Difícil renegociação
Pedro J. Bondaczuk
O principal negociador da
dívida externa brasileira, embaixador Jório Dauster, retoma, hoje,
em Nova York, as negociações da nossa dívida externa, oportunidade
em que deverá mais ouvir do que falar. O Comitê Assessor dos bancos
credores, que aceitou mal a proposta feita pelo governo de Collor em
setembro passado, certamente irá contrapropor algo menos radical do
que o pagamento dos débitos de conformidade com a capacidade do País
de pagar o que, por sinal, é não somente lógico, mas o
procedimento mais racional a ser adotado numa circunstância dessas.
É oportuno que as coisas
sejam colocadas em seus devidos lugares. Negociar não significa
impor condições, de forma absoluta e intransigente. Portanto, a
perspectiva é a de que muita conversa deverá rolar --- acompanhada
de ameaças e pressões sutis ou até ostensivas da parte dos
banqueiros, de acordo com as circunstâncias --- antes que se chegue
a um princípio de entendimento.
Desta vez, a equipe
negociadora brasileira conta com um respaldo muito importante, com o
qual as anteriores não contavam: o apoio do Poder Legislativo, como
manda a nova Constituição. Isto quer dizer que tem o aval da
população, já que os legisladores, por haverem sido eleitos,
representam --- ou deveriam representar --- a opinião da maioria.
Não seria justo neste
momento, em que toda a sociedade é convocada a um enorme sacrifício
para deter um processo que já ameaçava descambar para a
hiperinflação, manter essa válvula inflacionária, que é a
exportação de capitais, aberta.
Até porque, nunca chegou a
ficar absolutamente claro para ninguém em que bases o endividamento
se deu. Se quem tomou o empréstimo estava legitimado para agir
assim. Mas este é um outro assunto. Falta uma "glasnost",
uma transparência a respeito.
Aliás, nem a questão da
dívida externa é nova e nem as penosas renegociações também o
são. O presidente Campos Sales, por exemplo, antes de assumir o
governo no início do século, renegociou os débitos, então também
insuportáveis, e em bases muito mais justas do que aquilo que os
credores atuais desejam.
Oswaldo Aranha também aliviou
o peso do desembolso, na década de 1930, durante a gestão de
Getúlio Vargas. O presidente Collor, em entrevista recente que
concedeu quando de sua visita a Portugal, no mês passado, definiu
negociações dessa natureza como um jogo. De um lado, os credores,
desejando obter um máximo de desembolso num prazo mínimo. De outro,
o devedor, pretendendo exatamente o inverso.
No mais, as declarações
bombásticas, as ameaças ostensivas ou veladas e as pressões, não
passam de táticas de jogador, querendo mostrar que tem melhores
cartas do que realmente possui.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de novembro de 1990).
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