Guerra econômica no Líbano
Pedro J. Bondaczuk
A
retirada das tropas israelenses do Líbano vem se desenvolvendo num ritmo
acelerado, tendo sido iniciada ontem a segunda etapa do seu cronograma, que
prevê a volta para casa de dez mil soldados de Israel, no máximo até junho.
Apesar de alguns confrontos e atitudes hostis de parte a parte, no geral o
processo se realiza de uma maneira até menos traumática do que muitos
observadores temiam que ocorresse.
Entretanto,
o Líbano que os israelenses estão deixando, quase três anos após o desfecho da
operação “Paz para a Galiléia”, que visava a escorraçar para longe das
fronteiras de Israel diversos grupos de palestinos que alvejavam seguidamente
povoações judias de território libanês) é um país destroçado. Destroçado e
falido, muito diferente daquele que as tropas encontraram quando da invasão.
O
problema atual do Líbano já nem é mais tanto a guerra civil, que caminha para
completar uma década, com a qual o povo aprendeu a conviver. É a recessão
econômica, o visível empobrecimento nacional, com a outrora fortíssima e
cobiçada libra libanesa batendo sucessivos (e quase diários) recordes de
desvalorização.
O
conflito interno, no seu início, trouxe até mesmo alguns lucros para esse país,
situação que perdurou até 1982. Estes eram provenientes das seguidas “injeções”
de dólares dos países árabes, que visavam a financiar as facções litigantes que
apoiavam com crescentes recursos, mormente os guerrilheiros palestinos.
Era
o que o atual ministro Selim Hoss, um especialista em economia, com muita
lucidez, classificou de “turismo em uniforme”, representado por soldados sírios
e de outras nacionalidades, que íam para o Líbano munidos de recursos para uma
vida decente num país estrangeiro.
O
ex-ministro das Finanças daquele tempo, Elias Saba, testemunha que “a renda
individual de então atingiu seu máximo e que as divisas vindas de fora mais do
que compensaram qualquer baixa do PNB que houvesse sido causada pela guerra”.
Diante disso, pode-se dizer que, no período, o conflito até que compensou (do
ponto de vista financeiro) para os libaneses.
Entretanto,
a operação “Paz para a Galiléia” praticamente acabou com isso. Expulsou os
palestinos, destinatários do maior volume de ajuda dos árabes e que mais
gastavam esse dinheiro no mercado do Líbano. Os sírios restringiram a sua
atuação ao Vale do Bekkaa e à proximidade da sua própria fronteira, fazendo
circular menos divisas, principalmente numa Beirute arrasada, sitiada e sob
constante bombardeio.
Hoje
a situação da ex “Suíça do Oriente Médio” é para lá de desesperadora. As
reservas de moeda estrangeira caíram abruptamente, nos últimos dois anos, de
US$ 2,7 bilhões para menos de US$ 400 milhões. Isso, para um país que importa
70% do que consome, é arrasador!
A
inflação e o desemprego subiram à estratosfera. Apenas no mês de janeiro, as
taxas inflacionárias alcançaram 35% e com tendências de crescimento muito mais
acentuado.
É
indispensável que se faça, com urgência, um esforço internacional para socorrer
o Líbano. Caso contrário, a advertência feita na semana passada por Ghassan
Seblani, líder da milícia xiita Amal, será concretizada em questão de dias ou,
quando muito, semanas. Ele disse, fundamentado não apenas naquilo que vê, mas
no que sente na própria carne: “Se a crise continuar fora de controle como
está, levará a um extremismo que acabará conosco antes dela. Será a destruição
do Líbano que conhecemos hoje”. E, ressalte-se, a sociedade libanesa atual está
a milhões de anos-luz de distância da ideal...
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 7 de março de
1985).
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