Sunday, September 30, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Educação cara e ruim


Educação cara e ruim



Pedro J. Bondaczuk


O ano letivo tem início na segunda-feira, na maioria das escolas brasileiras e com o começo das aulas, os pais passam a enfrentar o drama, que se torna cada vez maior de ano para ano, da compra de materiais escolares. Entre cadernos, lápis, borracha e outras coisas, constantes nas extensas listas exigidas pelas escolas (exceto os livros), além de uniforme e transporte, as despesas estão saindo, por baixo, quando a pessoa anda muito, Cr$ 27 mil. Ou seja, mais de dois salários mínimos vigentes.

Os que têm mais de um filho estudando ficam, portanto, numa situação terrível, praticamente de impasse. A experiência demonstra, todavia, que as relações de materiais são, em geral, exageradas, já que nem tudo o que é exigido é utilizado durante o ano. Os aumentos de preços, em relação ao custo do ano passado, por outro lado, excedem em muito a inflação dos últimos 12 meses, beirando os 2.400% e até 2.800%.

Além de tudo, as escolas avisam que quem não tiver o material completo, não poderá entrar em aula. Para os pais que têm filhos estudando em colégios particulares, evidentemente, as despesas se tornam muito mais agudas, raiando ao absurdo, numa época em que as atividades econômicas se veem duramente afetadas por uma recessão, que tende a se agravar, e por um manifesto quadro de desemprego, que ronda ameaçadoramente muitas famílias.

É lamentável que tudo isso ocorra num país tão carente de cérebros, indispensáveis para promover o seu desenvolvimento. O ensino brasileiro, além de ser de baixa qualidade, torna-se um dos mais caros do mundo, mesmo para os que estudem em escolas públicas.

Afinal, estes também não escapam das quilométricas relações de materiais escolares. Por outro lado, embora oficialmente o uniforme não possa ser exigido, poucos são os estabelecimentos que não os incluem na lista de obrigações dos pais.

Outra coisa que não vem sendo respeitada é a questão dos livros descartáveis. O Ministério da Educação recomendou que eles não fossem adotados, pois não servem de um ano para o outro. Todavia, o que se observa não é exatamente isso. Há, evidentemente, um forte exagero quanto às exigências das escolas.

Num momento como este que o País atravessa, de economia de guerra, seria prudente e até humano exigir apenas os materiais que fossem realmente indispensáveis para que o aluno aprenda bem o que lhe irá ser ensinado.

Isto é perfeitamente possível, desde que haja um pouquinho, um mínimo de sensibilidade e bom senso por parte dos responsáveis pela elaboração dessas listas. Já os que produzem e vendem esse equipamento escolar têm que se habituar ao saudável exercício da concorrência.

Precisam aprender a lucrar no volume de mercadorias vendidas e não no preço unitário, e virtualmente padronizado, numa espécie de cartel camuflado. Não há orçamento que suporte custos da dimensão do que os pais estão tendo que arcar neste momento!

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1º de fevereiro de 1991).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: