Wednesday, September 12, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Tempestades da transição


Tempestades da transição


Pedro J. Bondaczuk


A taxa de inflação do corrente mês (novembro de 1994), medida pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe), revelou tendência de estabilização, na última quadrissemana, o que é um dado bastante animador. Em outubro passado, pressionada por uma série de fatores adversos, teve uma dramática aceleração, que provocou sobressaltos nos que acreditam no êxito do Plano Real.

E que não se diga que o programa de estabilização não foi submetido a severas provas. Muito pelo contrário. Enfrentou, por exemplo, o problema da entressafra da carne. Teve em seu caminho os reflexos de uma inusitada estiagem nas regiões Sul e Sudeste, os celeiros alimentares do País. E, para completar, viu-se às voltas com o súbito crescimento do consumo, gerando ameaças de desabastecimento de alguns produtos industriais.

Foi, portanto, testado e aprovado. Isto não quer dizer que não haja mais nuvens tempestuosas no horizonte. Há, por exemplo, o "braço de ferro" entre os petroleiros e o governo, em torno da questão salarial. Caso a reivindicação da categoria seja atendida --- e tudo indica que não será --- empregados de outras estatais se julgarão no direito de exigir a mesma coisa. Caso haja concessão nesse aspecto, era uma vez outro plano. Entretanto, a expectativa é a de que, apesar dessa turbulência, a transição para a posse de Fernando Henrique Cardoso será conduzida a bom termo. Considerando-se as circunstâncias em que o presidente Itamar Franco assumiu o poder, em setembro de 1992, não há como negar que fez um bom trabalho.

A transferência de governo, nesta oportunidade (pelo menos no aspecto econômico), se fará de forma bem menos traumatizante. Recorde-se que quando José Sarney transferiu a faixa presidencial para Fernando Collor, em março de 1990, a inflação bateu o recorde de todos os tempos, atingindo estratosféricos e mirabolantes 84%. Depois, veio aquele "terremoto", que foi o confisco da poupança. A expectativa, a partir de janeiro, contudo, é a de que o Brasil entre numa fase de intenso dinamismo. Em fevereiro, por exemplo, espera-se pela retomada da revisão constitucional, já com o Congresso renovado e ávido por mostrar serviço e resgatar o prestígio perdido dessa instituição.

Penosamente, a princípio, há uma quase certeza de que o País, ainda ao longo de 1995, vai retomar a trilha do desenvolvimento. Oxalá ela nunca mais seja perdida. E que este novo tempo venha, finalmente, acompanhado da reinclusão de milhões de brasileiros, excluídos da cidadania, não apenas na economia, mas na própria vida do País.

(Editorial publicado na "Folha do Taquaral", em 26 de novembro de 1994).



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