Thursday, September 06, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - O balanço é favorável


O balanço é favorável


Pedro J. Bondaczuk


O País conseguiu fazer, com relativo sucesso, a travessia do primeiro mês de implantação do Plano Real. Aquela tensão que pairava no ar, em fins de junho passado, se desvaneceu. É certo que o horizonte ainda não está totalmente claro. Há muitas ameaças concretas para o novo programa, como as reivindicações salariais, tanto do funcionalismo, quanto da iniciativa privada; a entressafra e as pressões por gastos causadas pelo transcorrer das campanhas eleitorais. Todavia, o aspecto bom de se ressaltar é o comportamento da população face à nova moeda.

Uma série de temores desvaneceu-se, quase que por completo, diante da consciência demonstrada pelo brasileiro nesta oportunidade. Não houve a temida avalanche de saques da poupança e muito menos a explosão de consumo. Pelo contrário, o consumidor passou a ser mais atento, mais seletivo e mais exigente na aquisição dos produtos, em especial aqueles essenciais.

Essa postura forçou uma redução de preços, ainda pequena em relação aos aumentos abusivos que se verificaram em junho, mas que promete ser maior, já que a tendência ainda é nitidamente de queda. Aos poucos, o referencial de valor, que as pessoas haviam perdido por causa das altas taxas de inflação, começa a ser restabelecido.

"Então estamos num paraíso? Doravante nossa economia vai se comportar como a da Suíça ou a do Japão?", perguntaria o leitor. Bem, a coisa não é tão simples. Há uma série de pressupostos para que o plano funcione no médio prazo.

O que o real, certamente, deve garantir é uma travessia tranquila do final do governo Itamar Franco até a posse do próximo presidente, a ser eleito em 3 de outubro, o que, convenhamos, já não é pouco.

Muito importante, diríamos fundamental, será a quarta etapa do ajuste econômico, com a retomada do desenvolvimento e a necessária e crucial geração de empregos. Essa fase implica, sobretudo, numa série de mudanças estruturais, como a reforma tributária, a previdenciária, etc. Por isso, é necessário que todos os candidatos à Presidência, sejam de que tendência forem, se comprometam com a estabilidade. O brasileiro está cansado de ser cobaia.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1994).


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