Monday, September 08, 2014

Contrabando

  
Pedro J. Bondczuk

As denúncias de contrabando de crianças latino-americanas, que estariam sendo raptadas e levadas para países de Primeiro Mundo, para que seus órgãos vitais sejam extraídos e vendidos para transplantes, crescem. Diversos países foram citados como "fornecedores" desse "material" humano, em matérias publicadas na imprensa européia.

Os mais freqüentemente mencionados, posto que não os únicos, são a Guatemala, a Nicarágua, a Argentina e o Brasil. Basta atentar para a forma com que meninos e meninas, de famílias carentes, ou que estejam abandonados –  por omissão dos pais e por indiferença da autoridades –  são tratados.

Se nossos menores são exterminados nas ruas, como animais daninhos, como duvidar que também sirvam de "fontes de abastecimento de órgãos" para enriquecer organizações criminosas?

É verdade que até agora não se conseguiu provar que a prática realmente exista. Há, contudo, evidências muito fortes de que os rumores nesse sentido têm fundamento. Até se entende o receio de possíveis testemunhas desse hediondo crime contra a humanidade de se expor. Quem é capaz de raptar crianças, apenas para lhes suprimir a vida e vender pedaços de seu corpo, como se fossem mercadorias comuns, não se detém, certamente, diante de nada.

No fim de semana passado, o programa Fantástico, da Rede Globo, trouxe a público nova denúncia nesse sentido, sempre no condicional, já que até agora não foi possível reunir prova contra ninguém. Foi levantada a possibilidade de que vários menores carentes (em geral deficientes físicos) "adotados" na Itália, teriam, na verdade, caído em mãos da Máfia. Já não estariam mais vivos. Teriam sido sacrificados, para que seus órgãos fossem vendidos para transplante.

Recorde-se que, no ano passado, alguns hospitais italianos foram envolvidos em escândalo de mutilação de cadáveres. Córneas, rins, fígados e corações de várias pessoas, que morreram nessas instituições, teriam sido retirados, sem a autorização das respectivas famílias, e comercializados.

Para evitar esse procedimento hediondo, é preciso que as pessoas fiquem atentas e sejam solidárias. Que a Interpol e os vários governos investiguem a fundo qualquer denúncia. É necessário, sobretudo, que quem eventualmente venha a testemunhar esses crimes, ou suspeite de sua existência, supere o medo e exponha o que sabe às autoridades e aos meios de comunicação.

Torna-se cada vez mais indispensável "re-humanizar" a humanidade. Restituir-lhe a noção da dimensão e da importância da vida. Pois, como escreveu o escritor Hermes Fontes: "O homem só será feliz quando a misericórdia de um socorrer a dor do outro".

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de outubro de 1994).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk  

No comments: