Tuesday, August 21, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Economia fragilizada


Economia fragilizada

Pedro J. Bondaczuk

A crise argentina não dá trégua, afetando duramente o mercado de câmbio brasileiro e comprometendo todos os esforços do nosso País para a retomada do crescimento econômico. O produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que no começo do ano se previa que iria crescer 4,3%, "talvez" aumente 2,5% ou, se as coisas continuarem como estão, nem mesmo isso.

O dólar, por seu turno, já ultrapassou a barreira psicológica dos R$ 2,50, com tendência de alta. O Banco Central está se mostrando impotente para deter essa corrida ascensional. Com isso, produtos importados, ou que tenham componentes adquiridos no Exterior, estão sofrendo expressivas altas de preços (combustíveis, pãozinho, massas em geral, etc.etc.etc.), afetando a inflação.

No receituário neoliberal parece haver apenas um e único (e amargo), remédio para essa "doença": elevação da taxa de juros, a níveis cavalares se preciso for (já estão falando em aumento de até 10 pontos percentuais na próxima, ou nas próximas reuniões do Copom) para inibir o consumo e impedir, dessa maneira, o encarecimento dos gêneros de toda a sorte, em especial os de primeira necessidade. E que se dane quem vai sofrer as consequências dessa alta! Pelo menos esse parece ser o raciocínio das autoridades.

Em última instância, juros tão elevados significam recessão. E esta, por sua vez, representa desemprego, sofrimento, fome, violência, etc.etc.etc. E, logicamente, o aumento da indigência no País, que já atinge, de acordo com recente estudo da Fundação Getúlio Vargas, 49,6 milhões de brasileiros, ou 29,3% da nossa população. Decididamente, alguma coisa está errada, e muito, neste modelo em vigor.

Não adiantou o Brasil fazer direitinho a sua lição de casa, cumprindo rigorosamente o acordo feito com o Fundo Monetário Internacional há três anos. A nossa vulnerabilidade externa é imensa e simplesmente escandalosa. Nossa economia depende, visceralmente, de investimentos externos e de entrada de dólares, não importa de quais fontes, mesmo que com fins especulativos. E o que se tem são incertezas, necessidade de permanente cautela, profunda insegurança e impossibilidade de sequer pensar em investir no médio prazo. Lamentável!

Superada a atual crise na Argentina, por exemplo, (o que parece muito difícil, diante dos obstáculos políticos que se verificam no país vizinho para a execução dos seguidos pacotes econômicos propostos pelo controvertido e até folclórico ministro da Economia argentino, Domingo Cavallo), nada garante que outra, em algum país onde sequer se suspeite que aja fragilidade, não venha a repetir o mesmo enredo que os brasileiros estão cansados, esgotados, fartos de ver nos últimos sete anos: México, Coreia do Sul, Rússia, Malásia, Indonésia, etc. É muito para a nossa paciência (e nosso bolso). Até quando o nosso futuro vai estar atrelado aos caprichos de capitais tão voláteis?!

É verdade que desta vez o Brasil parece melhor preparado para enfrentar mais esse terremoto econômico do que em 1998, quando da débacle russa. Naquela oportunidade, o País mudou seu regime de câmbio, tornando-o flutuante e à mercê das oscilações do mercado. Muita gente perdeu fortunas. Muita gente, por seu turno, ganhou rios de dinheiro. "Isso faz parte do jogo econômico", dirão alguns.

Mas a maioria da população, que mal tem com que comer, o que ganhou com tudo isso? Talvez alguns fios a mais de cabelos brancos. Possivelmente uma úlcera gástrica. Ou, quem sabe, até mesmo um enfarte. E a vida da maioria piorou que foi uma barbaridade! Não adianta membros do governo virem a público para dizer que houve esta ou aquela evolução social. Os efeitos deste tenso e crítico período os brasileiros estão sentindo na própria carne.

Agora, inclusive, a situação, potencialmente, é mais perigosa do que em 1998. Junto com o novo ataque dos especuladores (nacionais e internacionais) ao Real, que ninguém sabe quando vai parar, o País enfrenta um severo racionamento de energia elétrica. Trata-se de um fator altamente limitante do crescimento econômico, pois força as indústrias a trabalharem menos horas e a produzirem menos, bem como o comércio a reduzir suas vendas e as empresas prestadoras de serviço a perderem clientes pelos mesmos motivos.

É evidente que tudo isso está tendo reflexos, ainda não medidos pelas estatísticas, mas que logo o serão, sobre o emprego. O primeiro dado sobre o desemprego a ser divulgado, referente ao mês de junho, o da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), já registrou uma redução de 0,11% no nível de absorção de mão de obra, no poderoso parque industrial paulista. O que fazer?

O brasileiro só pode, mesmo, torcer para que os argentinos, finalmente, se entendam e que os grandes investidores internacionais, que costumam colocar Argentina e Brasil no mesmo saco, recuperem a confiança em nós e voltem a investir, nos dois países. E que São Pedro tenha pena de nós e antecipe as chuvas, mandando-as com fartura, para nos livrarmos no temido apagão e pormos fim ao vexatório racionamento de energia elétrica, provocado pela incompetência administrativa de vários governos, que não investiram nessa área estratégica e fundamental.


(Editorial da Folha do Taquaral de 17 de julho de 2001).



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