Catastrofismo barato
Pedro
J. Bondaczuk
Os
empresários estão pessimistas quanto aos rumos da economia
brasileira neste 1991 que começou, aliás, dentro das previsões
feitas no final do ano passado, com guerra no Golfo Pérsico, a
teimosia da inflação em não baixar – mostrando que alguma coisa
no Plano Collor não saiu conforme o figurino elaborado pela equipe
econômica – e com a persistência da recessão que, embora mais
branda do que a esperada, segue inibindo os investimentos.
A
revelação desse pessimismo foi feita mediante a divulgação da
pesquisa da firma de consultoria Price Waterhouse. Das 500 grandes
empresas pesquisadas, mais de 50% dos seus dirigentes não viram
melhores perspectivas no horizonte até fins de dezembro.
Há,
inclusive, os que preveem que as coisas irão piorar nos próximos
meses. A maioria acha que a chegada ao fundo do poço irá ocorrer
até abril e que a recuperação firme virá apenas em 1992.
Esses
resultados refletem um certo fatalismo, não condizente com a nossa
cultura, mais próprio de outros povos. As pessoas raciocinam como se
os bons e os maus eventos estivessem predeterminados e não houvesse
qualquer meio de reversão. Pensam como se os fatos não tivessem
necessariamente por trás deles um agente com poder de livre
arbítrio, um sujeito que lhes dê essa característica factual.
Esse
raciocínio está naquela linha do “maktub”, que em árabe
significa “estava escrito”. Esse fatalismo, todavia, não
acrescenta nada de prático nas ações das pessoas e atua como fator
inibidor de iniciativas. O empresário Walter Sacca, em entrevista a
um canal de televisão na quinta-feira foi muito feliz ao constatar,
embora isso seja o óbvio, que 1991 será favorável ou não de
acordo com o que todos fizerem.
Nada
obriga que o ano seja ruim e nem determina isso. Muitas das previsões
catastróficas do início de janeiro, por exemplo, já furaram, para
decepção dos pessimistas profissionais. Falou-se em explosão
inflacionária e, embora a taxa tenha de fato subido mais alguns
degraus, está bem abaixo das cifras previstas.
Comentou-se
que a recessão atingiria o ponto máximo no decorrer do mês. Não
atingiu. Previu-se que, se estourasse a guerra no Golfo Pérsico, os
reflexos sobre a economia brasileira seriam imediatos e
catastróficos. O conflito começou e a única catástrofe que
apresentou até aqui foi a virtual destruição da milenar Bagdá e
uma grave agressão ao meio ambiente na zona de combate.
Todavia,
o Brasil continua, e bem ou mal, todos seguem tocando suas vidas. Por
isso o ideal de se fazer é deixar de lado os pueris exercícios de
futurologia, que raramente conduzem a acertos nas previsões, e
trabalhar duramente para construir não somente o ano, mas o futuro
próspero com que todos sonham.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de
janeiro de 1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
1 comment:
Hi ggreat reading your blog
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