Brasil e a invasão do Kuwait
Pedro J.
Bondaczuk
A invasão do território do Kuwait por tropas e tanques do
Iraque veio agitar a situação mundial que estava caminhando para a
tranqüilidade, com a resolução de várias crises que se arrastavam há anos e com
o encaminhamento sensato de tantas outras, na esteira do fim da guerra fria
entre as superpotências.
A irresponsável ação militar
iraquiana, realizada sob idêntico pretexto adotado pelo ex-líder soviético,
Leonid Brezhnev, para determinar em 26 de dezembro de 1979 a entrada maciça do
Exército Vermelho no Afeganistão – um suposto pedido de ajuda por parte de
opositores – se torna mais grave por ocorrer onde ocorreu. Ou seja, na região
que é conhecida como “jugular do petróleo” do Ocidente, o Golfo Pérsico, que
desde o fim do conflito entre Teerã e Bagdá, em 20 de agosto de 1987, havia
virtualmente sumido das manchetes internacionais.
De imediato, o mercado
petrolífero reagiu e de maneira previsível. Numa questão de horas, a cotação da
matéria-prima deu um salto para o alto de até US$ 5 por barril. Para os
produtores, a situação não deixa de ser favorável, revertendo uma tendência
francamente de baixa.
Mas para os países que importam o
produto, o fato pode vir a ser uma tragédia a longo prazo, caso a crise se
prolongue – e há temores de que isso ocorra, pela própria postura que o
presidente iraquiano, Saddam Hussein, sempre assumiu desde que chegou ao poder
em 1978 – afetando diretamente o Brasil, longe da auto-suficiência e que ainda
de quebra passa por um sério problema na produção do combustível alternativo
que desenvolveu e não está sendo capaz de manter: o álcool.
Recorde-se que o fim do sonho
brasileiro de se tornar uma potência, a descoberta de que o propalado “milagre
econômico”não passava de tapeação, ocorreu após os dois choques do petróleo da
década de 70. No primeiro, a crise foi dissimulada, com o governo tomando
emprestado dos banqueiros internacionais bilhões de dólares, em condições
sumamente desfavoráveis, (deixando por conta do credor a determinação da taxa
de juros a ser cobrada), para queimar na importação de óleo cru.
No segundo, todavia, não foi
possível continuar sustentando o castelo de ilusões. Veio à tona que o
decantado País das Maravilhas era como o da Alice, da história de Lewis Carroll.
Por tudo isso, e pensando principalmente na estabilidade política mundial,
torce-se para que o general Saddam Hussein tenha um pouco de juízo e entenda
que o tempo das invasões já ficou para trás na nova ordem mundial que impera
desde o fim da guerra fria.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de
agosto de 1990).
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