Monday, September 24, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Educar para sobreviver


Educar para sobreviver



Pedro J. Bondaczuk


O Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania, que tem por meta a redução em 70% do analfabetismo no País, foi lançado no início desta semana pelo presidente Fernando Collor de Mello. O ministro Carlos Chiarelli, da Educação, anunciou, na ocasião, a existência de uma verba de Cr$ 10 bilhões para este ano e mais Cr$ 40 bilhões para 1991, a fim de que se concretize o programa.

O analfabetismo é mal que exige total erradicação há muito tempo e que cresce a cada ano. Basta lembrar que o Brasil tem cerca de 31 milhões de analfabetos, entre adultos e crianças. Muitas propostas, e diversos planos, foram elaborados, mas poucos deixaram o papel, tendo alguns sucumbido logo após iniciados.

Apesar disso, educadores e especialistas abraçaram, com entusiasmo, a empreitada, preocupados com o ser humano iletrado, ignorante e alvo fácil das crendices e superstições que ainda dominam muitas regiões do País.

Collor afirmou, ao lançar seu plano de alfabetização, que não pode progredir um país com uma população em que 20% dos jovens acima de 15 anos de idade não sabem ler e escrever, 40 milhões de brasileiros adultos têm menos de quatro anos de escolaridade e 80 milhões não chegaram a ter sete anos de escola, acrescentando que um elevado padrão de educação foi determinante para que nações do Terceiro Mundo de desenvolvessem.

Os números são, sem dúvida, preocupantes e a situação é um desafio. Ao lado do analfabetismo, também constituem causa de grande preocupação os semialfabetizados, vítimas dos problemas não solucionados da área educacional, como a falta de verbas, a evasão escolar, a má remuneração dos professores, o número insuficiente de prédios escolares e a falta de condições de funcionamento de alguns deles, submetidos a reformas intermináveis.

Some-se a isso a pouca assistência dada às escolas, principalmente às situadas na zona rural, geralmente de difícil acesso. A educação no Brasil tem sido relegada a segundo plano, selando um futuro difícil e incerto para as novas gerações, escravizando-as primeiro à ignorância plena ou parcial e, posteriormente, às nações mais desenvolvidas.

Para se concretizar um programa – e o presidente parece estar empenhado nessa missão – é necessário, antes de tudo, que se proceda a uma análise crítica dos erros e acertos do passado, solidificando as medidas do presente para possibilitar um futuro melhor.

O desenvolvimento e o progresso de um país estão diretamente ligados à educação e à alfabetização de seus cidadãos. Melhorar a educação, destinar verbas e recursos humanos para a sua concretização, são medidas prioritárias, atreladas à própria sobrevivência de uma nação, como o Brasil.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de setembro de 1990).


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