São Paulo não pode parar
Pedro J. Bondaczuk
Para Antônio Kandir,
secretário de Política Econômica, o governo do presidente Fernando
Collor de Mello já resolveu o problema da inflação, devendo voltar
as atenções agora para a garantia do crescimento harmonioso da
economia. Segundo esclarecimento desse técnico da equipe da ministra
Zélia Cardoso de Mello, o reaquecimento da economia não irá
ocorrer por meio de saques do dinheiro bloqueado junto ao Banco
Central, mas através da liberação de linhas de crédito para
setores considerados como prioritários, a construção civil, por
exemplo.
Não há dúvida alguma de que
o enxugamento severo da liquidez no mercado financeiro, a par de
medidas adotadas quanto ao comportamento dos preços, tudo forçou a
um só tempo o bloqueio da espiral inflacionária entre nós,
afastando de vez não só o fantasma da hiperinflação, mas devendo
reduzir as taxas daqui para a frente a índices realmente baixos.
Quanto a esse detalhe não há como contestar o plano estabelecido
pelo governo. Entretanto, passados já 30 dias de sua efetiva
vigência, parece não ter encontrado o "Brasil Novo" ainda
a sua melhor forma operacional.
De fato, particularmente no
caso do Estado de São Paulo, as distorções provocadas pela
aplicação prática do plano ganham maior amplitude a cada dia que
passa, afetando um sem-número de atividades. Se houver ajustes com o
correr dos dias, tudo bem, porém, se toda essa situação negativa
perdurar de maneira indefinida, então as coisas poderão adquirir
características mais severas. Como se sabe, o parque industrial de
Campinas sente os efeitos dos desajustes verificados, sendo notória
a queda de produção. Idêntica perspectiva acontece também em todo
o parque fabril de nosso Estado.
Aliás, a prefeita Luíza
Erundina, de São Paulo, dará início a uma campanha anti recessão,
tentando contornar na medida do possível as inconveniências do
desemprego e do desabastecimento naquela cidade. Ainda há pouco os
diretores das empresas corretoras de imóveis do Estado realizaram
encontro em São Paulo, preocupados com a situação existente nessa
importante área de trabalho, discutindo o aspecto prático do Plano
Collor. O corte ou paralisação de muitas atividades leva apreensões
e incertezas a todos os setores da economia paulista.
Aplica-se muito bem, na atual
conjuntura, aquela antiga colocação, por sinal motivo de
justificado orgulho dos paulistas, de que São Paulo não pode parar,
pois, ontem como hoje, tudo aqui funciona na base do próprio coração
do Brasil. Assim, as altas autoridades da Nação não podem
permanecer estáticas diante do êxito alcançado com a queda
acentuada da inflação. As forças vivas de São Paulo, esta a
grande verdade, clamam agora por medidas que possam garantir o pleno
desenvolvimento do mundo dos negócios, mantendo os empregos em plano
elevado. E toda essa ajuda deve vir com a presteza de mister, sem
sofismas ou subterfúgios. Convenhamos, parando São Paulo, o Brasil
também não anda.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de abril de 1990)
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