Todos temos, em maior ou menor
quantidade, lembranças amargas de fracassos profissionais, de amores que não
deram certo, mas deixaram marcas; de sonhos nunca concretizados ou de ideais
que deixamos pelo caminho sem que saibamos a razão. O mais prudente e sábio é,
se possível, nos livrarmos dessas “quinquilharias” emocionais, que só ocupam
espaço que poderia ser preenchido com recordações agradáveis, de sucessos, de
afetos marcantes, de coisas que pareciam impossíveis de serem feitas e que o
foram e de novas metas a nos conferirem motivação e sentido. Devemos proceder
como fazemos, vez ou outra, com os quartos de “bagunça” que quase todos temos
em casa (ou nos fundos de uma garagem) onde acumulamos objetos sem uso, em
geral quebrados. Seria mais prático comprar outros, mas teimosamente pensamos
em consertá-los um dia, mas nunca os consertamos. Lá um belo dia, criamos
coragem e nos desfazemos dessas bugigangas. É certo que não demora muito para
preenchermos esse espaço com novas quinquilharias. Com as lembranças, porém, é
conveniente não agir assim. É sábio não renovar as que eram ruins e foram
descartadas.
A atitude prudente, que devemos
adotar, em nossa busca pela felicidade e saúde mental, é nos livrarmos de
lembranças amargas de fracassos profissionais, de amores que não deram certo,
de sonhos nunca concretizados ou de ideais que deixamos pelo caminho e nunca
mais acumularmos novas recordações dolorosas. Isso é mais questão de
auto-condicionamento do que de personalidade. Por que represar emoções inúteis
e, pior, que causem sofrimento, nos subterrâneos da alma? O poeta Afonso
Schmidt tem um soberbo soneto a esse propósito, intitulado “Barba-azul”. E ele
o encerra com estes magníficos tercetos, em que diz:
“Neste beijo, porei nas tuas mãos suaves
o maldito esplendor das áureas
sete chaves
do velho coração...Vem habitá-lo,
pois,
não devasses, porém, subterrâneos
e fossos;
morrerás de pavor, se vires os
destroços
das quimeras que amei e trucidei
depois”.
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Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
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