Promessas e fatos
Pedro J. Bondaczuk
A promessa da ministra Zélia
Cardoso de Mello em assegurar uma inflação baixa neste mês não
espanta as dúvidas que permanecem em relação ao plano econômico.
A liquidez registrada no setor financeiro e no comércio constitui um
fantasma a assustar muita gente que também está perplexa diante da
falta de uma política consistente de retomada da produção. Se a
ministra encontra nos Estados Unidos a boa receptividade do Banco
Mundial para com seus projetos de negociação da dívida externa, a
mesma atitude passa despercebida na maioria dos empresários
brasileiros, que aguardam o governo federal começar a cumprir, de
fato, a promessa de redução da máquina administrativa e,
consequentemente, do déficit público.
O plano econômico não tem
retorno. Prova disso é que o governo apresenta várias adequações
diante das resistências que a mudança econômica encontra em vários
segmentos. A irritação do presidente Fernando Collor de Mello
quanto à demora do setor público em aplicar as reformas exigidas
tem razão, pois seu projeto tem por objetivo modificar vícios e os
péssimos comportamentos dos vários escalões federais, acostumados
à mordomia e aos gastos excessivos num País com uma renda per
capita das mais baixas do mundo.
Uma dessas adequações da
máquina federal ao plano é exatamente a privatização de inúmeras
estatais que nos últimos anos se transformaram em cabides de emprego
e, por serem mal administradas, se sucatearam. Apressar o processo de
privatização é imperioso para o governo conseguir obter um
superávit orçamentário da ordem de 2,6% do PIB, conforme preveem
os técnicos do Ministério da Economia.
O sacrifício do governo deve
ser mais evidente e maior que o sofrido pela iniciativa privada e
vários segmentos da sociedade, como os pequenos e médios
poupadores. A credibilidade do plano está muito mais, portanto, no
que o governo pode apresentar de fato quanto à privatização, ao
corte dos gastos e mordomias e tornar eficiente a máquina
administrativa do que nas palavras da ministra Zélia Cardoso de
Mello.
A experiência brasileira
demonstrou que a inflação resulta de vários fatores, inclusive os
sociais e psicológicos, a agir no cotidiano das relações
econômicas. A mudança de hábitos é necessária tanto para o
cidadão comum como o empresário, políticos e funcionários
públicos. A autoridade do presidente da República se fortalece na
medida em que acionar os mecanismos à sua disposição para obrigar
a máquina federal a se adaptar à realidade brasileira. Por isso, a
irritação do presidente é vista como bom sinal de que sua intenção
não carrega os vícios de outros presidentes, cujo comportamento
variava de acordo com a intensidade das pressões no plano político
e econômico.
A estabilização da economia
e da inflação em patamares baixos é fundamental para o sucesso do
plano. Isso será conseguido, principalmente, se a máquina
governamental se submeter às tenazes construídas pelo pacote
econômico, que tem os cidadãos e a Presidência da República como
hastes a pressionar os interesses corporativistas e antipatrióticos.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de maio de 1990)
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