Brasileiro está otimista
Pedro J. Bondaczuk
A maioria dos brasileiros está
otimista em relação a 1997, em especial na área econômica,
conforme revelou recente pesquisa. Há, é claro, um fator emocional
muito grande nesse resultado. A consulta foi feita no período de
festas, quando as pessoas ficam predispostas a projetar suas
esperanças como sendo possibilidades.
Já empresários e economistas
de várias tendências, mais realistas e objetivos, têm a
expectativa de que a economia do País vá ficar estável em 1997,
praticamente repetindo a performance do ano recém findo.
Preveem inflação anual
acumulada de um único dígito, ao redor dos 7%, e um ligeiro
crescimento econômico, entre 3% e 4%, embora projetem um déficit da
balança comercial entre US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões neste ano.
Esse otimismo ficou implícito
nas várias entrevistas que deram e em artigos que publicaram em
jornais e revistas, uns mais, outros menos, de acordo com as
tendências de cada um. Mas nenhum esperando qualquer "catástrofe",
como uma disparada inflacionária ou o crescimento vertiginoso do
desemprego.
Quase todos admitiram a
possibilidade de haver "turbulências", principalmente em
decorrência do chamado "imposto do cheque", que começa a
ser cobrado já a partir do próximo dia 23, de entraves no Congresso
às reformas constitucionais, notadamente nas administrativa e fiscal
e estancamento nas privatizações, contrariando as intenções do
governo.
Estes obstáculos são o que o
ministro da Fazenda, Pedro Malan, costuma chamar de "demônios"
da economia. Embora não sejam suficientes para desestabilizar o
Plano Real, podem frustrar as expectativas econômicas, notadamente
no que se refere a investimentos e, portanto, ao emprego e ao
crescimento.
Um desses "nós"
pode ser desatado ainda neste mês, ou no mais tardar até março,
que é o da definição em torno da reeleição. Vários empresários
confessaram que estão retardando projetos à espera de que o assunto
seja resolvido o mais rapidamente possível.
Manifestam-se francamente
favoráveis à oportunidade de que o presidente Fernando Henrique
Cardoso possa postular um novo mandato, entendendo que essa seria uma
garantia de que as regras do jogo econômico não sofreriam bruscas
mudanças.
O Congresso, porém, ameaça
fazer suspense em torno da matéria. Políticos governistas garantem
que o Planalto já teria o número de votos necessários para a
aprovação da emenda.
O ex-prefeito de São Paulo,
Paulo Maluf, contesta. O líder pepebista assegurou, na quarta-feira,
durante a posse do seu sucessor Celso Pitta, que a aliança que dá
sustentação ao governo estaria blefando. Diz que tem apenas 250
votos, ou algo ao redor disso, quantidade insuficiente para que a
reeleição seja aprovada.
Quanto às privatizações, as
expectativas do Planalto são de que elas sejam aceleradas em 1997,
arrecadando R$ 10 bilhões em 1997, incluindo a da Vale do Rio Doce,
que tem como opositores "pesos pesados" da política
brasileira, entre os quais os ex-presidentes José Sarney e Itamar
Franco. Objetivamente, é lícito de se esperar no ano desempenho
semelhante a 1996, que não foi ruim.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de janeiro
de 1997).
No comments:
Post a Comment