Friday, September 21, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Pés no chão


Pés no chão



Pedro J. Bondaczuk


A verdadeira tempestade econômica que se abateu sobre o mercado de câmbio, na semana retrasada, com a súbita valorização do dólar, que vem sendo desvalorizado em quase todo o mundo, amainou. Agora é a hora de contabilizar lucros e perdas.

No confronto entre especuladores e governo, este último parece ter levado a melhor, preservando o Plano Real. Grande parte da crise, porém, deveu-se à desinformação, devidamente explorada por espertalhões, que sabem como lidar com ela para conseguir vantagens. Falta alguém, na atual equipe econômica, com o poder de comunicação do ex-ministro da Fazenda e atual presidente, Fernando Henrique Cardoso. Ou mesmo de um Rubens Ricupero. Falta esse alguém que venha a público e, com serenidade, esclareça a população, desfazendo a boataria.

Falta um ministro com personalidade forte, como Ciro Gomes, que, embora com agressividade às vezes desnecessária, sabia repor as coisas nos devidos lugares. Desfazia versões, esclarecia rumores e até dava nome aos bois, apontando os sabotadores do plano e ridicularizando os que se deixavam enganar por espertalhões, como no caso do ágio sobre compras de carros novos, em que classificou de otários os que se dispunham a pagar esse sobrepreço.

O incidente mostrou uma série de defeitos de comunicação da atual equipe de governo. Bastou um único depoimento do presidente do Banco Central, Pérsio Arida, no Congresso, para que a calma voltasse a imperar. Outra lição que se pode extrair dessa turbulência, além da constatação da existência de muitos desinformados, externos e internos, é a de que nem todos confiam, ainda, no êxito do Plano Real. E, mais do que isso, há sérios e declarados inimigos do programa de ajuste, nada difíceis de identificar.

São, obviamente, os que ganharam muito dinheiro com a inflação e que não se conformam em deixar de obter esse lucro fácil, às custas, evidentemente, dos que recebem salários baixos. Estes, certamente, não vão parar por aí. E novas e, possivelmente, até piores turbulências financeiras tendem a acontecer.

É preciso, antes de dar ouvidos a determinados tipos de informação, conferir os rumores em fontes dignas de crédito. Dificuldades para que o ajuste que se pretende não vão faltar. Não se vence um processo hiperinflacionário sem sacrifícios e sobressaltos. Compete ao governo e, em especial, à equipe econômica, manter a sociedade informada sobre os êxitos e sobre os riscos do Plano Real. É preciso uma política aberta, leal, transparente e, sobretudo, de pés no chão, para que o esforço concentrado dê certo. E vai dar!

(Editorial publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 25 de março de 1995).


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