De
olho no sucesso
Pedro
J. Bondaczuk
O
sucesso, embora se trate de conceito um tanto ambíguo, até mesmo
vago (no mínimo inespecífico), porquanto tem significados muito
diferentes de uma pessoa para outra, será sempre bem-vindo, seja o
que for que signifique. Afinal, óbvio, mesmo o sujeito mais burro,
ou convicto masoquista, nunca inicia qualquer empreendimento – quer
profissional, quer pessoal – objetivando o fracasso. Pode até ter
em mente essa possibilidade. Contudo, pelo menos de forma consciente,
não o busca. Pelo contrário, foge dessa possibilidade.
A
obtenção do sucesso é, aos olhos da sociedade, sinal de que fomos
competentes, previdentes e aplicados no que fizemos. O oposto... Bem,
significa exatamente o contrário. Reflete, no mínimo, que cometemos
alguma ou inúmeras falhas, ou que não estávamos preparados para
sermos bem-sucedidos ou, até, que não tivemos sorte e o acaso atuou
contra nós e arruinou todos nossos projetos.
Quando
fracassamos, é porque houve algum motivo, ou endógeno (nosso, no
nosso interior) ou exógeno (por interferência de fora, alheia).
Temos que ter em mente, porém, que o sucesso, seja no que for, não
é duradouro (nada é). Acho interessante o que escreveu a respeito o
romancista italiano Alberto Moravia: “O sucesso é como um jantar
pesado – cumpre comê-lo todo, digeri-lo, eliminá-lo. E depois se
preparar para outro jantar”. Ou seja, depois de gozarmos a justa
euforia do êxito, devemos colocar à nossa frente novos objetivos a
conquistar e agir com a mesma competência, previdência e aplicação
nesse novo empreendimento. E isso a vida inteira. E contarmos, claro,
com o mesmo acaso favorável, com a mesma sorte que nos permitiu
alcançar os objetivos que buscávamos e alcançamos.
O tema é bastante rico e pode ser analisado por
inúmeros e variados aspectos. Deixo essa análise, todavia, para os
escritores de livros de autoajuda que concentram, por razões óbvias,
toda sua atenção no assunto. O conceito de sucesso, porém,
reitero, é subjetivo. Pode ter (e tem) conotação específica para
cada um de nós. Tudo depende da nossa personalidade, da visão de
vida e das expectativas que temos.
O dinheiro, por exemplo, é um parâmetro para a
maioria. É errado? Depende! A pessoa simples, que passa por
privações e que sequer é levada em conta, como se fosse mera
sombra ou até menos, por não possuir bens, tem como meta,
evidentemente, o ter, não o ser. Não entro aqui no mérito se essa
ambição é válida ou não, se traz ou não felicidade. Mas, para
um monge tibetano, por exemplo, ou para um ermitão do Oriente Médio,
ou para qualquer outro indivíduo que se despoje de aspirações
materiais, a acumulação de objetos, seja qual for seu valor
intrínseco, ou sua natureza, ou sua escassez, pouco ou nada
significa. Para tais pessoas, juntar coisas não representa ser
bem-sucedido. Provavelmente, significa o contrário. Para elas, o que
conta é o autoconhecimento, a iluminação espiritual, a
contemplação da natureza etc.
Ademais,
o sucesso não acontece por acaso, ou não só por causa dele, embora
dependa em grande medida também desse fator. Na maioria das vezes, é
fruto de planejamento, esforço, preparo e, sobretudo, vontade. As
pessoas, para serem bem-sucedidas, precisam querer isso, mas querer
de forma prática, construtiva, consciente e subconscientemente,
agindo para consegui-lo, além de acreditar nessa possibilidade.
Inúmeros pensadores já disseram, das formas mais variadas, tudo
isso, como “a fé remove montanhas”, “querer é poder” etc.,
que embora sejam verdades comprovadas, não são levadas em conta,
por já terem se transformado em clichês.
Fala-se
amiúde do fator “sorte” como determinante do fracasso ou do
sucesso. Não nego (e nem poderia) sua influência. Mas é necessário
definir com clareza e sem ambiguidade como entendemos esse conceito.
Da minha parte, entendo que sorte não é nada mais do que a pessoa
se encontrar no lugar certo, na hora adequada, para aproveitar
determinadas oportunidades. Para que isso ocorra, ela precisa estar
predisposta, preparada, apta a não deixar fugir a tal chance, que
pode ser a única (ou não).
Queremos
sempre, óbvio, ser bem-sucedidos. Mas para alcançarmos o sucesso, é
indispensável que tenhamos “objetivos”. Ter sucesso no quê? Os
objetivos tanto podem ser a conquista de um amor, quanto o cultivo de
uma profunda amizade. Tanto a ascensão profissional ou social,
quanto a glória, o poder, a fortuna e assim por diante. Mas não
basta impor metas, se não estivermos (e olha eu aqui fazendo mais
uma reiteração) preparados para chegar onde queremos.
O
sucesso requer disciplina, preparo e, sobretudo, persistência. Esses
pré-requisitos são válidos para toda e qualquer empreitada. Antes
de estabelecermos alguma meta, porém, é necessário que nos
avaliemos com rigor, sem nos subestimarmos e nem superestimarmos,
conhecendo bem até onde podemos evoluir (sempre podemos melhorar em
alguma coisa). O caminho para a conquista desse “santo graal” é
estreito e acidentado e poucas, pouquíssimas pessoas conseguem
atingir os objetivos que traçaram para suas vidas. As que conseguem
a façanha de chegar “ao cume da montanha”, todavia, não raro se
decepcionam com o fato da realidade ser muito aquém das suas
delirantes fantasias.
E
qual é a meta suprema da maioria dos mortais? Podemos constatar, com
facilidade, que desde o mais abastado dos indivíduos, proprietário
de bilhões de dólares e de riquezas sem fim, ao indigente que,
oprimido pela fome e pela desnutrição, delira e elabora fantasias
mirabolantes em torno de um imaginário prêmio de loteria, todos
querem a mesma coisa: ter, ter e ter.
O
escritor William Faulkner, notoriamente homem bem-sucedido no que se
propôs a fazer (foi um dos maiores clássicos da literatura
norte-americana e mundial), tinha uma tese peculiar acerca do
sucesso. Afirmava que se tratava de um "matador" da
criatividade, dessa ânsia de perfeição que todas as pessoas devem
ter, seja qual for sua atividade, até o último instante da vida.
O
italiano Alberto Morávia expressou, como citei antes, a mesma ideia.
Estariam ambos com a razão? Os fracassados seriam os verdadeiros
gênios das artes e das ciências? Seriam os chamados donos da
verdade? Enxergariam o que eventualmente ninguém mais vê? Claro que
não! E nem os dois escritores fizeram qualquer apologia do fracasso.
Ambos quiseram, apenas, alertar para a tendência que todos temos à
acomodação, a "dormir sobre os louros" conquistados.
Afinal o satisfeito ele mesmo, que acha que não tem mais nada a
melhorar, é, sem tirar e nem pôr, um derrotado, o paradigma do
fracassado.
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