País continua vulnerável
Pedro J. Bondaczuk
A economia brasileira teve ---
olhando de relance os principais números disponíveis e sem se ater
às consequências sociais --- performance de razoável para boa no
ano que passou. A inflação acumulada foi, por exemplo, por todos os
índices dos vários institutos encarregados da pesquisa, a mais
baixa em praticamente quatro décadas. Embora as cifras variem, de
acordo com as metodologias aplicadas, todas ficaram em um único
dígito, o que é um fenômeno raríssimo em se tratando de Brasil.
Em termos de arrecadação, o
governo federal também não tem do que se queixar. Entraram nos
cofres públicos em dezembro passado, mês de desaceleração
econômica em decorrência do pacote editado para fazer face ao
eventual ataque dos especuladores internacionais ao real, R$ 12,3
bilhões. O valor foi 34% maior do que o verificado em novembro.
Trata-se do maior recolhimento
de impostos já ocorrido no Brasil, o que não deixa também de
marcar uma certa contradição. Vive-se apregoando a necessidade de
redução do tamanho do Estado. No entanto, este tira de circulação,
das mãos da iniciativa privada, crescentes recursos, que poderiam
ser investidos em atividades produtivas e geradoras de empregos.
O acumulado de 1997 foi
igualmente inusitado. Atingiu R$ 112,7 bilhões, com crescimento de
18,5% em relação a 1996. Nesse aspecto, também, o governo não tem
do que reclamar. A sociedade, sim. Afinal, este montante recordista
de recursos recolhidos em impostos não retornou --- pelo menos não
na mesma proporção --- em benefícios para a sofrida população
brasileira.
A saúde continua deficiente.
A educação ainda está longe de ser universal e milhões de
crianças permanecem fora das escolas. A segurança pública é
ineficiente para conter a crescente onda de violência que assola as
grandes cidades do País. As rodovias continuam esburacadas e
inseguras, etc.
Só a Contribuição
Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) carreou para os
cofres públicos a considerável cifra de R$ 6,9 bilhões, o
equivalente a 6,1% do total de impostos arrecadados em 1997.
Teoricamente (ou legalmente), esse dinheiro deveria ser destinado à
saúde. Se chegou ao seu destino, não mostrou, pelo menos, os
efeitos que eram esperados.
Outro dado positivo na
economia brasileira no ano passado é o que se refere aos
investimentos estrangeiros diretos, que aumentaram 72,4% na
comparação com 1996. As grandes empresas transnacionais, portanto,
confiam no Brasil e na força do seu mercado. Foram investidos US$
17,04 bilhões no último exercício, contra os US$ 9,889 do
anterior.
Então, está tudo bem? O País
nada em prosperidade e todos estão felizes? Claro que não! Está aí
o desemprego em massa, que tende a se agravar, diante do clima
recessivo causado pelas medidas adotadas para a proteção do real.
O Brasil apresentou, em 1997,
o maior déficit em transações correntes --- a diferença entre o
que tem a pagar e o que tem a receber no Exterior --- desde 1982. Foi
de US$ 33,4 bilhões, ou 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB). É por
essa brecha, principalmente, que a moeda brasileira pode ser atacada
(e tomara que não comprometida). O governo tem que se acautelar,
pois conforme o próprio ministro da Fazenda Pedro Malan disse na
segunda-feira, ao comentar a crise asiática: "Vivemos em um
mundo perigoso". E a economia globalizada não perdoa os erros
de formulação e aplicação de políticas econômicas.
(Editorial número um
publicado na página 2 do Correio Popular em 17 de janeiro de 1998).
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