A primeira vez é
inesquecível
Pedro
J. Bondaczuk
A origem de
determinadas ações nossas têm muita importância histórica caso, claro, estas se
tornem relevantes em nossa biografia e mereçamos ser biografados.
Estranhamente, no entanto, esse é um aspecto de que quase sempre nos
descuidamos, o que deixa, desnecessariamente, muita coisa no ar. Dia desses um
leitor questionou-me a propósito de como e quando comecei a escrever crônicas,
o que, com o tempo, se tornou hábito, algo trivial e automático na minha rotina
diária, como a higiene pessoal, o café da manhã, as refeições etc.etc.etc. Como
tenho obsessão por organização, recorri aos meus diários e lá encontrei essa
“origem”. Se é importante ou não, não posso dizer. Deve ser, caso contrário
ninguém me questionaria a respeito.
Antes de tudo, até por
questão de justiça, devo mencionar os responsáveis por eu haver me tornado
cronista (se bom ou mau, deixo o julgamento por conta dos únicos habilitados a
tal: os leitores). Tudo começou em 1993, aqui em Campinas, onde resido há
exatos cinqüenta anos. Quem me convenceu a aceitar esse desafio foi o casal
proprietário da “Folha do Taquaral”, Osmar e Eliana Saboto. Para melhor
entendimento, faz-se necessário que eu trate, mesmo que em poucas palavras,
desse veículo de comunicação. Trata-se de um jornal de bairro, de circulação
gratuita, mantido (com dificuldades, como qualquer empreendimento do gênero no
País) exclusivamente por anunciantes. Neste mês de setembro, completa 23 anos
de vitoriosa trajetória, com mais de 400 edições já produzidas e alguns milhões
de exemplares distribuídos, entregues, em mãos, rigorosamente de graça, a
leitores de 29 bairros de Campinas. Uma façanha, sem dúvida, em se tratando de
Brasil.
A “Folha do Taquaral”,
entre outras tantas coisas boas que faz em benefício de Campinas, é uma espécie
de escola prática de jornalismo. Muitos jornalistas, que hoje brilham em
grandes jornais (quer da cidade, quer de outras partes do País), passaram por
sua redação. Como se vê, não é pouca coisa;. Muito pelo contrário. O Taquaral é
um dos bairros mais tradicionais desta metrópole interiorana, de mais de um
milhão de habitantes. Diz-se (não tenho certeza) que foi, num passado remoto,
parte de uma fazenda pertencente à família do fundador de Campinas, o
bandeirante Francisco Barreto Leme. Tem, portanto, além de relevância urbana, a
histórica para a cidade.
Quando aceitei o
desafio de ser cronista do jornal, este já circulava há dois anos. Minha
experiência toda até então era puramente jornalística. As raras incursões
literárias que havia feito eram todas inéditas. Já tinha gavetas e mais gavetas
repletas de contos e de poemas, que não me atrevia, contudo, a mostrar para
ninguém, nem mesmo á minha mulher. Mas nunca havia escrito uma única e reles
crônica. Jamais havia tentado nada do tipo, embora tivesse algumas prateleiras
da minha biblioteca repletas de livros do gênero, além de centenas de recortes
de jornais em minha hemeroteca.
Na oportunidade, é
certo, eu já tinha duas décadas de experiência em jornalismo, tanto como
editor, quanto, e principalmente, como comentarista de política internacional.
Comecei a escrever artigos sobre o tema em outro jornal de bairro, a “Folha de
Barão”, do Distrito de Barão Geraldo. Daí, evoluí para o Diário do Povo, onde,
por quatro anos consecutivos, publiquei, diariamente, meus comentários sobre o
que se passava no mundo. Mas minha experiência maior nesse campo se deu no
Correio Popular. Ali, fui comentarista de política internacional, diário, por
quinze anos ininterruptos. Mas crônicas, até então... jamais havia escrito.
Comecei a escrever as
primeiras, timidamente, com a insegurança característica dos que fazem algo
pela primeira vez, quando a Folha do Taquaral completava o seu segundo ano.
Baita responsabilidade! À medida, porém,
que recebia manifestações favoráveis de leitores (além de incentivos constantes
do Osmar e da Eliana), minha confiança foi crescendo. E a qualidade, óbvio, foi
melhorando. Afinal a prática (salvo exceções) tende a conduzir à perfeição. Não
tardou para que a crônica se tornasse o que é hoje, mais do que nunca: rotina
em minha vida. Algo prazeroso e imprescindível. Daí para um livro no gênero,
foi um pulo, ou um piscar de olhos.
Permaneci como cronista
da “Folha do Taquaral” por quinze memoráveis e felizes anos, do que muito me
orgulho e me envaideço. Deixei de ser colaborador do jornal há seis anos, mas
somente em decorrência de força maior, ou seja, de inúmeros outros compromissos
profissionais que assumi, e que não me permitiram conciliar horários. Mas
esse veículo de comunicação incorporou-se definitivamente à minha história
pessoal.
Com a crônica que
escrevi hoje, já são 2.755 produzidas, a maioria publicadas neste espaço nobre
da internet. Mas ainda tenho (e sempre terei) nítidas, na mente, aquelas
primeiras, escritas com insegurança e cautela, temendo cair, a qualquer
momento, em ridículo, caso algum texto não agradasse aos leitores. Na ocasião,
o “sonho” de me tornar escritor era algo que eu guardava ciosamente apenas
comigo, sem revelar a ninguém. E não passava rigorosamente só disso. Ou seja, de
remoto sonho. Se hoje caminho com desembaraço e confiança nesta pantanosa
trilha da Literatura, cheia de armadilhas de toda a sorte, devo muito (se não
tudo, pelo menos no que se refere a esse gênero literário) à “Folha do
Taquaral” e aos seus idealistas proprietários, Osmar e Eliana Saboto. Afinal,
como se diz por aí, “da primeira vez, a gente nunca esquece”. Ou... não deveria
esquecer.
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