Incoerência do pacote
Pedro
J. Bondaczuk
A equipe
econômica do presidente Fernando Collor surpreendeu a maioria dos
brasileiros, anteontem, com o anúncio de um novo plano econômico,
menos profundo do que o de março do ano passado, que tinha um
caráter emergencial para deter a hiperinflação: o 15º colocado em
prática desde o início do regime militar em 1964.
O
programa, como todos os elaborados de cima para baixo, impostos a
poder de decretos – no caso, por uma medida provisória – tem
coisas boas e ruins. O aspecto francamente positivo é a reforma
estrutural na economia brasileira, principalmente no sistema
financeiro.
O
lado incoerente e incompreensível é a reprise de um recurso
francamente desmoralizado, que a ministra Zélia Cardoso de Mello e
seus assessores haviam descartado em inúmeras oportunidades e ao
qual apelaram agora, que é o congelamento de preços e salários.
O
salário pode ser congelado com facilidade, já que permite o
controle. Os preços não. Em um país pequeno como Israel, por
exemplo, não funcionou, e funcionará muito menos no Brasil, com
suas dimensões continentais, pela absoluta falta de condições para
uma fiscalização.
Além
disso, a imposição dessa medida contraria a tão propalada pregação
do governo de que as leis naturais de mercado, e somente elas,
regeriam as transações econômicas. Nos 13 planos anteriores à
subida de Collor ao poder, todos elaborados de cima para baixo – o
primeiro foi o coordenado pelo ex-ministro do Planejamento, Roberto
Campos – buscou-se, como agora, a queda da inflação e a
recuperação do setor produtivo.
O
que se conseguiu? Obteve-se, apenas, o desarranjo total da economia
brasileira, permanentemente engessada pelo excessivo controle
governamental. Além disso, as mudanças frequentes nas regras do
jogo inviabilizam todo e qualquer planejamento sequer de médio
prazo.
Outro
resultado que se teve foi uma inflação acumulada, apenas no período
de 1980 a 1989, de 43.418.000%!! Os salários, por outro lado,
passaram a ser os vilões inflacionários apenas em 1983, sob a
orientação do Fundo Monetário Internacional.
Desde
1964, a política salarial sofreu 12 mudanças, cada uma mais
desastrada do que a outra. Cada tecnocrata que elaborou algum plano
achou que o seu sempre era melhor do que o anterior, de outro colega
de função. Esse procedimento torna muito oportuna a observação do
escritor irlandês George Bernard Shaw, que se celebrizou por suas
críticas ao comportamento da sociedade e dos políticos, quando
disse: “Se todos os economistas fossem colocados em fila circular,
não conseguiriam fechar uma roda porque não concordariam no ponto
onde o círculo começa e onde acaba”.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de
fevereiro de 1991).
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