Saturday, September 15, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Retração econômica


Retração econômica



Pedro J. Bondaczuk



A meta de crescimento econômico do governo, em torno de 3% no corrente ano --- alguns mais otimistas, como a ex-ministra do Planejamento, Yeda Crusius, chegaram a projetar 6% --- pode estar sendo comprometida. Certos indicadores de dificuldades financeiras das empresas, que haviam refletido relativa recuperação, começam a dar sinais de reversão de expectativas no balanço do primeiro semestre de 1996.

Por exemplo, as indústrias paulistas, que tinham voltado a fazer discretas admissões em fins de junho, voltaram a apresentar números negativos na primeira semana deste mês, quando o nível de emprego registrou queda de 0,15%. Ou seja, foram fechados mais 3.473 postos de trabalho.

Estes vieram a se somar aos 104.960 fechados em 1996 e aos 292.668 nos últimos 12 meses. Como se vê, trata-se de um contingente considerável, levando-se em conta que os números se referem a um só setor e de apenas um Estado.

Menos gente empregada significa menor massa salarial e, por consequência, vendas mais reduzidas. Considere-se, porém, que essa queda ocorre apesar das facilidades dadas pelo comércio, em especial a partir de junho passado, com a ampliação do crédito ao consumo.

É verdade que não se pode generalizar tomando por base apenas esse setor da economia (no caso a indústria) e desse único Estado, mesmo que seja São Paulo, carro-chefe da atividade econômica do País. Ainda assim, os dados preocupam.

Há, sim, uma recuperação em marcha, mas bem mais lenta do que a apregoada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. A estimativa mais viável para o crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro em 1996, posto que conservadora, é de 2,5% no máximo. Qualquer coisa que passar disso será agradável surpresa.

Por outro lado, as falências aumentaram 88% no segundo ano do Plano Real, em comparação com o primeiro, o que faz supor mais desemprego ainda, menor massa salarial e por consequência, menos vendas. Os dados são da Centralização dos Serviços de Bancos S.A (Serasa).

Por exemplo, o levantamento desse órgão constata que no período de julho de 1995 a junho de 1996, as falências requeridas envolveram 46.047 empresas. Claro que nem todas foram decretadas. Muitas conseguiram solver seus compromissos e se salvar.

Mas a cifra dá bem a ideia do quadro de dificuldades no Estado mais rico da Federação. No primeiro ano do Real esse número havia sido quase três vezes menor, de 16.243 e no anterior ao plano, mais baixo ainda, de 13.284.

A notícia pior, porém, não é esta. É a de que a insolvência em São Paulo voltou a crescer na primeira quinzena deste mês. Os pedidos de falência foram 638, ou 22,9% maiores do que os requerimentos registrados no mesmo período de 1995. Tanto em São Paulo, quanto em Campinas --- conforme constatação da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic) --- há sinais no comércio da volta da inadimplência.

Está na hora, portanto, do governo adotar novas medidas de estímulo à economia para que se consiga alcançar pelo menos a meta mínima de crescimento de 1996 e, sobretudo, para, senão recuperar, pelo menos não agravar a terrível crise social que se abate sobre os brasileiros.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de julho de 1996).



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