Conquista
pela emoção
Pedro
J. Bondaczuk
O
escritor, quando vai escrever uma história qualquer, tem que contar
com o fator intuição, ou seja, com um “feeling” especial que o
leve a encontrar a chave não somente para o cérebro, mas,
principalmente, para o coração de um número máximo de leitores.
Não existe nenhuma fórmula mágica, prontinha para isso, que
funcione em todas as circunstâncias. Além de talento (muito
talento), ele precisa contar com um fator aleatório, que podemos
chamar de “sorte”, para produzir o enredo certo para determinada
ocasião e para um público cativo.
O
fator mais explorado por alguns escritores é o da compaixão, que
procuram despertar nos que os leem. Para isso, geralmente, recorrem a
personagens doentes, não raro com doenças terminais, que pintam com
cores simpáticas e que, mesmo condenados, despertam profunda paixão
de heróis (ou heroínas, quando o caso). Esse tipo de enredo,
contudo, é dos mais perigosos. Tende, via de regra, a descambar para
a pieguice e o consequente ridículo.
Há
os que acertam na mosca, brandem a emoção na dose certa e se
consagram. A maioria se dá mal e se arrepende da escolha feita.
Antes de tudo, é mister definir o significado de compaixão. Para
tanto, recorro, como costumo fazer, à enciclopédia eletrônica
Wikipédia, na qual confio. Conforme essa fonte, a palavra vem do
latim “compassione”. “Pode ser descrita como uma compreensão
do estado emocional de outrem”. Mas faz a ressalva que não deve
ser confundida com “empatia”, embora tenda a despertá-la.
Em
suma, conforme a Wikipédia, “a compaixão, frequentemente,
combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outro
ser senciente, bem como demonstrar especial gentileza com aqueles que
sofrem”. O escritor que escolher essa linha narrativa tem que ser
preciso, diria cirúrgico, na dose, sem exageros nem para mais e nem
para menos.
Um
dos que mais souberam “misturar as tintas”, com extrema perícia,
e encontrar a chave do coração do público, foi, sem dúvida, o
norte-americano Erich Wolf Segal. Ele conta, em seu currículo, com
pelo menos oito grandes sucessos editoriais, entre os quais a maioria
usando esse ingrediente perigoso da compaixão. O maior deles, e
duvido que haja quem nunca tenha ouvido falar dessa obra, é “Love
Story” (publicada no Brasil com o título óbvio de “História de
Amor”). A maioria, provavelmente, assistiu o filme, baseado em seu
romance. Outro livro de Segal, na mesma linha (que li, reli e achei
sensacional), foi “Apenas amor”, lançado, originalmente, pela
Biblioteca Seleções de Reader’s Digest e, posteriormente, pela
Editora Dom Quixote.
Convém
dar algumas “pinceladas” acerca desse escritor. Ele nasceu em
Nova York, em 16 de junho de 1937. Morreu em 17 de janeiro de 2010,
em Londres, onde vivia há já bom tempo, às voltas com o Mal de
Parkinson. Foi professor de Literatura na Universidade de Yale,
ocasião em que escreveu “Love Story”.
Não
tardou para que esse livro se tornasse best-seller mundial e se
transformasse em verdadeira “febre romântica”, encabeçando as
listas dos mais vendidos nos Estados Unidos em 1970 e traduzido para
33 línguas, inclusive, claro, o português. Segal tentou prolongar o
sucesso lançando uma continuação do romance, expediente que
raramente dá certo, intitulada “Oliver’s Story”, que não
teve, óbvio, a mesma trajetória ou, pelo menos, repercussão nem de
longe parecida.
“Love
Story” foi adaptado pelo próprio autor (que já era reputado e
requisitado roteirista) para o cinema e o filme, a exemplo do livro,
fez furor, tornando-se campeão de bilheteria mundo afora, estrelado
por Ryan O’Neal e Ali McGraw. De nada adiantou, pois, o rótulo
impingido por críticos – tanto ao romance, quanto à produção
cinematográfica – de história melosa, “água com açúcar”,
de apelação etc. Aliás, li o livro e assisti ao filme e não
considero justas ou pertinentes tais avaliações. Gostei de ambos. E
olhem que não sou dado a sentimentalismos.
Segal,
como informei, já era um bem-sucedido roteirista de Hollywood. Em um
de seus roteiros anteriores, havia obtido o mesmo sucesso, ou quase,
que obteve com “!Love Story”. Sabem qual foi? Foi “O submarino
amarelo”, esse mesmo que vocês estão pensando, que ele escreveu
em 1967, baseado em história de Lee Minotta. Pudera! O filme foi
estrelado por ninguém menos que o mágico “Quarteto de Liverpool”,
os Beatles, então no auge de popularidade mundial.
O
curioso, e que merece ser mencionado, é que, antes de roteirizar
“Love Story” para o cinema, Segal foi aconselhado por seu agente
literário a desistir da ideia. Sabem sob qual alegação? Por temor
de que isso arruinasse sua reputação de roteirista de ação. Isso
só comprova e dá razão à afirmação popular de que, se conselho
fosse bom, seria vendido e não dado. Quem fez essa revelação foi a
filha mais velha do escritor, Francesca, num artigo que publicou em
2008.
Caso
Erich Segal tivesse seguido a infeliz (mas provavelmente
bem-intencionada) recomendação, “Love Story” não teria sido
filmado e, portanto, não ganharia um Oscar (teve, ainda, mais seis
indicações) e nem teria virado o ícone romântico que virou. Isso
sem dizer que sua conta bancária não seria razoavelmente mais
engordada, como fruto de uma história que rendeu dividendos em duas
frentes, o que não deixa de ser raridade.
Como
se vê, o filão da compaixão pode ser uma “galinha dos ovos de
ouro”, caso o escritor que se valha dele o desenvolva com perícia,
mas com moderação. Encontrar o ponto de equilíbrio, todavia, é
que são elas. E nem me perguntem onde está, pois se eu soubesse,
escreveria um romance que rivalizaria com “Love Story” ou até o
superaria, não concordam?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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