Thursday, September 13, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Fantasma da recessão


Fantasma da recessão



Pedro J. Bondaczuk



Capital, trabalho e Poder Público se unem em São Paulo para debater os graves problemas do País, na tentativa de encontrar uma saída que leve à retomada, não propriamente do crescimento econômico, mas de certas atividades produtivas, sobretudo no segmento industrial.

É claro que se a iniciativa lograr algum êxito, ela não será no sentido de tirar o Brasil do buraco em que se encontra. Mas seria um ponto de partida para que, em seguida, a medida sensibilize outras regiões brasileiras, num efeito multiplicador que se imagina benéfico. Contudo, a tarefa é realmente gigantesca.

Aliás, no diálogo encetado na capital paulista, tem se mencionado a necessidade de encontrar fórmula que combata os efeitos da recessão. Não é, como se depreende, um pacto ambicioso que tenha o condão de acender aquela luz no fim do túnel de que tanto se fala. De fato, a retomada do desenvolvimento é tarefa complexa, porque envolve investimentos, sempre intimamente ligados a recursos, ou seja, dinheiro.

Se a retomada do crescimento econômico é complicada e difícil de ser conseguida, a recessão, ao contrário, pode obter-se sem muito esforço e num tempo relativamente curto. Aqui no Brasil há experiência de sobra: a recessão iniciada precisamente em 1981 ainda não foi suplantada, apesar de todo o esforço que as autoridades governamentais dizem ter feito.

Se dependesse de planos econômicos, a crise econômica já estaria solucionada, com o País vivendo no melhor dos mundos, porque com sua população feliz. Mas a verdade é que foram tentados programas de ajuste, ortodoxos ou heterodoxos, sem resultados animadores. Não por outra razão, empresários, trabalhadores e governo estadual buscam, através de ampla troca de ideias, um paliativo para a recessão.

Todavia, admite-se que nenhuma ideia anti recessão será levada avante, com sucesso se o governo federal não demonstrar simpatia por ela, dando-lhe apoio. Aí é que o carro pega, porque ao Planalto interessa a recessão, neste momento, com o que esperar enfrentar e controlar a inflação.

Ainda mais agora, quando acertou seu relógio com o do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os fatos indicam claramente que a marcha lenta da economia é estimulada pelo governo federal. Por isso mesmo, ele acena com certo aquecimento econômico, só a partir de 1993.

Essa constatação, contudo, não deve desestimular os que esperam encontrar uma brecha para driblar, mesmo que em parte, o fantasma da recessão. A própria possibilidade de entendimento entre trabalhadores, empresários e governo estadual já é um grande passo.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de janeiro de 1992).



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