Wednesday, September 17, 2014

Bravura inspiradora


Pedro J. Bondaczuk


Os heróis autênticos, desses que salvam vidas, arriscam situações estáveis, realizam atos de enorme altruísmo e bravura em épocas de paz, estão bastante escassos nestes tempos de angústia. Mas os poucos que existem, excedem a tudo o quanto se possa imaginar em termos de dedicação em favor dos semelhantes.

Um caso comovente pela grandeza (não apenas física, mas humana) que demonstrou, foi o do inglês Andrew Parker, de 33 anos de idade, e 1,90 metro de altura. Ele passou pelos horrores do naufrágio da barcaça “The Herald Free Enterprise”, ocorrido em 6 de março passado, na saída do porto de Zeebrugge, na Bélgica, em águas do Canal da Mancha.

Mas ao contrário do que a maioria dos passageiros fez, entrando em pânico com o desastre e morrendo sem chances de defesa, o herói britânico conservou o sangue frio. Primeiro, garantiu a sua sobrevivência. Mas não conseguiu ficar alheio ao drama dos demais náufragos.

Seu caráter íntegro não permitiu que a indolência tomasse conta dos seus atos. Se ele agisse como os demais sobreviventes, aceitando simplesmente ser transportado para um hospital, com abalo nervoso ou qualquer outro pretexto, ninguém o criticaria. Entenderia que agiu de acordo com as circunstâncias.

Mas o jovem Andrew não pôde ficar indiferente ao drama que se desenrolava ao seu redor. Apresentou-se como voluntário para as tarefas de salvamento. E usou bem aquilo que a natureza lhe deu: seu porte físico avantajado.

Num ato de desprendimento que precisa ser lembrado, divulgado, comentado (e principalmente imitado), fez do próprio corpo uma “ponte”. Passando por cima de suas costas, as equipes de socorro fizeram várias incursões no interior da embarcação sinistrada.

E 22 vidas puderam ser salvas dessa maneira! Ontem, a rainha Elizabeth II colocou em seu peito a máxima condecoração da Grã-Bretanha por heroísmo em tempos de paz. Conhecendo o seu caso, todos nós estivemos um pouquinho, em espírito, condecorando Andrew.

E não apenas com a “Medalha George”, por si só um símbolo que não é para ser esquecido jamais. Mas, e principalmente, com o nosso respeito e nossa admiração por tão nobre ser humano, que renova todas as nossas esperanças para este ano que entra e nos inspira por toda nossa vida.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 1º de janeiro de 1988).


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