Fazer
rir e fazer chorar
Pedro
J. Bondaczuk
O
escritor tem o dom de mexer com as emoções, ou seja, de fazer as
pessoas rirem e, com mais freqüência ainda, chorarem. E qual dessas
duas vertentes literárias vocês acham que é mais complexa e exige
maior talento, a comédia ou a tragédia? A resposta parece-me óbvia.
Basta ver quantos livros há enfocando o lado trágico da vida –
estimaria, na base do chute, em até 95% - e, em contrapartida,
quantos se debruçam sobre a faceta caricata, ridícula e por isso
risível da existência humana. Claro que fazer rir é muito mais
complicado do que fazer chorar.
Vocês
já tentaram escrever algum texto cômico, mas sem descambar para a
apelação, para a escatologia barata, para o escracho de alguém,
para a exploração dos defeitos físicos de quem foi punido pela
natureza, que provocasse o riso (já nem digo gargalhada) até do
sujeito mais sisudo e mal-humorado? Tentem para ver se é fácil.
Vocês precisarão ter muito, mas muito mesmo talento e capacidade de
comunicação, além de terem que seguir o beabá de qualquer texto
literário, ou seja, escrever com absoluta correção semântica e
gramatical.
Entre
nossos escritores que tinham, ou que têm, talento para fazer os
leitores rirem, destaco dois, ambos já falecidos. O primeiro é
Sérgio Porto, mais conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte
Preta, que completaria 89 anos de idade em 11 de janeiro de 2012, mas
que morreu há 50 anos, em 30 de setembro de 1968. O segundo é
Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o queridíssimo Chico
Anysio, do qual sempre fui fã incondicional.
Acho
estranhíssimo que supostos intelectuais, do alto de sua arrogância,
torçam o nariz para os livros desses dois escritores, como se eles
fossem coisas de somenos. Tratam-nos como se fizessem “literatura
menor”, o que um mínimo de conhecimento, de informação e de
bom-senso revelaria que não fizeram. Tanto o saudoso Lalau, quanto
esse magnífico talento, que é o Chico Anysio (e não menos saudoso,
claro), são escritores de primeiríssima linha. Os livros de ambos,
deliciosos de serem lidos, ensejam-me muito mais reflexões, e por
consequência, maior aprendizado sobre a vida, do que os dramalhões
lacrimosos que lideram as tantas listas dos mais vendidos.
Não
entendo a cabeça de quem prefere a tragédia à comédia. Considero
tremendos masoquistas os que juntam aos seus sofrimentos reais, não
importa o quão intensos sejam, aos fictícios, criados por mentes
férteis e observadoras. Não me interpretem mal e não pensem que
estou fazendo apologia da alienação. O que recomendo, isso sim, é
o “tempero”, pois a vida é assim, “temperada”. Não tem,
apenas, violência, ciúme, traições, mortes e dor. Se tivesse...
estaríamos roubados!
Tirem
um tempinho diário para rir do que é risível. O riso faz muito bem
ao físico e ao espírito e, ademais, o homem é o único animal que
ri. Daí este exercício saudável e prazeroso constituir-se numa
espécie de distintivo humano, de característica exclusiva da
espécie. Aprendam a valorizar os escritores que têm esse talento,
que sabem criar situações que nos levem à gargalhada, sem debochar
das fraquezas de ninguém e nem apelar para recursos escatológicos e
primários.
Stanislaw
Ponte Preta foi assim. O sujeito precisa ser muito mal-humorado, um
verdadeiro pitt-bull, e burro como essa raça de cachorros para, em
lendo as peripécias de Tia Zulmira, do primo Altamirando, de
Bonifácio o Patriota e de outros de seus tantos personagens, não
cair na gargalhada. E Chico Anysio foi assim. Leiam os seus livros
(já li 18 deles) e verão que não exagero. Escrevi a respeito desse
escritor e quem leu a referida crônica sabe do meu apreço e
admiração por ele.
Quanto
aos que pensam que literatura é apenas um desfile de violência, de
paixões incontroláveis (e não raro inconfessáveis), de ciúmes,
vinganças, patifarias, taras etc.etc.etc. e tudo o que há de ruim
na natureza humana, aqui vai uma recomendação. Reciclem seus
conceitos. Revejam seus valores. Avaliem a vida sob todos os seus
aspectos, e não somente os negativos. Pensar negativo o tempo todo é
estar entregue a uma forma doentia de alienação, e a mais perversa
delas.
Aprenda
a rir. Ria das situações engraçadas e até das trágicas.
Certamente você já deve ter ouvido falar de tragicomédia. E,
sobretudo, valorize os mestres do humor, como foram o saudoso
Stanislaw Ponte Preta e este genial Chico Anysio.
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