Saturday, September 08, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Promessas e fatos


Promessas e fatos



Pedro J. Bondaczuk



A promessa da ministra Zélia Cardoso de Mello em assegurar uma inflação baixa neste mês não espanta as dúvidas que permanecem em relação ao plano econômico. A liquidez registrada no setor financeiro e no comércio constitui um fantasma a assustar muita gente que também está perplexa diante da falta de uma política consistente de retomada da produção. Se a ministra encontra nos Estados Unidos a boa receptividade do Banco Mundial para com seus projetos de negociação da dívida externa, a mesma atitude passa despercebida na maioria dos empresários brasileiros, que aguardam o governo federal começar a cumprir, de fato, a promessa de redução da máquina administrativa e, consequentemente, do déficit público.

O plano econômico não tem retorno. Prova disso é que o governo apresenta várias adequações diante das resistências que a mudança econômica encontra em vários segmentos. A irritação do presidente Fernando Collor de Mello quanto à demora do setor público em aplicar as reformas exigidas tem razão, pois seu projeto tem por objetivo modificar vícios e os péssimos comportamentos dos vários escalões federais, acostumados à mordomia e aos gastos excessivos num País com uma renda per capita das mais baixas do mundo.

Uma dessas adequações da máquina federal ao plano é exatamente a privatização de inúmeras estatais que nos últimos anos se transformaram em cabides de emprego e, por serem mal administradas, se sucatearam. Apressar o processo de privatização é imperioso para o governo conseguir obter um superávit orçamentário da ordem de 2,6% do PIB, conforme preveem os técnicos do Ministério da Economia.

O sacrifício do governo deve ser mais evidente e maior que o sofrido pela iniciativa privada e vários segmentos da sociedade, como os pequenos e médios poupadores. A credibilidade do plano está muito mais, portanto, no que o governo pode apresentar de fato quanto à privatização, ao corte dos gastos e mordomias e tornar eficiente a máquina administrativa do que nas palavras da ministra Zélia Cardoso de Mello.

A experiência brasileira demonstrou que a inflação resulta de vários fatores, inclusive os sociais e psicológicos, a agir no cotidiano das relações econômicas. A mudança de hábitos é necessária tanto para o cidadão comum como o empresário, políticos e funcionários públicos. A autoridade do presidente da República se fortalece na medida em que acionar os mecanismos à sua disposição para obrigar a máquina federal a se adaptar à realidade brasileira. Por isso, a irritação do presidente é vista como bom sinal de que sua intenção não carrega os vícios de outros presidentes, cujo comportamento variava de acordo com a intensidade das pressões no plano político e econômico.

A estabilização da economia e da inflação em patamares baixos é fundamental para o sucesso do plano. Isso será conseguido, principalmente, se a máquina governamental se submeter às tenazes construídas pelo pacote econômico, que tem os cidadãos e a Presidência da República como hastes a pressionar os interesses corporativistas e antipatrióticos.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de maio de 1990)



Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: