Wednesday, September 05, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Previsões e esperanças


Previsões e esperanças


Pedro J. Bondaczuk


O noticiário de fim de ano dos jornais, em especial na área econômica, caracteriza-se por uma série de projeções, feitas por economistas, burocratas do governo, empresários e até especuladores, junto com os balanços anuais das diversas áreas. Na grande maioria dos casos, quase nada do que é previsto no ano anterior acaba se concretizando 365 dias depois. Ou os fatos superam as expectativas ou fatores imprevistos interferem nos resultados finais, que findam por se mostrar bastante piores do que aquilo que foi projetado.

Este restante de dezembro não foge à regra. A imprensa tem divulgado, nos últimos dias, previsões e mais previsões, de toda a sorte, para a economia brasileira em 2002, quando serão escolhidos novos governadores estaduais e, principalmente, quando será eleito o sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ou seja, dependendo do resultado das urnas, o País pode ter até um novo modelo econômico a partir de 2003. Esta, no entanto, já é uma outra história.

Uma das projeções para o ano que vem é a de que a balança comercial brasileira --- que neste ano, pela primeira vez na era FHC com a sua política neoliberal caracterizada pela abertura total do nosso mercado aos produtos estrangeiros, registra ligeiro superávit (em torno de R$ 1,8 bilhão) --- vai multiplicar por quatro a diferença positiva. Fecharia, por consequência, 2002 com cerca de R$ 5 bilhões a mais de recursos externos obtidos com as exportações do que o volume de dinheiro desembolsado para pagar as importações. Tomara que isso seja mais do que mero exercício de "chutometria" e se configure como uma projeção séria, baseada apenas em dados concretos. Essa é a melhor forma do Brasil aumentar a sua reserva de moeda forte.

Outra previsão, feita por economistas de diversas tendências, diz respeito à inflação, que teve um comportamento anormal em 2001, superando (e em muito), já em novembro, a meta pactuada com o Fundo Monetário Internacional, de 4% no ano todo, com margem de manobra de 2% para cima ou para baixo. As previsões são de que ela não passe de 5,5% no ano que vem. Já passou de 8% neste, antes do fechamento da apuração deste dezembro, qualquer que seja o índice tomado como base (dos inúmeros que há por aí).

É certo que a tendência da inflação, para 2002, é nitidamente de baixa, a menos que qualquer fator externo novo, imprevisível, venha a se manifestar. A economia brasileira é extremamente dependente do Exterior. Mas, se não houver nenhum acidente de percurso, qualquer pessoa bem informada terá condições de fazer uma previsão com elevada probabilidade de acerto, mesmo que não seja especialista na área econômica.

Senão, vejamos: O País espera colher outra safra recorde de grãos, pressionando os preços dos alimentos para baixo. Os meteorologistas preveem chuvas acima da média em todas as regiões, o que tende a descartar tanto o racionamento de energia elétrica, quanto os temidos "apagões". Não haveria, portanto, nenhuma razão para reajustes das tarifas de eletricidade nos mesmos patamares deste ano.

O valor do barril de petróleo está despencando no mercado internacional, garantia de estabilidade no preço dos combustíveis, que tem peso considerável no custo dos produtos. E, o principal para um País que importa tanto como o nosso: a cotação do dólar regrediu dramaticamente, nos últimos dias, para R$ 2,37, com possibilidades de cair ainda mais. Teoricamente, portanto, não se prevê nada que pressione a inflação para cima. Mantidas as condições ideais, é possível, até, prever que a taxa feche 2002 em 4% ou até menos.

Os economistas mais afoitos preveem um crescimento do Produto Interno Bruto em 4,5%. Exagero! Ao longo dos dois mandatos do governo de Fernando Henrique Cardoso, o PIB nunca cresceu tanto e não será agora que isso vai acontecer. Aliás, registrou, em todo esse período de crises e de dificuldades, um resultado pífio, raramente superando o crescimento vegetativo da população, o que reduziu a renda per capita do brasileiro.

Neste ano, graças ao excelente desempenho da agricultura (o Brasil, contrariando a política oficial, aos trancos e barrancos, cumpre sua inequívoca vocação agrícola), cresceu 2,17%, conforme projeções feitas no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A previsão mais realista, para o Produto Interno Bruto, (e isto se as condições ideais da economia nacionais e internacionais de fato vierem a se configurar), é de um crescimento em torno de 2,5%. A expectativa é de geração de novos empregos em 2002, notadamente na área industrial, insuficiente, no entanto, para reduzir consideravelmente a taxa nacional média de desemprego atual, ao redor de 7,2%.

Convém não confundir, contudo, projeções racionais, técnicas, objetivas, baseadas em dados concretos, com as nossas esperanças, que são (e devem ser) infinitas. Dificilmente, porém, a menos que os responsáveis pela economia do País façam alguma enorme barbeiragem, o desempenho econômico brasileiro em 2002 será pior do que em 2001. Convém anotar essas previsões, para conferir, no final do ano que vem, quantas e quais se concretizaram.


(Editorial da Folha do Taquaral de 13 de dezembro de 2001).



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