Tempestades da transição
Pedro J. Bondaczuk
A taxa de inflação do
corrente mês (novembro de 1994), medida pela Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe), revelou
tendência de estabilização, na última quadrissemana, o que é um
dado bastante animador. Em outubro passado, pressionada por uma série
de fatores adversos, teve uma dramática aceleração, que provocou
sobressaltos nos que acreditam no êxito do Plano Real.
E que não se diga que o
programa de estabilização não foi submetido a severas provas.
Muito pelo contrário. Enfrentou, por exemplo, o problema da
entressafra da carne. Teve em seu caminho os reflexos de uma
inusitada estiagem nas regiões Sul e Sudeste, os celeiros
alimentares do País. E, para completar, viu-se às voltas com o
súbito crescimento do consumo, gerando ameaças de desabastecimento
de alguns produtos industriais.
Foi, portanto, testado e
aprovado. Isto não quer dizer que não haja mais nuvens tempestuosas
no horizonte. Há, por exemplo, o "braço de ferro" entre
os petroleiros e o governo, em torno da questão salarial. Caso a
reivindicação da categoria seja atendida --- e tudo indica que não
será --- empregados de outras estatais se julgarão no direito de
exigir a mesma coisa. Caso haja concessão nesse aspecto, era uma vez
outro plano. Entretanto, a expectativa é a de que, apesar dessa
turbulência, a transição para a posse de Fernando Henrique Cardoso
será conduzida a bom termo. Considerando-se as circunstâncias em
que o presidente Itamar Franco assumiu o poder, em setembro de 1992,
não há como negar que fez um bom trabalho.
A transferência de governo,
nesta oportunidade (pelo menos no aspecto econômico), se fará de
forma bem menos traumatizante. Recorde-se que quando José Sarney
transferiu a faixa presidencial para Fernando Collor, em março de
1990, a inflação bateu o recorde de todos os tempos, atingindo
estratosféricos e mirabolantes 84%. Depois, veio aquele "terremoto",
que foi o confisco da poupança. A expectativa, a partir de janeiro,
contudo, é a de que o Brasil entre numa fase de intenso dinamismo.
Em fevereiro, por exemplo, espera-se pela retomada da revisão
constitucional, já com o Congresso renovado e ávido por mostrar
serviço e resgatar o prestígio perdido dessa instituição.
Penosamente, a princípio, há
uma quase certeza de que o País, ainda ao longo de 1995, vai retomar
a trilha do desenvolvimento. Oxalá ela nunca mais seja perdida. E
que este novo tempo venha, finalmente, acompanhado da reinclusão de
milhões de brasileiros, excluídos da cidadania, não apenas na
economia, mas na própria vida do País.
(Editorial publicado na "Folha
do Taquaral", em 26 de novembro de 1994).
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