Contrabando
Pedro J. Bondczuk
As denúncias de contrabando de crianças
latino-americanas, que estariam sendo raptadas e levadas para países de
Primeiro Mundo, para que seus órgãos vitais sejam extraídos e vendidos para
transplantes, crescem. Diversos países foram citados como
"fornecedores" desse "material" humano, em matérias
publicadas na imprensa européia.
Os mais freqüentemente mencionados, posto que não os
únicos, são a Guatemala, a Nicarágua, a Argentina e o Brasil. Basta atentar
para a forma com que meninos e meninas, de famílias carentes, ou que estejam
abandonados – por omissão dos pais e por
indiferença da autoridades – são
tratados.
Se nossos menores são exterminados nas ruas, como
animais daninhos, como duvidar que também sirvam de "fontes de
abastecimento de órgãos" para enriquecer organizações criminosas?
É verdade que até agora não se conseguiu provar que
a prática realmente exista. Há, contudo, evidências muito fortes de que os
rumores nesse sentido têm fundamento. Até se entende o receio de possíveis
testemunhas desse hediondo crime contra a humanidade de se expor. Quem é capaz
de raptar crianças, apenas para lhes suprimir a vida e vender pedaços de seu
corpo, como se fossem mercadorias comuns, não se detém, certamente, diante de
nada.
No fim de semana passado, o programa Fantástico, da Rede
Globo, trouxe a público nova denúncia nesse sentido, sempre no condicional, já
que até agora não foi possível reunir prova contra ninguém. Foi levantada a
possibilidade de que vários menores carentes (em geral deficientes físicos)
"adotados" na Itália, teriam, na verdade, caído em mãos da Máfia. Já
não estariam mais vivos. Teriam sido sacrificados, para que seus órgãos fossem
vendidos para transplante.
Recorde-se que, no ano passado, alguns hospitais
italianos foram envolvidos em escândalo de mutilação de cadáveres. Córneas,
rins, fígados e corações de várias pessoas, que morreram nessas instituições,
teriam sido retirados, sem a autorização das respectivas famílias, e
comercializados.
Para evitar esse procedimento hediondo, é preciso
que as pessoas fiquem atentas e sejam solidárias. Que a Interpol e os vários
governos investiguem a fundo qualquer denúncia. É necessário, sobretudo, que
quem eventualmente venha a testemunhar esses crimes, ou suspeite de sua
existência, supere o medo e exponha o que sabe às autoridades e aos meios de
comunicação.
Torna-se cada vez mais indispensável
"re-humanizar" a humanidade. Restituir-lhe a noção da dimensão e da
importância da vida. Pois, como escreveu o escritor Hermes Fontes: "O
homem só será feliz quando a misericórdia de um socorrer a dor do outro".
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 3 de outubro de 1994).
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