Sumiço de poupança
Pedro J. Bondaczuk
A forte redução da taxa de
investimentos é um dos maiores, senão o maior obstáculo para que a
meta de crescimento da economia, estabelecida pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso, de 6% do Produto Interno Bruto para este
ano, se concretize. Para que o objetivo fosse factível, alguns
economistas afirmam que seria necessário investir em torno de 23,5%
do PIB --- ou seja, o que era investido nos anos 70 --- de recursos
provenientes da poupança.
No entanto, esse percentual
gira atualmente ao redor dos 16% (em 1995 foi de 15,8%), com um
déficit, portanto, de quase oito pontos. O chefe do Departamento
Econômico do BNDES, Armando Castelar Pinheiro, publicou,
recentemente, em forma de artigo, no jornal "O Estado de São
Paulo", um detalhado estudo a respeito.
O economista revela, por
exemplo, que no período 1987-1995, 6,4% do PIB em poupança
simplesmente sumiram, por ano. Foram bilhões de reais que deixaram
de ser investidos e que, por consequência, não apenas frearam o
desenvolvimento brasileiro, mas até fizeram o País andar em marcha
a ré. Os nefastos resultados estão aí, representados pela enorme
crise social.
Nesse mesmo espaço de oito
anos, a população cresceu, embora a taxas menores do que nos anos
70 (atualmente o crescimento é de 1,4% anuais). Onde foi parar todo
esse dinheiro? Virou fumaça, na voragem dos vários planos
heterodoxos adotados desde 1986 (cruzado, verão, Collor), que
implicaram em quebras de contratos e espantaram os poupadores,
fazendo com que se voltassem para o consumo.
A poupança interna é o
capital de investimento por excelência de qualquer país. Mas para
ser atrativa, precisa, mais do que a oferta de altos rendimentos, do
fator confiança. E foi isso o que se perdeu em decorrência do
confisco determinado no início do governo Collor.
Já nos anos 80, por razões
várias que não cabem discutir aqui, a taxa de investimento havia
sofrido forte retração. Caiu de 23,3% do PIB ao ano para 18,3%,
atingindo o fundo do poço em 1992 (a preços de 1980) com 13,6%, de
acordo com o mencionado artigo de Armando Castelar Pinheiro,
intitulado "O caso da poupança que tomou Doril" (em
referência à propaganda de um analgésico que faria a dor sumir).
Investimentos que assegurem o
desenvolvimento sustentável, de que tanto o País precisa para
saldar sua monumental dívida social, requerem, além da confiança
na manutenção das regras do jogo econômico, de uma economia
estável. O Real vem proporcionando essa estabilidade, mas precisa
ainda de inadiáveis ajustes para se consolidar.
Necessita de profundas
reformas estruturais --- que não se restrinjam apenas à superfície
--- nos sistemas tributário, previdenciário e sobretudo na
administração pública. Além disso, tem que resgatar a
confiabilidade da poupança e sua atratividade, para dispor de
capitais de investimento.
Muitos passos já foram dados
nessa direção, mas ainda são insuficientes. É preciso andar mais
rápido, até para compensar o crescimento vegetativo da população.
O Brasil precisa recuperar tempo, dinheiro e as esperanças
desperdiçados nos anos 80, que não sem razão, passaram para a
história com o rótulo de "década perdida" para o
desenvolvimento.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de julho
de 1996).
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