O livro é caro e a verba...
curta
Pedro J. Bondaczuk
.
Gosto de colaborar com meus amigos escritores naquilo que está ao
meu alcance. Nunca me recusei a fazê-lo, mesmo quando tal
colaboração me exige grandes sacrifícios. Sou, a todo o momento,
solicitado, por exemplo, a escrever prefácios para livros prestes a
serem lançados e jamais deixei ninguém na mão. E olhem que não
são poucos. São em torno de dez, em média, por ano. Claro que me
sinto lisonjeado e encaro esses pedidos como manifestação de
respeito intelectual e de apreço pessoal.
Fosse eu lançar tantos livros quantos os que prefacio, seria hoje
dos escritores mais prolíficos com uma das mais extensas
bibliografias do País. Sem exagero, já fiz mais de cem prefácios,
nos últimos dez anos. O que me aborrece, porém, é o fato de,
depois da publicação dessas obras, o autor não se dignar, sequer,
de me presentear com um exemplar. Não são todos os que agem assim,
claro. Mas a maioria...
O Talis Andrade, por exemplo, quando lançou seu livro de poesias,
imediatamente me enviou um exemplar, novinho em folha, cheirando a
tinta. Aliás, era o que eu esperava desse extraordinário poeta e
incrível figura humana. É uma honra, para mim, participar de alguma
maneira de um livro deste magnífico escritor. Por que os outros não
agem da mesma maneira?
Outra reclamação que tenho a fazer (hoje estou um tanto ranzinza,
não é verdade?) é que, muitos, quando me solicitam prefácio, não
me encaminham sequer cópia do exemplar a ser prefaciado. Tenho me
virado sem isso, na base da pura imaginação e da criatividade,
mas... O risco de escrever alguma bobagem ou, no mínimo,
inconveniências, é muito grande. Doravante, portanto, por favor:
sempre que me fizerem este tipo de pedido, me enviem “o que” devo
prefaciar, combinado?
Minhas queixas, porém, não se esgotaram. E esta, tem motivação,
digamos, pecuniária. Explico. Mais do que solicitações de
prefácio, recebo inúmeros pedidos para analisar livros
recém-lançados, numa quantidade muito grande, acreditem, vindas de
todo o Brasil. Claro que isso me deixa ainda mais lisonjeado. Chego a
ficar impossível! Só que os que me fazem tal pedido cometem um
pecado mortal: não me enviam o exemplar que querem que eu comente.
Quando se trata de escritor conhecido, tenho, invariavelmente,
adquirido essas obras, lido para, posteriormente, comentá-las. Mas,
convenhamos, é uma baita sacanagem. Fico perguntando aos meus botões
se estes colegas de letras querem meus préstimos de comentarista ou
meramente de cliente, de comprador dos seus livros. As duas coisas,
ao mesmo tempo, são incompatíveis.
Sou consumidor compulsivo de livros. Compro, em média, dez por mês
e este é meu limite. Afinal, jornalista não é nenhum nababo e,
salvo honrosas exceções, não ganha lá tanto assim. A maioria (e
este é o meu caso) precisa de dois ou mais empregos para se
garantir. Em suma, cabe aqui, como uma luva, o título deste texto:
“o livro é caro e a verba... curta”. E olhem que gasto R$ 500,00
em média por mês nas livrarias, para desespero da esposa.
Custava essa gente me enviar um exemplar? Afinal, o autor tem direito
a dez deles (algumas editoras destinam vinte) para divulgação. Ah,
vocês não têm meu endereço? (e esta é a argumentação de
muitos). Pois bem, através desse mesmo e-mail, pelo qual vocês me
fazem o pedido (e que é publicado diariamente neste espaço, no pé
do índice), solicitem-no que lhes informarei. O que não posso é
expô-lo publicamente na internet, e vocês, inteligentes como são,
sabem, certamente, por qual razão.
Volto, pois, ao que escrevi no início destas considerações: “gosto
de colaborar com meus colegas escritores”. Mas aduzo uma condição
básica para isso: desde que estes colaborem, também, comigo. Os que
me solicitam comentários sabem que estes serão postados não
somente aqui (ou em forma de editorial, ou de crônica na minha
coluna bissemanal), mas nos vários outros sites que publicam
semanalmente meus textos. Será, pois, uma baita propaganda dos seus
lançamentos.
E aqui cabe outra ressalva. Não faço resenhas. Estas são tarefa
dos responsáveis pelo marketing das editoras. Também não faço
crítica literária. Escrevo, isso sim, crônicas em que revelo a
emoção que o livro me causou (se causou, claro) e as razões.
Algumas editoras me encaminham (gratuitamente, por sinal) seus
principais lançamentos. Jamais deixei de abordar qualquer um deles.
Outra observação cabível, e que muitos se esquecem, é que
“crítica literária” é um gênero de Literatura (e dos mais
complexos). Apesar do nome, não se destina apenas a deitar falação
contrária sobre os livros avaliados. Tem toda uma técnica que a
fundamenta (que felizmente domino, mas não considero a minha
“praia”). Minhas avaliações, porém, dispensam tanto
“tecnicismo”. São todas mais emocionais do que cerebrais. Daí
não considerá-las (pois não são) crítica literária.
Continuo, pois, firme e forte, à disposição dos meus colegas
escritores, disposto a colaborar com eles naquilo que estiver ao meu
alcance. Mas com a ressalva, que faço questão de reiterar: desde
que também colaborem comigo. E lembro, de novo, para deixar bastante
claro: “o livro é caro e a verba... curta”.
No comments:
Post a Comment