Como
seria?
Pedro
J. Bondaczuk
A
moderna tecnologia, notadamente a de comunicação – computador,
internet, celular, mp4, IPAD, TV LCD de plasma ou 3D e vai por aí
afora – e não apenas ela, mas também os avanços nos transportes,
vieram a facilitar, em muito, a vida dos escritores. Até aí, eu não
disse nada de novo. Limitei-me a ressaltar o óbvio e sequer fui
original, já que escrevi a respeito um montão de vezes.
Ademais,
todas as engenhocas que citei (e uma infinidade de outras que não
mencionei, mas que ficam implícitas), trouxeram facilidades e
conforto não somente para profissionais do texto, mas para todos.
Claro, esse “todos” é relativo. Refere-se aos que tenham
condições de pagar por tais quinquilharias. Então por que
mencionei especificamente os escritores? Ora, por razões óbvias.
Pelo fato deste espaço ser voltado à literatura e a quem a faz. Só
por isso.
Fico
perguntando cá aos meus botões, nos meus raros momentos de ócio:
como seria a vida, e mais, a obra dos chamados “clássicos”, (já
nem digo das letras mundiais, mas restringindo o âmbito, das
nacionais) se pudessem contar com todos esses equipamentos? O que
Machado de Assis, por exemplo, faria com todos esses recursos
tecnológicos? Como tudo isso influenciaria nos enredos de seus
contos, romances e novelas e na descrição e comportamento de seus
personagens? Sua produção seria a que conhecemos ou se
multiplicaria? Creio piamente nesta segunda hipótese.
Claro
que só posso especular a respeito do que nunca aconteceu e nem pode
(óbvio) acontecer. Mas o campo para a especulação é livre,
irrestrito, vastíssimo, diria infinito, do tamanho da imaginação
de cada um. E a minha, asseguro, não é pequena. Machado de Assis,
com certeza, adquiriria todo esse aparato tecnológico, caso ele
estivesse ao seu dispor. Afinal, era um sujeito tido como “moderno”
já naqueles idos longínquos de metade do século XIX, época em que
as grandes descobertas, que redundaram no mundo que temos diante de
nós hoje, começaram a pipocar umas após outras.
O
Bruxo do Cosme Velho teria, claro, seu computador. E à medida que a
capacidade de memória fosse sendo expandida em novos modelos,
trocaria, amiúde, seu aparelho “velho” por outro mais atualizado
e potente. Disporia de todos os softwares que tivessem algo a ver com
comunicação, como os editores de texto (não sei se o último Corel
disponível, ou se o Indesign, ou se outro qualquer, ainda melhor,
que eu sequer desconfie que exista), entre tantos outros.
Navegaria
com a maior familiaridade na internet e teria, no seu menu de
favoritos, os principais sites e blogs voltados à Literatura (quem
sabe, o Literário ou, até mesmo, para o meu orgulho, o meu
espacinho pessoal cujo nome de fantasia é “O Escrevinhador”?).
Seria, certamente, blogueiro. E nos brindaria, todos os dias, com
alguma crônica ou conto inéditos, novinhos em folha. Seria um luxo!
Será
que Machado de Assis seria “twitteiro”? Desconfio que sim. E qual
seria seu endereço no twitter? @machado? @massis? Não! Creio que
seria mais criativo, Assumiria, de vez, o apelido que seus
admiradores (e só não o admirava ou admira quem fosse ou quem é
analfabeto explícito ou quase, que soubesse ou que saiba somente
juntar as palavras sem entender seu sentido e se limitasse ou se
limite a “desenhar” o nome, classificado por essa razão de
“analfabeto funcional”, que o Brasil teve e tem em profusão).
Quem
aprecia só um tiquinho a leitura (e nem precisa ser “rato de
biblioteca”), já deve ter lido alguma coisa de Machado. E se
leu... será muito burro, ou terá péssimo gosto, se não gostou. E
se leu e apreciou sua escrita, concordará com o apelido dado ao
nosso maior escritor: “Bruxo do Cosme Velho”. Seu endereço no
twitter, portanto, provavelmente, teria relação com esse cognome.
Seria, estou certo, @bruxo. Faz bem o gênero do Machadão.
Já
imaginaram se no tempo em que ele viveu e produziu toda a sua obra já
existisse toda essa parafernália? Capitu judiaria muito mais do
Bentinho do que judiou. Este morreria de ciúmes e jamais acabaria
com a incerteza se era ou não traído. Afinal, veria em seu filho, à
medida que este crescesse, cada vez mais semelhanças com Escobar.
Sua “dissimulada” amada seria mulher moderna, liberada e bem
informada. Trabalharia, possivelmente, como gerente de alguma
multinacional ou de um banco ou coisa que o valha.
No
Carnaval, sairia como rainha da bateria da Mangueira, para deleite
dos sambistas e desgosto de Bentinho, que a vigiaria como uma sombra,
de todas as maneiras que lhe fossem possíveis. Tentaria, por
exemplo, ter acesso aos seus e-mails, para fiscalizá-los e saber se
havia algum suspeito, com texto, digamos, mais tórrido e enviado a
Escobar.
Entraria
no antigo Orkut, no Facebook, no Instagram ou em qualquer outra rede
social, na tentativa de descobrir se o rival integrava os respectivos
círculos de amizade de Capitu. Mas esta manteria a discrição e a
compostura. Permaneceria mais misteriosa e impassível que a
multimilenar Esfinge. E Bentinho? Sofreria o diabo, muitíssimo mais
do que Machado o fez sofrer.
No
mais... cada um de vocês que imagine como seria o comportamento do
Machadão e, por consequência, dos seus milhares de personagens (só
de contos, li mais de 200 que ele escreveu, descrevendo gente de
todos os tipos, perfis e atitudes), caso tivesse acesso a toda esta
parafernália tecnológica que para nós é tão familiar, senão
trivial.
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