Como escrever?
Pedro J. Bondaczuk
O ato de escrever, principalmente quando seu objetivo não é o de se
limitar a produzir textos perecíveis, que fiquem “velhos”
praticamente no dia seguinte ao da sua produção, mas que se
conservem sempre atuais, como se fossem escritos no dia em que você
o ler (mesmo que o leia décadas depois de escritos), requer uma
série de aptidões. Uma delas, talvez a principal, é a capacidade
de despertar empatia no leitor, de torná-lo seu cúmplice, de
fazê-lo sentir-se seu parceiro, embora sem o ser, por você ter
redigido exatamente o que ele gostaria de redigir.
A isso, classifico de “astúcia”. Claro que a correção, quer (e
principalmente) a gramatical, é condição sine qua non. Textos
eivados de erros tendem a expô-lo ao ridículo, mesmo que seu
conteúdo seja dos mais ricos e originais.
Você tem que criar um estilo próprio, todo seu, de escrever, de
sorte que quem vier a ler suas produções literárias as
identifiquem de imediato como suas, mesmo que seu nome não apareça
sob o título. Embora não pareça, isso é muito mais difícil do
que o leigo possa supor.
Bom ou mau (não me cabe julgar minha própria produção, até
porque não teria a necessária isenção para fazê-lo), tenho a
minha forma peculiar de redigir. Não temo, por exemplo, assumir
minhas colocações sempre e invariavelmente na primeira pessoa. Há
quem condene essa prática, acusando quem a adota de arrogante,
imodesto, convencido e outros quetais. Bobagem. Entendo que se trate
de manifestação de personalidade, de autoconfiança, de certeza
quanto ao que escreve.
Meus textos (que caracterizo como crônicas, mas que os críticos
juram que são ensaios), têm, todos, no aspecto formal, o mesmíssimo
desenho. São como teoremas de geometria: começam com uma hipótese,
da qual emerge determinada tese, seguida da respectiva demonstração.
São, sobretudo, didáticos (vezo de um professor que, por “n”
razões, conhecidas de todos, se recusou a abraçar o magistério).
Sou uma pessoa sumamente intuitiva e confio sem restrições na minha
intuição. E esta me sugere que, mais dia, menos dia, haverei de me
tornar, se não unanimidade, um escritor bastante requisitado, pelas
ideias que veiculo. Convencimento? Não! Longe disso. É algo
parecido, todavia positivo: é convicção.
Caso não estivesse convicto do meu valor, sequer me aventuraria
neste complicado e não raro frustrante mundo das letras. É provável
que sequer tenha a ventura de testemunhar meu sucesso. Não faz mal.
A probabilidade maior é que ele seja póstumo e aconteça muitos
anos depois da minha partida deste mundo. Tudo bem, submeto-me a mais
esta sacanagem das circunstâncias, se for preciso. Mas quando o
sucesso vier... este texto, que hoje causa espanto em muitos e
irritação nos hipócritas, irá testemunhar o quanto estou convicto
do que faço e dos resultados que hão de advir disso.
O exercício do texto é solitário. Requer isolamento, silêncio e o
que James Joyce classificava de “exílio”. É incompatível,
portanto, com a exposição pessoal continuada, com os aplausos
efêmeros, com a “glorícola” dos incompetentes, mas que se
julgam os tais (há uma infinidade deles por aí). A obra, para se
perpetuar, precisa ter um sem-número de características, entre as
quais, conteúdo sólido e inteligente, passando pela clareza,
concisão, exatidão do que é exposto e originalidade.
Posso, é verdade, ser original pisando as pegadas de outros
escritores. Para isso, porém, preciso descobrir ângulos novos,
inusitados, inexplorados no que já foi cansativamente explorado. Aí
é que está o grande desafio de quem é, verdadeiramente, criativo.
A originalidade, pois, não está no tema a abordar, mas na forma com
que o abordamos.
O meu relativo sucesso de hoje, quando, graças à bendita internet,
já sou lido em pelo menos dez países (conforme pude constatar pelo
Google), será pífio, irrisório, medíocre face ao que pressinto
que possa conseguir num futuro que não sei se será remoto,
remotíssimo ou próximo.
Só peço a Deus a ventura de poder testemunhar pelo menos o início
desse processo, cheio de idas e vindas, de quedas e recuperações
sucessivas, de surpresas maravilhosas e decepções inesperadas. Para
isso, porém, terei que manter autodisciplina, personalidade,
convicção, além de contar com o fator sorte.
É pouco? É muito? Está além da minha capacidade? Não sei! O que
sei é que o essencial, para que minha intuição seja verdadeira e
não mero engodo da vontade e da imaginação (ou seria megalomania?)
é jamais perder a “astúcia”, na hora solitária, dolorida e
tensa em que estiver escrevendo.
No comments:
Post a Comment