Educação cara e ruim
Pedro J. Bondaczuk
O ano
letivo tem início na segunda-feira, na maioria das escolas
brasileiras e com o começo das aulas, os pais passam a enfrentar o
drama, que se torna cada vez maior de ano para ano, da compra de
materiais escolares. Entre cadernos, lápis, borracha e outras
coisas, constantes nas extensas listas exigidas pelas escolas (exceto
os livros), além de uniforme e transporte, as despesas estão
saindo, por baixo, quando a pessoa anda muito, Cr$ 27 mil. Ou seja,
mais de dois salários mínimos vigentes.
Os
que têm mais de um filho estudando ficam, portanto, numa situação
terrível, praticamente de impasse. A experiência demonstra,
todavia, que as relações de materiais são, em geral, exageradas,
já que nem tudo o que é exigido é utilizado durante o ano. Os
aumentos de preços, em relação ao custo do ano passado, por outro
lado, excedem em muito a inflação dos últimos 12 meses, beirando
os 2.400% e até 2.800%.
Além
de tudo, as escolas avisam que quem não tiver o material completo,
não poderá entrar em aula. Para os pais que têm filhos estudando
em colégios particulares, evidentemente, as despesas se tornam muito
mais agudas, raiando ao absurdo, numa época em que as atividades
econômicas se veem duramente afetadas por uma recessão, que tende a
se agravar, e por um manifesto quadro de desemprego, que ronda
ameaçadoramente muitas famílias.
É
lamentável que tudo isso ocorra num país tão carente de cérebros,
indispensáveis para promover o seu desenvolvimento. O ensino
brasileiro, além de ser de baixa qualidade, torna-se um dos mais
caros do mundo, mesmo para os que estudem em escolas públicas.
Afinal,
estes também não escapam das quilométricas relações de materiais
escolares. Por outro lado, embora oficialmente o uniforme não possa
ser exigido, poucos são os estabelecimentos que não os incluem na
lista de obrigações dos pais.
Outra
coisa que não vem sendo respeitada é a questão dos livros
descartáveis. O Ministério da Educação recomendou que eles não
fossem adotados, pois não servem de um ano para o outro. Todavia, o
que se observa não é exatamente isso. Há, evidentemente, um forte
exagero quanto às exigências das escolas.
Num
momento como este que o País atravessa, de economia de guerra, seria
prudente e até humano exigir apenas os materiais que fossem
realmente indispensáveis para que o aluno aprenda bem o que lhe irá
ser ensinado.
Isto
é perfeitamente possível, desde que haja um pouquinho, um mínimo
de sensibilidade e bom senso por parte dos responsáveis pela
elaboração dessas listas. Já os que produzem e vendem esse
equipamento escolar têm que se habituar ao saudável exercício da
concorrência.
Precisam
aprender a lucrar no volume de mercadorias vendidas e não no preço
unitário, e virtualmente padronizado, numa espécie de cartel
camuflado. Não há orçamento que suporte custos da dimensão do que
os pais estão tendo que arcar neste momento!
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1º de
fevereiro de 1991).
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