Dia do sábio
Pedro J. Bondaczuk
O filósofo Sêneca,
representante do estoicismo em Roma, conhecido como “O Moço” –
para distingui-lo do pai, que tinha o mesmo nome – e que, embora
cidadão romano, nasceu em Córdoba, na Espanha, disse, certa feita:
“Um só dia de um
sábio vale mais do que toda a existência de um ignorante”. Embora
se trate de uma frase de efeito, citada amiúde, não concordo (pelo
menos de forma generalizada) com ela. Acho-a, até, um tanto
preconceituosa.
Todo o ser humano tem lá a
sua importância, desde que saiba se fazer útil para si e para a
coletividade. Ademais, não é justo se avaliar uma pessoa apenas
pelo critério da utilidade. Não há dúvida, todavia, que o sábio
é muito importante, sobretudo para a espécie. Presume-se que,
quanto mais viver, maior será o benefício que trará para a
humanidade. Isso, desde que, claro, nunca deixe de criar e difundir
ideias, conceitos, princípios e normas de conduta, enfim, a
sabedoria. Nem todos o fazem.
Mas o
tempo, todo o tempo (não apenas anos, meses, semanas ou dias, mas
até ínfimos segundos) é bastante precioso para qualquer ser
humano, sábio ou ignorante, não importa. O que fizermos com ele
pode determinar nosso sucesso ou fracasso, satisfação ou angústia,
felicidade ou infelicidade. Não raro, porém, o “matamos”, com
atividades que nada nos acrescentam.
Deixamos tarefas que poderiam
ser realizadas com calma, planejamento e requinte para “depois”
e, às vezes, podemos nem ter esse dia seguinte. É possível que a
morte chegue antes, ou que outras tarefas mais urgentes nos ocupem a
atenção e, dessa forma, deixamos de utilizar adequadamente nosso
potencial e de, quem sabe, produzir aquela obra-prima que reside em
nossa mente e que prometemos fazer num vago “amanhã”.
A ambição suprema de todo
ser humano, quer admitamos ou não, é a eternidade, mas numa
condição diferente, ideal, em que não haja dores e nem doenças e
num mundo perfeito, de plena harmonia e paz. Se existe ou não essa
possibilidade, numa outra condição, que não a material, é questão
de fé e não comporta proselitismos.
Quem acredita, continuará
crendo até o fim, e nada e ninguém abalará sua crença. Quem não
crê, é inútil buscar convencê-lo, já que o âmago das pessoas é
interdito e indevassável. Mesmo na condição material, porém, o
homem já é eterno. Seu corpo morre, é verdade, mas não
desaparece: se transforma em outros estados da matéria e permanece,
eternamente, em algum ponto do universo, posto que transformado.
Infelizmente, isso não nos
serve de consolo. Uma questão importante, todavia, se impõe, quando
analisamos o tema do aproveitamento do tempo: Há como se recuperar
de um grande fracasso, desses imensos que nos tornam, aos olhos do
mundo, irremediavelmente derrotados? Há como absorver grandes perdas
pessoais, de parentes, amigos e, principalmente, da pessoa amada? Há
como recuperar o tempo perdido e, em idade relativamente avançada,
fazer o que não se fez na juventude, estudar, cursar uma
universidade e adquirir uma profissão que nos dê prestígio e,
sobretudo, prazer?
A resposta para todas essas
questões é uma só: sim!!! Muitos e muitos já fizeram isso e com
sucesso. Claro que essa recuperação exige perseverança, fé,
autodisciplina e coragem para recomeçar. Enquanto há vida, todavia,
sempre há esperança de um “renascimento” da alma.
Não sou contra a precocidade,
desde que seja natural e espontânea, não forçada pelos pais,
ávidos por se realizar nos filhos. Quanto antes começarmos a viver,
e não nos limitarmos a, meramente, “existir”, mais usufruiremos
das delícias da vida, embora tenhamos que estar atentos para suas
aflições e dores, previsíveis, mas nem sempre inevitáveis.
Claro que sempre há a
possibilidade de recuperarmos qualquer tempo perdido. Enquanto houver
vida, existirá a chance de multiplicar sonhos e concretizá-los. Não
há dúvida, porém, que quem sai na frente, e não se detém no
caminho, tem maiores chances de chegar antes que os demais. A atitude
mais sábia e prudente, porém, é a de saborearmos a vida, sempre,
do primeiro ao derradeiro segundo do tempo que nos for destinado! E,
quanto antes começarmos, melhor! Manda a prudência, por exemplo,
que nos deliciemos com os pratos mais saborosos que houver enquanto
tenhamos dentes para mastigar. Quando não mais os tivermos, esse
prazer nos será interdito ou, no mínimo, incompleto.
O tempo transcorre de forma
sempre igual, no mesmo e inexorável ritmo, de forma imutável, sem a
mínima alteração eternidade afora, embora seu transcurso seja
percebido de maneiras muito diferentes, pelas mais diversas pessoas,
conforme as suas circunstâncias e expectativas.
Para uns, parece passar rápido
demais, como se os relógios que o marcam houvessem enlouquecido, com
cada hora parecendo ter a duração de um reles minuto ou menos. Para
outros, pelo contrário, parece se arrastar, modorrento e longo, de
maneira interminável, com cada dia parecendo durar uma semana.
William Shakespeare fez essa
constatação inteligente, que pôs na boca de um dos seus
personagens, se não me engano na peça “Sonhos de uma noite de
verão”: “O tempo é muito lento para os que esperam, muito
rápido para os que têm medo; muito longo para os que lamentam,
muito curto para os que festejam. Mas, para os que amam, o tempo é
ilimitado”. E não é o que parece?! E é assim tanto para o sábio,
quanto para o ignorante, embora Sêneca não concorde.
No comments:
Post a Comment