O tamanho da recessão
Pedro J. Bondaczuk
A nova escalada inflacionária
que está se verificando no País suscitou uma sucessão de dúvidas
na sociedade, deixando apenas uma certeza, e por sinal nada cômoda:
a recessão econômica vai se agravar. Variam as previsões acerca da
intensidade que ela irá adquirir.
Há discordâncias quanto aos
efeitos que o processo recessivo causará na economia. Mas é
consensual, no governo e na iniciativa privada, que ela se tornará
mais aguda. Entre as dúvidas existentes está a que se refere ao
Plano Collor. Acerca de, se ele está ou não "fazendo água",
como um barco com risco de naufrágio.
O secretário de Política
Econômica, Antonio Kandir, garantiu, em entrevista à televisão,
que o programa de combate à inflação é absolutamente correto.
A mesma garantia havia sido
dada pelo ministra Zélia Cardoso de Mello e pelo presidente do Banco
Central, Ibrahim Eris. Todos foram unânimes em afirmar que a
elevação atual das taxas inflacionárias é fruto do choque do
petróleo determinado pela crise do Golfo Pérsico, que elevou, da
noite para o dia, como que numa diabólica mágica, o preço dessa
matéria-prima de US$ 18 o barril em 31 de julho para os atuais US$
35, com perspectivas nada cômodas para quem depende da importação
do produto.
A equipe econômica do governo
garante que já na segunda quinzena de dezembro o impacto externo
estará absorvido e o índice de inflação começará a baixar.
Uma considerável corrente de
economistas, todavia, alerta para o risco de uma recessão
premeditada. É verdade que eles não são infalíveis. Muito pelo
contrário… Aliás, sobre essa constância em errar prognósticos,
o escritor Laurence J. Peter, inclusive, tem uma definição bem
humorada, mas que não foge muito da realidade.
Ele escreveu, a tal propósito:
"Um economista é um especialista que saberá amanhã porque as
coisas que previu ontem não aconteceram hoje". Mas isto vale,
igualmente, para a equipe econômica do governo. Sulamis Dain, da
Faculdade de Economia da Universidade do Rio de Janeiro explicou, em
recente entrevista à imprensa, que o País não tem estruturas de
proteção social para absorver o aumento de pobreza gerada pela
atual política de combate à inflação.
Como sempre, os técnicos
raciocinam em termos de números, de modelos, de fórmulas, mas não
levam em conta o homem. Esquecem-se de que uma decisão sua pode
mudar, por completo, para melhor ou para pior, a vida de milhares, às
vezes milhões de seres humanos.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de novembro de 1990).
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