Wednesday, August 15, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Mercosul sai do papel


Mercosul sai do papel


Pedro J. Bondaczuk


O Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul), finalmente, parece que vai decolar, após a assinatura, na sexta-feira, em Buenos Aires, do acordo que irá permitir a união aduaneira na região, a partir de janeiro de 1995. O documento é fundamental para essa decolagem, que vai integrar Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, que juntos geram bens e serviços num total de US$ 750 bilhões. Ou seja, uma área de 12 milhões de quilômetros quadrados, com uma população de mais de 200 milhões de habitantes.

Mercado, portanto, que certamente desperta a cobiça do mundo inteiro. Parece que, finalmente, após marchas e contramarchas, concordâncias e desacordos e sobretudo fracassos de tentativas anteriores, brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios perceberam o óbvio.

Concluíram que separados serão sempre presas fáceis dos grandes blocos econômicos já consolidados e que, unidos, poderão crescer, gerar empregos e criar recursos para resolver seus imensos problemas sociais.

Dividir povos não é uma tarefa difícil. Basta uma pequena desavença, um incidente tolo ou o simples preconceito para que isso ocorra. Verificamos tal divisionismo a todo momento, pelas razões mais estranhas e insensatas.

Unir esforços para conquistar objetivos comuns é que se torna mais complicado. Nacionalismos exacerbados e interesses menores, em geral, atrapalham essa integração. Mesmo a União Europeia caminha a passos de tartaruga, embora seja a experiência integracionista de maior sucesso dos nossos tempos.

O Nafta, o mercado comum unindo Estados Unidos, Canadá e México, que vigora desde o primeiro dia deste ano, ainda encontra adversários ferrenhos nos três países que o integram. As razões são as de sempre. Daí esse primeiro passo efetivo para tirar o Mercosul do papel, dado na sexta-feira, pelos presidentes Carlos Menem, da Argentina, Itamar Franco, do Brasil; Luís Alberto Lacalle, do Uruguai e Juan Carlos Wasmosy, do Paraguai, revestir-se de um significado especial.

Caso não ocorram recuos --- e presume-se que estes não virão a acontecer e que o bom senso prevaleça --- a data vai se constituir, certamente, num marco da integração de uma das regiões do Planeta de maior potencial e que, por falta de visão de líderes que enfatizaram suas pequenas diferenças, ao invés de investir nas enormes identidades, vive em permanente estado de crise.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de agosto de 1994).

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