Educar para sobreviver
Pedro
J. Bondaczuk
O
Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania, que tem por meta a
redução em 70% do analfabetismo no País, foi lançado no início
desta semana pelo presidente Fernando Collor de Mello. O ministro
Carlos Chiarelli, da Educação, anunciou, na ocasião, a existência
de uma verba de Cr$ 10 bilhões para este ano e mais Cr$ 40 bilhões
para 1991, a fim de que se concretize o programa.
O
analfabetismo é mal que exige total erradicação há muito tempo e
que cresce a cada ano. Basta lembrar que o Brasil tem cerca de 31
milhões de analfabetos, entre adultos e crianças. Muitas propostas,
e diversos planos, foram elaborados, mas poucos deixaram o papel,
tendo alguns sucumbido logo após iniciados.
Apesar
disso, educadores e especialistas abraçaram, com entusiasmo, a
empreitada, preocupados com o ser humano iletrado, ignorante e alvo
fácil das crendices e superstições que ainda dominam muitas
regiões do País.
Collor
afirmou, ao lançar seu plano de alfabetização, que não pode
progredir um país com uma população em que 20% dos jovens acima de
15 anos de idade não sabem ler e escrever, 40 milhões de
brasileiros adultos têm menos de quatro anos de escolaridade e 80
milhões não chegaram a ter sete anos de escola, acrescentando que
um elevado padrão de educação foi determinante para que nações
do Terceiro Mundo de desenvolvessem.
Os
números são, sem dúvida, preocupantes e a situação é um
desafio. Ao lado do analfabetismo, também constituem causa de grande
preocupação os semialfabetizados, vítimas dos problemas não
solucionados da área educacional, como a falta de verbas, a evasão
escolar, a má remuneração dos professores, o número insuficiente
de prédios escolares e a falta de condições de funcionamento de
alguns deles, submetidos a reformas intermináveis.
Some-se
a isso a pouca assistência dada às escolas, principalmente às
situadas na zona rural, geralmente de difícil acesso. A educação
no Brasil tem sido relegada a segundo plano, selando um futuro
difícil e incerto para as novas gerações, escravizando-as primeiro
à ignorância plena ou parcial e, posteriormente, às nações mais
desenvolvidas.
Para
se concretizar um programa – e o presidente parece estar empenhado
nessa missão – é necessário, antes de tudo, que se proceda a uma
análise crítica dos erros e acertos do passado, solidificando as
medidas do presente para possibilitar um futuro melhor.
O
desenvolvimento e o progresso de um país estão diretamente ligados
à educação e à alfabetização de seus cidadãos. Melhorar a
educação, destinar verbas e recursos humanos para a sua
concretização, são medidas prioritárias, atreladas à própria
sobrevivência de uma nação, como o Brasil.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de
setembro de 1990).
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