Escolas e penitenciárias
Pedro
J. Bondaczuk
O
ministro Carlos Chiarelli anunciou, na sexta-feira, o Programa
Nacional de Educação, cuja prioridade é a alfabetização. Tal
plano, pela sua extensão e complexidade, requer uma cuidadosa
avaliação sobre se é aquilo que o País precisa no setor
educacional ou se não passa de outro dos tantos projetos
mirabolantes que já foram apresentados, que são bonitos só no
papel.
O
fato é que o Brasil carece de uma reforma nesse campo que,
principalmente, resgate a escola pública, lhe dando qualidade. Para
isso, é preciso que a principal peça de todo o sistema, o
professor, seja tratada de forma muito diversa da atual. Que o
professor seja prestigiado, valorizado e, sobretudo, remunerado com
justiça em sua imensa responsabilidade, que é a de formar a
mentalidade do brasileiro de amanhã.
O
programa, para satisfazer às necessidades nacionais, precisa, de
alguma forma, atrair para as escolas as mais de sete milhões de
crianças brasileiras abandonadas, e que, se algo não for feito,
descambarão, fatalmente, para a criminalidade em pouco tempo.
O
coordenador nacional do Movimento de Meninos e Meninas de Rua, Volmer
Nascimento – que precisa mudar, constantemente, de endereço e está
sob a proteção permanente da Polícia Federal devido ameaças de
morte recebidas por denunciar grupos de extermínio de menores –
afirma que 1990 foi um ano terrível para aqueles a quem representa.
Destacou
que foi o pior, pelo menos dos últimos tempos, para a criança
carente no Brasil. E o governo, que desde a posse do presidente
Fernando Collor, apregoou uma pretensa preocupação prioritária com
a infância abandonada, pouco fez de prático para mudar o assombroso
quadro de abandono, a não ser criar um simbólico “Ministério da
Criança”, de efeito puramente político.
Todos
esses meninos e meninas de rua têm que ir à escola, pois lá é o
seu lugar. Se não existirem salas de aula suficientes para todos,
que se dê algum jeito. Que se invista maciçamente nesse setor, em
detrimento de tantos outros menos importantes. Porque a opção é
terrível e, principalmente, inexorável.
Um
governo que se recuse a construir escolas, ou as construa em número
insuficiente, fatalmente, em pouquíssimo tempo, terá que fazer
inversões de grande porte em penitenciárias. A esperança,
portanto, é que o Programa Nacional de Educação, anunciado,
pomposamente, na sexta-feira, seja muito mais do que outra mera peça
de promoção política do governo Collor.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1º de
janeiro de 1991).
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