Fantasma da recessão
Pedro J. Bondaczuk
Capital, trabalho e Poder
Público se unem em São Paulo para debater os graves problemas do
País, na tentativa de encontrar uma saída que leve à retomada, não
propriamente do crescimento econômico, mas de certas atividades
produtivas, sobretudo no segmento industrial.
É claro que se a iniciativa
lograr algum êxito, ela não será no sentido de tirar o Brasil do
buraco em que se encontra. Mas seria um ponto de partida para que, em
seguida, a medida sensibilize outras regiões brasileiras, num efeito
multiplicador que se imagina benéfico. Contudo, a tarefa é
realmente gigantesca.
Aliás, no diálogo encetado
na capital paulista, tem se mencionado a necessidade de encontrar
fórmula que combata os efeitos da recessão. Não é, como se
depreende, um pacto ambicioso que tenha o condão de acender aquela
luz no fim do túnel de que tanto se fala. De fato, a retomada do
desenvolvimento é tarefa complexa, porque envolve investimentos,
sempre intimamente ligados a recursos, ou seja, dinheiro.
Se a retomada do crescimento
econômico é complicada e difícil de ser conseguida, a recessão,
ao contrário, pode obter-se sem muito esforço e num tempo
relativamente curto. Aqui no Brasil há experiência de sobra: a
recessão iniciada precisamente em 1981 ainda não foi suplantada,
apesar de todo o esforço que as autoridades governamentais dizem ter
feito.
Se dependesse de planos
econômicos, a crise econômica já estaria solucionada, com o País
vivendo no melhor dos mundos, porque com sua população feliz. Mas a
verdade é que foram tentados programas de ajuste, ortodoxos ou
heterodoxos, sem resultados animadores. Não por outra razão,
empresários, trabalhadores e governo estadual buscam, através de
ampla troca de ideias, um paliativo para a recessão.
Todavia, admite-se que nenhuma
ideia anti recessão será levada avante, com sucesso se o governo
federal não demonstrar simpatia por ela, dando-lhe apoio. Aí é que
o carro pega, porque ao Planalto interessa a recessão, neste
momento, com o que esperar enfrentar e controlar a inflação.
Ainda mais agora, quando
acertou seu relógio com o do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os fatos indicam claramente que a marcha lenta da economia é
estimulada pelo governo federal. Por isso mesmo, ele acena com certo
aquecimento econômico, só a partir de 1993.
Essa constatação, contudo,
não deve desestimular os que esperam encontrar uma brecha para
driblar, mesmo que em parte, o fantasma da recessão. A própria
possibilidade de entendimento entre trabalhadores, empresários e
governo estadual já é um grande passo.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de janeiro de 1992).
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