Wednesday, September 26, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Escolas e penitenciárias


Escolas e penitenciárias



Pedro J. Bondaczuk


O ministro Carlos Chiarelli anunciou, na sexta-feira, o Programa Nacional de Educação, cuja prioridade é a alfabetização. Tal plano, pela sua extensão e complexidade, requer uma cuidadosa avaliação sobre se é aquilo que o País precisa no setor educacional ou se não passa de outro dos tantos projetos mirabolantes que já foram apresentados, que são bonitos só no papel.

O fato é que o Brasil carece de uma reforma nesse campo que, principalmente, resgate a escola pública, lhe dando qualidade. Para isso, é preciso que a principal peça de todo o sistema, o professor, seja tratada de forma muito diversa da atual. Que o professor seja prestigiado, valorizado e, sobretudo, remunerado com justiça em sua imensa responsabilidade, que é a de formar a mentalidade do brasileiro de amanhã.

O programa, para satisfazer às necessidades nacionais, precisa, de alguma forma, atrair para as escolas as mais de sete milhões de crianças brasileiras abandonadas, e que, se algo não for feito, descambarão, fatalmente, para a criminalidade em pouco tempo.

O coordenador nacional do Movimento de Meninos e Meninas de Rua, Volmer Nascimento – que precisa mudar, constantemente, de endereço e está sob a proteção permanente da Polícia Federal devido ameaças de morte recebidas por denunciar grupos de extermínio de menores – afirma que 1990 foi um ano terrível para aqueles a quem representa.

Destacou que foi o pior, pelo menos dos últimos tempos, para a criança carente no Brasil. E o governo, que desde a posse do presidente Fernando Collor, apregoou uma pretensa preocupação prioritária com a infância abandonada, pouco fez de prático para mudar o assombroso quadro de abandono, a não ser criar um simbólico “Ministério da Criança”, de efeito puramente político.

Todos esses meninos e meninas de rua têm que ir à escola, pois lá é o seu lugar. Se não existirem salas de aula suficientes para todos, que se dê algum jeito. Que se invista maciçamente nesse setor, em detrimento de tantos outros menos importantes. Porque a opção é terrível e, principalmente, inexorável.

Um governo que se recuse a construir escolas, ou as construa em número insuficiente, fatalmente, em pouquíssimo tempo, terá que fazer inversões de grande porte em penitenciárias. A esperança, portanto, é que o Programa Nacional de Educação, anunciado, pomposamente, na sexta-feira, seja muito mais do que outra mera peça de promoção política do governo Collor.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1º de janeiro de 1991).


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