Previsões e esperanças
Pedro J. Bondaczuk
O noticiário de fim de ano
dos jornais, em especial na área econômica, caracteriza-se por uma
série de projeções, feitas por economistas, burocratas do governo,
empresários e até especuladores, junto com os balanços anuais das
diversas áreas. Na grande maioria dos casos, quase nada do que é
previsto no ano anterior acaba se concretizando 365 dias depois. Ou
os fatos superam as expectativas ou fatores imprevistos interferem
nos resultados finais, que findam por se mostrar bastante piores do
que aquilo que foi projetado.
Este restante de dezembro não
foge à regra. A imprensa tem divulgado, nos últimos dias, previsões
e mais previsões, de toda a sorte, para a economia brasileira em
2002, quando serão escolhidos novos governadores estaduais e,
principalmente, quando será eleito o sucessor do presidente Fernando
Henrique Cardoso. Ou seja, dependendo do resultado das urnas, o País
pode ter até um novo modelo econômico a partir de 2003. Esta, no
entanto, já é uma outra história.
Uma das projeções para o ano
que vem é a de que a balança comercial brasileira --- que neste
ano, pela primeira vez na era FHC com a sua política neoliberal
caracterizada pela abertura total do nosso mercado aos produtos
estrangeiros, registra ligeiro superávit (em torno de R$ 1,8 bilhão)
--- vai multiplicar por quatro a diferença positiva. Fecharia, por
consequência, 2002 com cerca de R$ 5 bilhões a mais de recursos
externos obtidos com as exportações do que o volume de dinheiro
desembolsado para pagar as importações. Tomara que isso seja mais
do que mero exercício de "chutometria" e se configure como
uma projeção séria, baseada apenas em dados concretos. Essa é a
melhor forma do Brasil aumentar a sua reserva de moeda forte.
Outra previsão, feita por
economistas de diversas tendências, diz respeito à inflação, que
teve um comportamento anormal em 2001, superando (e em muito), já em
novembro, a meta pactuada com o Fundo Monetário Internacional, de
4% no ano todo, com margem de manobra de 2% para cima ou para baixo.
As previsões são de que ela não passe de 5,5% no ano que vem. Já
passou de 8% neste, antes do fechamento da apuração deste dezembro,
qualquer que seja o índice tomado como base (dos inúmeros que há
por aí).
É certo que a tendência da
inflação, para 2002, é nitidamente de baixa, a menos que qualquer
fator externo novo, imprevisível, venha a se manifestar. A economia
brasileira é extremamente dependente do Exterior. Mas, se não
houver nenhum acidente de percurso, qualquer pessoa bem informada
terá condições de fazer uma previsão com elevada probabilidade de
acerto, mesmo que não seja especialista na área econômica.
Senão, vejamos: O País
espera colher outra safra recorde de grãos, pressionando os preços
dos alimentos para baixo. Os meteorologistas preveem chuvas acima da
média em todas as regiões, o que tende a descartar tanto o
racionamento de energia elétrica, quanto os temidos "apagões".
Não haveria, portanto, nenhuma razão para reajustes das tarifas de
eletricidade nos mesmos patamares deste ano.
O valor do barril de petróleo
está despencando no mercado internacional, garantia de estabilidade
no preço dos combustíveis, que tem peso considerável no custo dos
produtos. E, o principal para um País que importa tanto como o
nosso: a cotação do dólar regrediu dramaticamente, nos últimos
dias, para R$ 2,37, com possibilidades de cair ainda mais.
Teoricamente, portanto, não se prevê nada que pressione a inflação
para cima. Mantidas as condições ideais, é possível, até, prever
que a taxa feche 2002 em 4% ou até menos.
Os economistas mais afoitos
preveem um crescimento do Produto Interno Bruto em 4,5%. Exagero! Ao
longo dos dois mandatos do governo de Fernando Henrique Cardoso, o
PIB nunca cresceu tanto e não será agora que isso vai acontecer.
Aliás, registrou, em todo esse período de crises e de dificuldades,
um resultado pífio, raramente superando o crescimento vegetativo da
população, o que reduziu a renda per capita do brasileiro.
Neste ano, graças ao
excelente desempenho da agricultura (o Brasil, contrariando a
política oficial, aos trancos e barrancos, cumpre sua inequívoca
vocação agrícola), cresceu 2,17%, conforme projeções feitas no
mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
A previsão mais realista,
para o Produto Interno Bruto, (e isto se as condições ideais da
economia nacionais e internacionais de fato vierem a se configurar),
é de um crescimento em torno de 2,5%. A expectativa é de geração
de novos empregos em 2002, notadamente na área industrial,
insuficiente, no entanto, para reduzir consideravelmente a taxa
nacional média de desemprego atual, ao redor de 7,2%.
Convém não confundir,
contudo, projeções racionais, técnicas, objetivas, baseadas em
dados concretos, com as nossas esperanças, que são (e devem ser)
infinitas. Dificilmente, porém, a menos que os responsáveis pela
economia do País façam alguma enorme barbeiragem, o desempenho
econômico brasileiro em 2002 será pior do que em 2001. Convém
anotar essas previsões, para conferir, no final do ano que vem,
quantas e quais se concretizaram.
(Editorial da Folha do
Taquaral de 13 de dezembro de 2001).
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