Retração econômica
Pedro J. Bondaczuk
A meta de crescimento
econômico do governo, em torno de 3% no corrente ano --- alguns mais
otimistas, como a ex-ministra do Planejamento, Yeda Crusius, chegaram
a projetar 6% --- pode estar sendo comprometida. Certos indicadores
de dificuldades financeiras das empresas, que haviam refletido
relativa recuperação, começam a dar sinais de reversão de
expectativas no balanço do primeiro semestre de 1996.
Por exemplo, as indústrias
paulistas, que tinham voltado a fazer discretas admissões em fins de
junho, voltaram a apresentar números negativos na primeira semana
deste mês, quando o nível de emprego registrou queda de 0,15%. Ou
seja, foram fechados mais 3.473 postos de trabalho.
Estes vieram a se somar aos
104.960 fechados em 1996 e aos 292.668 nos últimos 12 meses. Como se
vê, trata-se de um contingente considerável, levando-se em conta
que os números se referem a um só setor e de apenas um Estado.
Menos gente empregada
significa menor massa salarial e, por consequência, vendas mais
reduzidas. Considere-se, porém, que essa queda ocorre apesar das
facilidades dadas pelo comércio, em especial a partir de junho
passado, com a ampliação do crédito ao consumo.
É verdade que não se pode
generalizar tomando por base apenas esse setor da economia (no caso a
indústria) e desse único Estado, mesmo que seja São Paulo,
carro-chefe da atividade econômica do País. Ainda assim, os dados
preocupam.
Há, sim, uma recuperação em
marcha, mas bem mais lenta do que a apregoada pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso. A estimativa mais viável para o
crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro em 1996, posto que
conservadora, é de 2,5% no máximo. Qualquer coisa que passar disso
será agradável surpresa.
Por outro lado, as falências
aumentaram 88% no segundo ano do Plano Real, em comparação com o
primeiro, o que faz supor mais desemprego ainda, menor massa salarial
e por consequência, menos vendas. Os dados são da Centralização
dos Serviços de Bancos S.A (Serasa).
Por exemplo, o levantamento
desse órgão constata que no período de julho de 1995 a junho de
1996, as falências requeridas envolveram 46.047 empresas. Claro que
nem todas foram decretadas. Muitas conseguiram solver seus
compromissos e se salvar.
Mas a cifra dá bem a ideia do
quadro de dificuldades no Estado mais rico da Federação. No
primeiro ano do Real esse número havia sido quase três vezes menor,
de 16.243 e no anterior ao plano, mais baixo ainda, de 13.284.
A notícia pior, porém, não
é esta. É a de que a insolvência em São Paulo voltou a crescer na
primeira quinzena deste mês. Os pedidos de falência foram 638, ou
22,9% maiores do que os requerimentos registrados no mesmo período
de 1995. Tanto em São Paulo, quanto em Campinas --- conforme
constatação da Associação Comercial e Industrial de Campinas
(Acic) --- há sinais no comércio da volta da inadimplência.
Está na hora, portanto, do
governo adotar novas medidas de estímulo à economia para que se
consiga alcançar pelo menos a meta mínima de crescimento de 1996 e,
sobretudo, para, senão recuperar, pelo menos não agravar a terrível
crise social que se abate sobre os brasileiros.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de julho
de 1996).
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