Cooperação
é a chave
Pedro J. Bondaczuk
A América Latina dá, a partir de hoje, um decisivo passo
na direção de uma integração política e econômica da região, indispensável,,
nos dias que correm, quando todas as estratégias são dimensionadas em termos de
blocos. Tanto militares (como a Otan, o Pacto de Varsóvia e o Anzus), quanto
econômicos (representados pelo Mercado Comum Europeu, pelo Came, englobando o
Leste da Europa e outros organismos regionais).
Entre os latino-americanos, contudo, tais grupos
nunca funcionaram. Em geral, não passaram de meras siglas (como a Alalc) ou
efêmeros e ineficientes acordos (como o Pacto Andino). Já está na hora,
portanto, de cairmos na realidade e deixarmos briguinhas de comadres de lado,
para buscarmos um objetivo maior, que é o fortalecimento desta lado do mundo em
suas relações com o Norte industrializado.
O tema que estará em destaque, obviamente (e nem
poderia deixar de ser) será a imensa dívida externa que estrangula nossas
economias e nos faz temer pelo futuro. Analistas apressados prevêem o fracasso
desta primeira reunião de cúpula da América Latina (pelo menos envolvendo os
países mais influentes da zona), exatamente por isso.
Argumentam que as posições diferentes de Brasil,
Argentina e México, os três gigantes regionais, acerca da forma de agir face ao
endividamento, impediria que se estabelecesse uma estratégia comum. Aliás, isto
é o que os credores mais desejam. Afinal, como diz um velho e surrado clichê
(mas oportuno neste caso): “uma casa dividida não prospera”.
No entanto, a tendência que se percebe não é bem
esta. Não há dúvidas (e isto não é segredo para ninguém), que brasileiros,
argentinos e mexicanos escolheram caminhos diferentes para solucionar suas
crises. Mas isto, ao invés de ser pernicioso, chega a ser benéfico. Desde que
haja um espírito aberto, por parte dos participantes da reunião, da troca de
experiências e da comparação dos resultados das estratégias adotadas poderá
surgir uma solução não prevista pelos três países isoladamente.
A América Latina está adquirindo, finalmente, a
consciência de que a palavra-chave em política, como em tudo o que se faz na
vida, é uma só: cooperação. Sem ela, o homem, com toda a certeza, ainda estaria
morando em cavernas, como fera, e lutando, sem muita chance, para sobreviver. E
é isso, afinal de contas, que os latino-americanos estão tentando fazer. Ou
seja, lutar desesperadamente pela sobrevivência, num mundo a cada dia mais
fechado e protecionista, onde o país que desejar abrir caminho no berro,
somente através das próprias forças, não terá a mínima possibilidade de
sucesso.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 27 de novembro de 1987)
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