Friday, September 12, 2014

Cooperação é a chave


Pedro J. Bondaczuk


A América Latina dá, a partir de hoje, um decisivo passo na direção de uma integração política e econômica da região, indispensável,, nos dias que correm, quando todas as estratégias são dimensionadas em termos de blocos. Tanto militares (como a Otan, o Pacto de Varsóvia e o Anzus), quanto econômicos (representados pelo Mercado Comum Europeu, pelo Came, englobando o Leste da Europa e outros organismos regionais).

Entre os latino-americanos, contudo, tais grupos nunca funcionaram. Em geral, não passaram de meras siglas (como a Alalc) ou efêmeros e ineficientes acordos (como o Pacto Andino). Já está na hora, portanto, de cairmos na realidade e deixarmos briguinhas de comadres de lado, para buscarmos um objetivo maior, que é o fortalecimento desta lado do mundo em suas relações com o Norte industrializado.

O tema que estará em destaque, obviamente (e nem poderia deixar de ser) será a imensa dívida externa que estrangula nossas economias e nos faz temer pelo futuro. Analistas apressados prevêem o fracasso desta primeira reunião de cúpula da América Latina (pelo menos envolvendo os países mais influentes da zona), exatamente por isso.

Argumentam que as posições diferentes de Brasil, Argentina e México, os três gigantes regionais, acerca da forma de agir face ao endividamento, impediria que se estabelecesse uma estratégia comum. Aliás, isto é o que os credores mais desejam. Afinal, como diz um velho e surrado clichê (mas oportuno neste caso): “uma casa dividida não prospera”.

No entanto, a tendência que se percebe não é bem esta. Não há dúvidas (e isto não é segredo para ninguém), que brasileiros, argentinos e mexicanos escolheram caminhos diferentes para solucionar suas crises. Mas isto, ao invés de ser pernicioso, chega a ser benéfico. Desde que haja um espírito aberto, por parte dos participantes da reunião, da troca de experiências e da comparação dos resultados das estratégias adotadas poderá surgir uma solução não prevista pelos três países isoladamente.

A América Latina está adquirindo, finalmente, a consciência de que a palavra-chave em política, como em tudo o que se faz na vida, é uma só: cooperação. Sem ela, o homem, com toda a certeza, ainda estaria morando em cavernas, como fera, e lutando, sem muita chance, para sobreviver. E é isso, afinal de contas, que os latino-americanos estão tentando fazer. Ou seja, lutar desesperadamente pela sobrevivência, num mundo a cada dia mais fechado e protecionista, onde o país que desejar abrir caminho no berro, somente através das próprias forças, não terá a mínima possibilidade de sucesso.     

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 27 de novembro de 1987)


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