Rumo equivocado
Pedro J. Bondaczuk
O ano de 1999, se não se
constituiu na tragédia, pintada, em cores fortes, no final de 1998,
pelos economistas que são dados a previsões sombrias, não é
daqueles que vão deixar saudades. Muito pelo contrário. Foi
caracterizado, na área econômica, pelo desemprego (que recuou,
posto que muito discretamente, nos últimos meses, conforme dados do
IBGE), pelo agravamento da crise social e por uma profunda recessão,
que tornou um pouco mais pobre o seu imenso contingente de
miseráveis, estimado em torno de 35 milhões de pessoas. Frustrou,
portanto, as esperanças daqueles que contavam com uma pelo menos
discreta retomada do crescimento econômico, em especial neste
segundo semestre, o que, todos sabem, não aconteceu.
Para complicar, em decorrência
de uma série de fatores, internos e externos, entre os quais o
principal foi a maxidesvalorização do real frente ao dólar,
ocorrida em janeiro, a inflação voltou a mostrar a sua cara. É
verdade que não ocorreu a explosão inflacionária, prevista pelos
catastrofistas. Mas as taxas, posto que "civilizadas",
foram intoleráveis para os trabalhadores, há cinco anos sem
reajustes de salários e que ainda assim tiveram que "levantar
as mãos para o céu" por terem conseguido (os que conseguiram,
é claro!) manter seus instáveis empregos.
De acordo com análise recente
da Fundação Getúlio Vargas, divulgada pela imprensa, no entanto, o
crescimento da inflação ocorreu mais por culpa do próprio governo
do que de qualquer outro agente econômico. A FGV assegurou que, caso
não ocorressem os abusivos e escorchantes aumentos das tarifas
públicas (eletricidade, água, telefone, etc.) e, principalmente dos
combustíveis, em especial do álcool, o acumulado do ano ficaria em
torno de 1%. Durma-se com um barulho desses!! Nesta altura, o
cidadão fica sem entender mais nada!
Afinal, o fim da inflação
não foi, até aqui, o grande trunfo do presidente Fernando Henrique
Cardoso, que lhe garantiu dois mandatos consecutivos?! A sorte do
governo foi que os preços dos alimentos (a não ser em um caso ou
outro, como o da carne, no período da entressafra), tiveram um
comportamento exemplar. Mas as previsões, pelo menos para o início
de 2000, no que diz respeito especificamente aos produtos agrícolas,
não é das mais alvissareiras.
A seca que afeta vastas
regiões produtoras, em especial da Região Sudeste, tende a provocar
considerável quebra na safra de alguns produtos básicos. Um deles é
o milho, utilizado como ração para animais. Com a provável
elevação do preço desse grão, a carne deverá continuar
inacessível na mesa de muitos brasileiros (a maioria), e racionada,
na daqueles com um poder aquisitivo um pouco melhor.
Certamente, não era com um
Brasil desses que a maioria sonhava para o ano 2000. Às dificuldades
econômicas (senão em consequência delas), juntam-se outras
questões graves, que causam profunda irritação e enorme desencanto
nas pessoas, como a violência urbana, a corrupção, o tráfico de
drogas e a indecente e perigosa evolução do crime organizado, entre
outras tantas mazelas existentes num país que tinha tudo para ser
exemplar, na ocasião em que vai completar 500 anos de descoberta, e
que, no entanto, se revela uma sociedade egoísta, perversa e a mais
injusta do Planeta, em termos de partilha das suas riquezas.
Ainda está em tempo de se
promover uma reversão de expectativas. Não é tarde para recolocar
o Brasil na trilha do desenvolvimento. O País conta, para tanto, com
recursos naturais extraordinários, com uma reserva de água doce
(que certamente vai valer muito mais do que o petróleo no próximo
milênio, dada a sua escassez) que é a maior do Planeta e com um
potencial humano dos mais expressivos, bastando ser "burilado",
mediante uma educação voltada para o coletivo.
Um dos maiores males nacionais
é o exacerbado individualismo de determinadas categorias, tachadas
como "elites". É a falta de patriotismo, palavra que, não
se sabe por qual razão, se tornou "impropério" na boca
de imbecis, que se julgam "modernos", "avançados",
"inteligentes", mas que não passam de alienados, que
sequer intuem a razão de estarem vivos. É indispensável que a
maioria dos brasileiros "reme" numa mesma direção. É
preciso que o fosso que separa ricos de pobres venha a ser, senão
suprimido, pelo menos bastante estreitado, para que se estabeleça um
mínimo aceitável de justiça social. Mas não será com políticas
esdrúxulas e excludentes, como a atual, que construiremos o país
dos nossos sonhos para as futuras gerações. Faz-se indispensável,
e urgentíssima, uma cruzada nacional desenvolvimentista, que
priorize o emprego e a distribuição equitativa de renda. O Brasil
já perdeu toda a década de 80, quando marcou passo e, por falta de
solução, viu agravados seus principais problemas. Para complicar,
"jogou fora" também os últimos dez anos, chegando mesmo a
retroceder, em relação a outros países, de menos recursos do que
os nossos. É preciso se desdobrar, portanto, para fazer, no menor
tempo possível, tudo o que deixou de ser feito nos últimos
dramáticos e sofridos vinte anos.
(Editorial publicado na Folha
do Taquaral na primeira quinzena de dezembro de 1999)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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