A realidade da Educação
Pedro J. Bondaczuk
A recente campanha pela
televisão, em que o ministro extraordinário dos Esportes, Edson
Arantes do Nascimento, o Pelé, aparece regendo um coro infantil
cantando um refrão que diz que toda a criança deve estar na escola,
é bastante meritória. Todavia, ainda é apenas utopia. Está muito
distante da realidade brasileira.
Milhões de menores têm que
trabalhar, para ajudar no sustento de suas famílias, não
frequentando portanto as salas de aula. Outros tantos milhares estão
abandonados nas ruas, entregues às drogas e outros vícios, com o
futuro comprometido, lutando para sobreviver, sem que possam sequer
pensar em estudar.
Mesmo nos Estados mais
avançados, econômica e socialmente, parcela considerável não tem
esse privilégio, que na verdade é um direito. Dados de 1996, do
Ministério de Educação, baseados na contagem do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, mostram que mais de 50% da
população de 7 a 14 anos, em 17 cidades do País, está fora da
escola. Anajás, no Pará, lidera essa relação, com uma taxa que
atinge 76,1% das crianças nessa faixa etária.
Mesmo em São Paulo, milhares
de jovens tiveram sua sorte decidida, em dias recentes, através de
sorteios. Neste caso, contudo, não havia falta de vagas. Estas até
que existiam, mas em escolas com condições precaríssimas, onde é
contestável que os alunos tenham um ensino pelo menos razoável.
É evidente que esta situação
não é culpa do atual governo, que fez muito pela educação, como é
mister que se reconheça. É consequência de décadas de demagogia e
de desrespeito à Constituição. É fruto de uma crise social que
parece nunca ter fim.
A televisão vem sendo
crescentemente utilizada como importante meio de difusão e tende a
levar ensino de qualidade às regiões mais remotas deste país de
dimensões continentais. Além de ousadas iniciativas do governo,
fundações particulares e empresas têm dado importante contribuição
para a formação das futuras gerações.
Há consenso nacional de que o
futuro do Brasil depende da Educação. Quanto mais brasileiros
tiverem acesso a ela, maior será o capital humano de que o País irá
dispor, para garantir seu desenvolvimento.
Existem resultados concretos
que desmentem os pessimistas e que atestam importante evolução,
senão na qualidade daquilo que é ensinado, pelo menos na quantidade
de crianças que são bem ou mal alfabetizadas. Mas a batalha ainda
nem chegou à metade. Apesar de números alentadores, ainda há
muitíssimo a fazer.
Não bastam investimentos em
prédios escolares ou em livros didáticos ou em sofisticados
recursos pedagógicos. Tudo isso ajuda e é importante, mas não
suficiente. É preciso, antes de tudo, valorizar a função do
professor, dando-lhe condições de trabalho que lhe permitam
constante atualização e, sobretudo, salários dignos, que o motivem
a exercer sua santa missão e atraiam mais e mais pessoas competentes
para o magistério.
Dados do IBGE e pesquisas
particulares revelam acentuada queda da taxa de analfabetismo na
faixa etária dos 7 aos 14 anos. Mostram que a maioria das crianças
brasileiras tem mais escolaridade do que os seus pais, de modo geral,
o que não deixa de ser alentador e estimulante.
Mas daí a dar a entender que
a curto prazo nenhum menino ou menina brasileiros ficarão fora das
salas de aula, não passa de simples manifestação de um grande
desejo. Contudo, é uma situação distante mil anos-luz da realidade
do País.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de
janeiro de 1998).
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