Sunday, September 23, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - A realidade da Educação


A realidade da Educação


Pedro J. Bondaczuk


A recente campanha pela televisão, em que o ministro extraordinário dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, aparece regendo um coro infantil cantando um refrão que diz que toda a criança deve estar na escola, é bastante meritória. Todavia, ainda é apenas utopia. Está muito distante da realidade brasileira.

Milhões de menores têm que trabalhar, para ajudar no sustento de suas famílias, não frequentando portanto as salas de aula. Outros tantos milhares estão abandonados nas ruas, entregues às drogas e outros vícios, com o futuro comprometido, lutando para sobreviver, sem que possam sequer pensar em estudar.

Mesmo nos Estados mais avançados, econômica e socialmente, parcela considerável não tem esse privilégio, que na verdade é um direito. Dados de 1996, do Ministério de Educação, baseados na contagem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mostram que mais de 50% da população de 7 a 14 anos, em 17 cidades do País, está fora da escola. Anajás, no Pará, lidera essa relação, com uma taxa que atinge 76,1% das crianças nessa faixa etária.

Mesmo em São Paulo, milhares de jovens tiveram sua sorte decidida, em dias recentes, através de sorteios. Neste caso, contudo, não havia falta de vagas. Estas até que existiam, mas em escolas com condições precaríssimas, onde é contestável que os alunos tenham um ensino pelo menos razoável.

É evidente que esta situação não é culpa do atual governo, que fez muito pela educação, como é mister que se reconheça. É consequência de décadas de demagogia e de desrespeito à Constituição. É fruto de uma crise social que parece nunca ter fim.

A televisão vem sendo crescentemente utilizada como importante meio de difusão e tende a levar ensino de qualidade às regiões mais remotas deste país de dimensões continentais. Além de ousadas iniciativas do governo, fundações particulares e empresas têm dado importante contribuição para a formação das futuras gerações.

Há consenso nacional de que o futuro do Brasil depende da Educação. Quanto mais brasileiros tiverem acesso a ela, maior será o capital humano de que o País irá dispor, para garantir seu desenvolvimento.

Existem resultados concretos que desmentem os pessimistas e que atestam importante evolução, senão na qualidade daquilo que é ensinado, pelo menos na quantidade de crianças que são bem ou mal alfabetizadas. Mas a batalha ainda nem chegou à metade. Apesar de números alentadores, ainda há muitíssimo a fazer.

Não bastam investimentos em prédios escolares ou em livros didáticos ou em sofisticados recursos pedagógicos. Tudo isso ajuda e é importante, mas não suficiente. É preciso, antes de tudo, valorizar a função do professor, dando-lhe condições de trabalho que lhe permitam constante atualização e, sobretudo, salários dignos, que o motivem a exercer sua santa missão e atraiam mais e mais pessoas competentes para o magistério.

Dados do IBGE e pesquisas particulares revelam acentuada queda da taxa de analfabetismo na faixa etária dos 7 aos 14 anos. Mostram que a maioria das crianças brasileiras tem mais escolaridade do que os seus pais, de modo geral, o que não deixa de ser alentador e estimulante.

Mas daí a dar a entender que a curto prazo nenhum menino ou menina brasileiros ficarão fora das salas de aula, não passa de simples manifestação de um grande desejo. Contudo, é uma situação distante mil anos-luz da realidade do País.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de janeiro de 1998).



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