Sunday, September 02, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - São Paulo não pode parar


São Paulo não pode parar



Pedro J. Bondaczuk



Para Antônio Kandir, secretário de Política Econômica, o governo do presidente Fernando Collor de Mello já resolveu o problema da inflação, devendo voltar as atenções agora para a garantia do crescimento harmonioso da economia. Segundo esclarecimento desse técnico da equipe da ministra Zélia Cardoso de Mello, o reaquecimento da economia não irá ocorrer por meio de saques do dinheiro bloqueado junto ao Banco Central, mas através da liberação de linhas de crédito para setores considerados como prioritários, a construção civil, por exemplo.

Não há dúvida alguma de que o enxugamento severo da liquidez no mercado financeiro, a par de medidas adotadas quanto ao comportamento dos preços, tudo forçou a um só tempo o bloqueio da espiral inflacionária entre nós, afastando de vez não só o fantasma da hiperinflação, mas devendo reduzir as taxas daqui para a frente a índices realmente baixos. Quanto a esse detalhe não há como contestar o plano estabelecido pelo governo. Entretanto, passados já 30 dias de sua efetiva vigência, parece não ter encontrado o "Brasil Novo" ainda a sua melhor forma operacional.

De fato, particularmente no caso do Estado de São Paulo, as distorções provocadas pela aplicação prática do plano ganham maior amplitude a cada dia que passa, afetando um sem-número de atividades. Se houver ajustes com o correr dos dias, tudo bem, porém, se toda essa situação negativa perdurar de maneira indefinida, então as coisas poderão adquirir características mais severas. Como se sabe, o parque industrial de Campinas sente os efeitos dos desajustes verificados, sendo notória a queda de produção. Idêntica perspectiva acontece também em todo o parque fabril de nosso Estado.

Aliás, a prefeita Luíza Erundina, de São Paulo, dará início a uma campanha anti recessão, tentando contornar na medida do possível as inconveniências do desemprego e do desabastecimento naquela cidade. Ainda há pouco os diretores das empresas corretoras de imóveis do Estado realizaram encontro em São Paulo, preocupados com a situação existente nessa importante área de trabalho, discutindo o aspecto prático do Plano Collor. O corte ou paralisação de muitas atividades leva apreensões e incertezas a todos os setores da economia paulista.

Aplica-se muito bem, na atual conjuntura, aquela antiga colocação, por sinal motivo de justificado orgulho dos paulistas, de que São Paulo não pode parar, pois, ontem como hoje, tudo aqui funciona na base do próprio coração do Brasil. Assim, as altas autoridades da Nação não podem permanecer estáticas diante do êxito alcançado com a queda acentuada da inflação. As forças vivas de São Paulo, esta a grande verdade, clamam agora por medidas que possam garantir o pleno desenvolvimento do mundo dos negócios, mantendo os empregos em plano elevado. E toda essa ajuda deve vir com a presteza de mister, sem sofismas ou subterfúgios. Convenhamos, parando São Paulo, o Brasil também não anda.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de abril de 1990)


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