O balanço é favorável
Pedro J. Bondaczuk
O País conseguiu fazer, com
relativo sucesso, a travessia do primeiro mês de implantação do
Plano Real. Aquela tensão que pairava no ar, em fins de junho
passado, se desvaneceu. É certo que o horizonte ainda não está
totalmente claro. Há muitas ameaças concretas para o novo programa,
como as reivindicações salariais, tanto do funcionalismo, quanto da
iniciativa privada; a entressafra e as pressões por gastos causadas
pelo transcorrer das campanhas eleitorais. Todavia, o aspecto bom de
se ressaltar é o comportamento da população face à nova moeda.
Uma série de temores
desvaneceu-se, quase que por completo, diante da consciência
demonstrada pelo brasileiro nesta oportunidade. Não houve a temida
avalanche de saques da poupança e muito menos a explosão de
consumo. Pelo contrário, o consumidor passou a ser mais atento, mais
seletivo e mais exigente na aquisição dos produtos, em especial
aqueles essenciais.
Essa postura forçou uma
redução de preços, ainda pequena em relação aos aumentos
abusivos que se verificaram em junho, mas que promete ser maior, já
que a tendência ainda é nitidamente de queda. Aos poucos, o
referencial de valor, que as pessoas haviam perdido por causa das
altas taxas de inflação, começa a ser restabelecido.
"Então estamos num
paraíso? Doravante nossa economia vai se comportar como a da Suíça
ou a do Japão?", perguntaria o leitor. Bem, a coisa não é tão
simples. Há uma série de pressupostos para que o plano funcione no
médio prazo.
O que o real, certamente, deve
garantir é uma travessia tranquila do final do governo Itamar Franco
até a posse do próximo presidente, a ser eleito em 3 de outubro, o
que, convenhamos, já não é pouco.
Muito importante, diríamos
fundamental, será a quarta etapa do ajuste econômico, com a
retomada do desenvolvimento e a necessária e crucial geração de
empregos. Essa fase implica, sobretudo, numa série de mudanças
estruturais, como a reforma tributária, a previdenciária, etc. Por
isso, é necessário que todos os candidatos à Presidência, sejam
de que tendência forem, se comprometam com a estabilidade. O
brasileiro está cansado de ser cobaia.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1994).
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