Monday, August 27, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - O tamanho da recessão


O tamanho da recessão


Pedro J. Bondaczuk


A nova escalada inflacionária que está se verificando no País suscitou uma sucessão de dúvidas na sociedade, deixando apenas uma certeza, e por sinal nada cômoda: a recessão econômica vai se agravar. Variam as previsões acerca da intensidade que ela irá adquirir.

Há discordâncias quanto aos efeitos que o processo recessivo causará na economia. Mas é consensual, no governo e na iniciativa privada, que ela se tornará mais aguda. Entre as dúvidas existentes está a que se refere ao Plano Collor. Acerca de, se ele está ou não "fazendo água", como um barco com risco de naufrágio.

O secretário de Política Econômica, Antonio Kandir, garantiu, em entrevista à televisão, que o programa de combate à inflação é absolutamente correto.

A mesma garantia havia sido dada pelo ministra Zélia Cardoso de Mello e pelo presidente do Banco Central, Ibrahim Eris. Todos foram unânimes em afirmar que a elevação atual das taxas inflacionárias é fruto do choque do petróleo determinado pela crise do Golfo Pérsico, que elevou, da noite para o dia, como que numa diabólica mágica, o preço dessa matéria-prima de US$ 18 o barril em 31 de julho para os atuais US$ 35, com perspectivas nada cômodas para quem depende da importação do produto.

A equipe econômica do governo garante que já na segunda quinzena de dezembro o impacto externo estará absorvido e o índice de inflação começará a baixar.

Uma considerável corrente de economistas, todavia, alerta para o risco de uma recessão premeditada. É verdade que eles não são infalíveis. Muito pelo contrário… Aliás, sobre essa constância em errar prognósticos, o escritor Laurence J. Peter, inclusive, tem uma definição bem humorada, mas que não foge muito da realidade.

Ele escreveu, a tal propósito: "Um economista é um especialista que saberá amanhã porque as coisas que previu ontem não aconteceram hoje". Mas isto vale, igualmente, para a equipe econômica do governo. Sulamis Dain, da Faculdade de Economia da Universidade do Rio de Janeiro explicou, em recente entrevista à imprensa, que o País não tem estruturas de proteção social para absorver o aumento de pobreza gerada pela atual política de combate à inflação.

Como sempre, os técnicos raciocinam em termos de números, de modelos, de fórmulas, mas não levam em conta o homem. Esquecem-se de que uma decisão sua pode mudar, por completo, para melhor ou para pior, a vida de milhares, às vezes milhões de seres humanos.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de novembro de 1990).



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