Economia fragilizada
Pedro J. Bondaczuk
A crise argentina não dá
trégua, afetando duramente o mercado de câmbio brasileiro e
comprometendo todos os esforços do nosso País para a retomada do
crescimento econômico. O produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que
no começo do ano se previa que iria crescer 4,3%, "talvez"
aumente 2,5% ou, se as coisas continuarem como estão, nem mesmo
isso.
O dólar, por seu turno, já
ultrapassou a barreira psicológica dos R$ 2,50, com tendência de
alta. O Banco Central está se mostrando impotente para deter essa
corrida ascensional. Com isso, produtos importados, ou que tenham
componentes adquiridos no Exterior, estão sofrendo expressivas altas
de preços (combustíveis, pãozinho, massas em geral, etc.etc.etc.),
afetando a inflação.
No receituário neoliberal
parece haver apenas um e único (e amargo), remédio para essa
"doença": elevação da taxa de juros, a níveis cavalares
se preciso for (já estão falando em aumento de até 10 pontos
percentuais na próxima, ou nas próximas reuniões do Copom) para
inibir o consumo e impedir, dessa maneira, o encarecimento dos
gêneros de toda a sorte, em especial os de primeira necessidade. E
que se dane quem vai sofrer as consequências dessa alta! Pelo menos
esse parece ser o raciocínio das autoridades.
Em última instância, juros
tão elevados significam recessão. E esta, por sua vez, representa
desemprego, sofrimento, fome, violência, etc.etc.etc. E,
logicamente, o aumento da indigência no País, que já atinge, de
acordo com recente estudo da Fundação Getúlio Vargas, 49,6 milhões
de brasileiros, ou 29,3% da nossa população. Decididamente, alguma
coisa está errada, e muito, neste modelo em vigor.
Não adiantou o Brasil fazer
direitinho a sua lição de casa, cumprindo rigorosamente o acordo
feito com o Fundo Monetário Internacional há três anos. A nossa
vulnerabilidade externa é imensa e simplesmente escandalosa. Nossa
economia depende, visceralmente, de investimentos externos e de
entrada de dólares, não importa de quais fontes, mesmo que com fins
especulativos. E o que se tem são incertezas, necessidade de
permanente cautela, profunda insegurança e impossibilidade de sequer
pensar em investir no médio prazo. Lamentável!
Superada a atual crise na
Argentina, por exemplo, (o que parece muito difícil, diante dos
obstáculos políticos que se verificam no país vizinho para a
execução dos seguidos pacotes econômicos propostos pelo
controvertido e até folclórico ministro da Economia argentino,
Domingo Cavallo), nada garante que outra, em algum país onde sequer
se suspeite que aja fragilidade, não venha a repetir o mesmo enredo
que os brasileiros estão cansados, esgotados, fartos de ver nos
últimos sete anos: México, Coreia do Sul, Rússia, Malásia,
Indonésia, etc. É muito para a nossa paciência (e nosso bolso).
Até quando o nosso futuro vai estar atrelado aos caprichos de
capitais tão voláteis?!
É verdade que desta vez o
Brasil parece melhor preparado para enfrentar mais esse terremoto
econômico do que em 1998, quando da débacle russa. Naquela
oportunidade, o País mudou seu regime de câmbio, tornando-o
flutuante e à mercê das oscilações do mercado. Muita gente perdeu
fortunas. Muita gente, por seu turno, ganhou rios de dinheiro. "Isso
faz parte do jogo econômico", dirão alguns.
Mas a maioria da população,
que mal tem com que comer, o que ganhou com tudo isso? Talvez alguns
fios a mais de cabelos brancos. Possivelmente uma úlcera gástrica.
Ou, quem sabe, até mesmo um enfarte. E a vida da maioria piorou que
foi uma barbaridade! Não adianta membros do governo virem a público
para dizer que houve esta ou aquela evolução social. Os efeitos
deste tenso e crítico período os brasileiros estão sentindo na
própria carne.
Agora, inclusive, a situação,
potencialmente, é mais perigosa do que em 1998. Junto com o novo
ataque dos especuladores (nacionais e internacionais) ao Real, que
ninguém sabe quando vai parar, o País enfrenta um severo
racionamento de energia elétrica. Trata-se de um fator altamente
limitante do crescimento econômico, pois força as indústrias a
trabalharem menos horas e a produzirem menos, bem como o comércio a
reduzir suas vendas e as empresas prestadoras de serviço a perderem
clientes pelos mesmos motivos.
É evidente que tudo isso está
tendo reflexos, ainda não medidos pelas estatísticas, mas que logo
o serão, sobre o emprego. O primeiro dado sobre o desemprego a ser
divulgado, referente ao mês de junho, o da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), já registrou uma
redução de 0,11% no nível de absorção de mão de obra, no
poderoso parque industrial paulista. O que fazer?
O brasileiro só pode, mesmo,
torcer para que os argentinos, finalmente, se entendam e que os
grandes investidores internacionais, que costumam colocar Argentina e
Brasil no mesmo saco, recuperem a confiança em nós e voltem a
investir, nos dois países. E que São Pedro tenha pena de nós e
antecipe as chuvas, mandando-as com fartura, para nos livrarmos no
temido apagão e pormos fim ao vexatório racionamento de energia
elétrica, provocado pela incompetência administrativa de vários
governos, que não investiram nessa área estratégica e fundamental.
(Editorial da Folha do
Taquaral de 17 de julho de 2001).
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