Bravura inspiradora
Pedro J. Bondaczuk
Os
heróis autênticos, desses que salvam vidas, arriscam situações estáveis,
realizam atos de enorme altruísmo e bravura em épocas de paz, estão bastante
escassos nestes tempos de angústia. Mas os poucos que existem, excedem a tudo o
quanto se possa imaginar em termos de dedicação em favor dos semelhantes.
Um caso comovente pela grandeza (não apenas física,
mas humana) que demonstrou, foi o do inglês Andrew Parker, de 33 anos de idade,
e 1,90 metro de altura. Ele passou pelos horrores do naufrágio da barcaça “The
Herald Free Enterprise”, ocorrido em 6 de março passado, na saída do porto de
Zeebrugge, na Bélgica, em águas do Canal da Mancha.
Mas ao contrário do que a maioria dos passageiros
fez, entrando em pânico com o desastre e morrendo sem chances de defesa, o
herói britânico conservou o sangue frio. Primeiro, garantiu a sua
sobrevivência. Mas não conseguiu ficar alheio ao drama dos demais náufragos.
Seu caráter íntegro não permitiu que a indolência tomasse
conta dos seus atos. Se ele agisse como os demais sobreviventes, aceitando
simplesmente ser transportado para um hospital, com abalo nervoso ou qualquer
outro pretexto, ninguém o criticaria. Entenderia que agiu de acordo com as
circunstâncias.
Mas o jovem Andrew não pôde ficar indiferente ao
drama que se desenrolava ao seu redor. Apresentou-se como voluntário para as
tarefas de salvamento. E usou bem aquilo que a natureza lhe deu: seu porte
físico avantajado.
Num ato de desprendimento que precisa ser lembrado,
divulgado, comentado (e principalmente imitado), fez do próprio corpo uma
“ponte”. Passando por cima de suas costas, as equipes de socorro fizeram várias
incursões no interior da embarcação sinistrada.
E 22 vidas puderam ser salvas dessa maneira! Ontem,
a rainha Elizabeth II colocou em seu peito a máxima condecoração da
Grã-Bretanha por heroísmo em tempos de paz. Conhecendo o seu caso, todos nós
estivemos um pouquinho, em espírito, condecorando Andrew.
E não apenas com a “Medalha George”, por si só um símbolo
que não é para ser esquecido jamais. Mas, e principalmente, com o nosso
respeito e nossa admiração por tão nobre ser humano, que renova todas as nossas
esperanças para este ano que entra e nos inspira por toda nossa vida.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 1º de janeiro de 1988).
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