Pés no chão
Pedro
J. Bondaczuk
A
verdadeira tempestade econômica que se abateu sobre o mercado de
câmbio, na semana retrasada, com a súbita valorização do dólar,
que vem sendo desvalorizado em quase todo o mundo, amainou. Agora é
a hora de contabilizar lucros e perdas.
No
confronto entre especuladores e governo, este último parece ter
levado a melhor, preservando o Plano Real. Grande parte da crise,
porém, deveu-se à desinformação, devidamente explorada por
espertalhões, que sabem como lidar com ela para conseguir vantagens.
Falta alguém, na atual equipe econômica, com o poder de comunicação
do ex-ministro da Fazenda e atual presidente, Fernando Henrique
Cardoso. Ou mesmo de um Rubens Ricupero. Falta esse alguém que venha
a público e, com serenidade, esclareça a população, desfazendo a
boataria.
Falta
um ministro com personalidade forte, como Ciro Gomes, que, embora com
agressividade às vezes desnecessária, sabia repor as coisas nos
devidos lugares. Desfazia versões, esclarecia rumores e até dava
nome aos bois, apontando os sabotadores do plano e ridicularizando os
que se deixavam enganar por espertalhões, como no caso do ágio
sobre compras de carros novos, em que classificou de otários os que
se dispunham a pagar esse sobrepreço.
O
incidente mostrou uma série de defeitos de comunicação da atual
equipe de governo. Bastou um único depoimento do presidente do Banco
Central, Pérsio Arida, no Congresso, para que a calma voltasse a
imperar. Outra lição que se pode extrair dessa turbulência, além
da constatação da existência de muitos desinformados, externos e
internos, é a de que nem todos confiam, ainda, no êxito do Plano
Real. E, mais do que isso, há sérios e declarados inimigos do
programa de ajuste, nada difíceis de identificar.
São,
obviamente, os que ganharam muito dinheiro com a inflação e que não
se conformam em deixar de obter esse lucro fácil, às custas,
evidentemente, dos que recebem salários baixos. Estes, certamente,
não vão parar por aí. E novas e, possivelmente, até piores
turbulências financeiras tendem a acontecer.
É
preciso, antes de dar ouvidos a determinados tipos de informação,
conferir os rumores em fontes dignas de crédito. Dificuldades para
que o ajuste que se pretende não vão faltar. Não se vence um
processo hiperinflacionário sem sacrifícios e sobressaltos. Compete
ao governo e, em especial, à equipe econômica, manter a sociedade
informada sobre os êxitos e sobre os riscos do Plano Real. É
preciso uma política aberta, leal, transparente e, sobretudo, de pés
no chão, para que o esforço concentrado dê certo. E vai dar!
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 25 de
março de 1995).
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