos (aqueles
a que me referi como exagerados na dose), gera sabedoria. É preciso,
sobretudo, acreditar em alguma coisa, antes de procurar conhecê-la.
Se sequer acreditarmos na sua existência, não buscaremos, é óbvio,
jamais, chegar às suas raízes e fundamentos. Claro que essa crença
tem que ser racional, posto que tudo no universo tem lógica (embora
muitos achem que não) e se prende a inflexíveis leis naturais.
Temos, em algum momento da vida, súbito lampejo de sabedoria, que
varia em intensidade e duração e de pessoa para pessoa. Cada um tem
sua realidade e seu quinhão variável de capacidade. Alguns
esmeram-se em buscar detalhes dessa centelha, estudam, pesquisam,
perquirem e leem e se tornam sábios. A maioria, porém, fica
comodamente à espera de novos lampejos, que acabam nunca vindo.
Perdem, assim, a oportunidade de chegar à fonte da sabedoria.
Ressalte-se que saber não implica, necessariamente, em conhecer,
embora seja o princípio do conhecimento. Trata-se da informação
bruta sobre um fato, conceito ou coisa, sem o devido detalhamento.
Só o estudo, a meditação, o raciocínio e a leitura nos levam à
plenitude do conhecimento, em princípio acessível a todos, mas que
poucos conseguem obter. Henry David Thoreau observa a esse propósito,
num dos seus mais famosos ensaios: “A sabedoria não chega aos
espíritos em detalhes; ela viaja nos lampejos da luz celeste”.
Para agir, que é o que importa, por resultar em obras e
consequências, reitero, é condição sine qua non acreditar.
Queiram ou não, a ação é sempre um ato de fé. Já escrevi
inúmeras vezes a esse propósito, pode parecer que estou sendo
repetitivo (e estou mesmo), mas nunca é demais reiterar. A
reiteração tende a fixar na mente conceitos que convém ter plena
ciência.
A ação é, sobretudo, fruto da crença em nossas forças, nossa
capacidade e nossa criatividade. Não se age, convenhamos, quando não
se acredita nos efeitos da ação, ou seja, nos resultados positivos
dela. A menos, é verdade, que se esteja sob irresistível pressão,
premido pelas circunstâncias, com risco iminente à integridade
física, quando não à vida e, por isso, em sérios apuros.
Essa situação, porém, é diferente. Não se trata, propriamente,
de ação, mas de “reação” a determinado perigo ou
circunstância. Agir é sempre contar com a iniciativa. É atuar
espontaneamente, sem que nada e ninguém nos induzam a essa atuação.
É fazer o que tem quer ser feito à nossa maneira e no tempo que
julgarmos apropriado para tal. E essa iniciativa só temos quando
acreditamos nos resultados que irão decorrer da nossa ação.
Ninguém se esforça para perder propositalmente. A derrota pode
acontecer, mas se ocorrer, será à nossa revelia. É como afirmou,
com toda a pertinência, o escritor Romain Rolland: “Agir é
acreditar!”. E acreditar... é ter fé, logicamente.
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