Figurino deformado
Pedro
J. Bondaczuk
O figurino
monetarista ortodoxo, por trás do Plano Collor, certamente não está
sendo seguido à risca em sua execução, pois do contrário a taxa
de inflação já teria cedido, ou pelo menos estacionado. É
possível que ainda haja muita gordura, em termos de moeda, na praça,
em decorrência da chamada economia informal, aquela que não aparece
nos registros oficiais, mas existe de fato, cuja extensão nunca foi
delimitada por ninguém.
Nunca
se soube de um enxugamento monetário tão acentuado quanto o posto
em prática pela atual equipe econômica. Mesmo assim, o dinheiro
continua aparecendo em quantidade suficiente para cobrir as elevações
de preços que ocorrem.
A
hipótese mais provável é a de que o governo do presidente Fernando
Collor não está fazendo a sua parte na eliminação do déficit
público, a despeito de divulgar saldos superavitários, e que, para
cobrir os rombos, continua emitindo. Conceitualmente, inflação é a
emissão monetária sem o correspondente lastro em riquezas.
Na
questão da redução das despesas governamentais, por outro lado, há
um fator muito importante a se considerar. Dados demonstram o
gigantismo da máquina administrativo-burocrática estatal, que
consome em salários a maior parte do que é arrecadado.
As
regras econômicas preveem que nestes casos o caminho óbvio seria o
da redução de pessoal. Defender tal diminuição é fácil, quando
não se é um desses funcionários potencialmente disponíveis. Mas
para que se faça uma dispensa em massa, é indispensável que o
setor privado esteja apto a absorver essa mão de obra excedente, sob
pena da ocorrência de um caos social.
Suponha-se
que 100 mil pessoas de um determinado setor do governo sejam
dispensadas. Politicamente, isto será um desastre, já que as
estatísticas de desemprego irão crescer de imediato. Além disso,
há o fator humano. Serão cem mil famílias que ficarão sem sua
fonte de renda.
A
inexistência desses salários, por outro lado, afetará, de saída,
o comércio, a indústria e o ramo de prestação de serviços. É
possível que então, em decorrência da queda de demanda, os preços
caiam. Mas não existe uma certeza. Nesta questão da inflação há
uma dúvida semelhante àquela famosa, acerca de quem nasceu
primeiro, o ovo ou a galinha.
Nenhum
economista é capaz de dizer com certeza se é a emissão de moeda
que determina a elevação dos preços ou se essa alta é que leva as
autoridades a emitirem sem existência de lastro. De qualquer forma,
pelo comportamento inflacionário detectado por todos os institutos
que se dedicam à medição das taxas, fica claro que algo não está
funcionando no Plano Collor, apresentado à sociedade como uma
panaceia para todos os males econômicos brasileiros.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio popular, em 27 de
janeiro de 1991).
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