Thursday, August 23, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Brasileiro está otimista


Brasileiro está otimista


Pedro J. Bondaczuk


A maioria dos brasileiros está otimista em relação a 1997, em especial na área econômica, conforme revelou recente pesquisa. Há, é claro, um fator emocional muito grande nesse resultado. A consulta foi feita no período de festas, quando as pessoas ficam predispostas a projetar suas esperanças como sendo possibilidades.

Já empresários e economistas de várias tendências, mais realistas e objetivos, têm a expectativa de que a economia do País vá ficar estável em 1997, praticamente repetindo a performance do ano recém findo.

Preveem inflação anual acumulada de um único dígito, ao redor dos 7%, e um ligeiro crescimento econômico, entre 3% e 4%, embora projetem um déficit da balança comercial entre US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões neste ano.

Esse otimismo ficou implícito nas várias entrevistas que deram e em artigos que publicaram em jornais e revistas, uns mais, outros menos, de acordo com as tendências de cada um. Mas nenhum esperando qualquer "catástrofe", como uma disparada inflacionária ou o crescimento vertiginoso do desemprego.

Quase todos admitiram a possibilidade de haver "turbulências", principalmente em decorrência do chamado "imposto do cheque", que começa a ser cobrado já a partir do próximo dia 23, de entraves no Congresso às reformas constitucionais, notadamente nas administrativa e fiscal e estancamento nas privatizações, contrariando as intenções do governo.

Estes obstáculos são o que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, costuma chamar de "demônios" da economia. Embora não sejam suficientes para desestabilizar o Plano Real, podem frustrar as expectativas econômicas, notadamente no que se refere a investimentos e, portanto, ao emprego e ao crescimento.

Um desses "nós" pode ser desatado ainda neste mês, ou no mais tardar até março, que é o da definição em torno da reeleição. Vários empresários confessaram que estão retardando projetos à espera de que o assunto seja resolvido o mais rapidamente possível.

Manifestam-se francamente favoráveis à oportunidade de que o presidente Fernando Henrique Cardoso possa postular um novo mandato, entendendo que essa seria uma garantia de que as regras do jogo econômico não sofreriam bruscas mudanças.

O Congresso, porém, ameaça fazer suspense em torno da matéria. Políticos governistas garantem que o Planalto já teria o número de votos necessários para a aprovação da emenda.

O ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, contesta. O líder pepebista assegurou, na quarta-feira, durante a posse do seu sucessor Celso Pitta, que a aliança que dá sustentação ao governo estaria blefando. Diz que tem apenas 250 votos, ou algo ao redor disso, quantidade insuficiente para que a reeleição seja aprovada.

Quanto às privatizações, as expectativas do Planalto são de que elas sejam aceleradas em 1997, arrecadando R$ 10 bilhões em 1997, incluindo a da Vale do Rio Doce, que tem como opositores "pesos pesados" da política brasileira, entre os quais os ex-presidentes José Sarney e Itamar Franco. Objetivamente, é lícito de se esperar no ano desempenho semelhante a 1996, que não foi ruim.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de janeiro de 1997).


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