Mercosul sai do papel
Pedro J. Bondaczuk
O Mercado Comum do Cone Sul
(Mercosul), finalmente, parece que vai decolar, após a assinatura,
na sexta-feira, em Buenos Aires, do acordo que irá permitir a união
aduaneira na região, a partir de janeiro de 1995. O documento é
fundamental para essa decolagem, que vai integrar Brasil, Argentina,
Uruguai e Paraguai, que juntos geram bens e serviços num total de
US$ 750 bilhões. Ou seja, uma área de 12 milhões de quilômetros
quadrados, com uma população de mais de 200 milhões de habitantes.
Mercado, portanto, que
certamente desperta a cobiça do mundo inteiro. Parece que,
finalmente, após marchas e contramarchas, concordâncias e
desacordos e sobretudo fracassos de tentativas anteriores,
brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios perceberam o óbvio.
Concluíram que separados
serão sempre presas fáceis dos grandes blocos econômicos já
consolidados e que, unidos, poderão crescer, gerar empregos e criar
recursos para resolver seus imensos problemas sociais.
Dividir povos não é uma
tarefa difícil. Basta uma pequena desavença, um incidente tolo ou o
simples preconceito para que isso ocorra. Verificamos tal
divisionismo a todo momento, pelas razões mais estranhas e
insensatas.
Unir esforços para conquistar
objetivos comuns é que se torna mais complicado. Nacionalismos
exacerbados e interesses menores, em geral, atrapalham essa
integração. Mesmo a União Europeia caminha a passos de tartaruga,
embora seja a experiência integracionista de maior sucesso dos
nossos tempos.
O Nafta, o mercado comum
unindo Estados Unidos, Canadá e México, que vigora desde o primeiro
dia deste ano, ainda encontra adversários ferrenhos nos três países
que o integram. As razões são as de sempre. Daí esse primeiro
passo efetivo para tirar o Mercosul do papel, dado na sexta-feira,
pelos presidentes Carlos Menem, da Argentina, Itamar Franco, do
Brasil; Luís Alberto Lacalle, do Uruguai e Juan Carlos Wasmosy, do
Paraguai, revestir-se de um significado especial.
Caso não ocorram recuos --- e
presume-se que estes não virão a acontecer e que o bom senso
prevaleça --- a data vai se constituir, certamente, num marco da
integração de uma das regiões do Planeta de maior potencial e que,
por falta de visão de líderes que enfatizaram suas pequenas
diferenças, ao invés de investir nas enormes identidades, vive em
permanente estado de crise.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de agosto de 1994).
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