Wednesday, September 24, 2014

Brasil e a invasão do Kuwait


Pedro J. Bondaczuk


A invasão do território do Kuwait por tropas e tanques do Iraque veio agitar a situação mundial que estava caminhando para a tranqüilidade, com a resolução de várias crises que se arrastavam há anos e com o encaminhamento sensato de tantas outras, na esteira do fim da guerra fria entre as superpotências.

A irresponsável ação militar iraquiana, realizada sob idêntico pretexto adotado pelo ex-líder soviético, Leonid Brezhnev, para determinar em 26 de dezembro de 1979 a entrada maciça do Exército Vermelho no Afeganistão – um suposto pedido de ajuda por parte de opositores – se torna mais grave por ocorrer onde ocorreu. Ou seja, na região que é conhecida como “jugular do petróleo” do Ocidente, o Golfo Pérsico, que desde o fim do conflito entre Teerã e Bagdá, em 20 de agosto de 1987, havia virtualmente sumido das manchetes internacionais.

De imediato, o mercado petrolífero reagiu e de maneira previsível. Numa questão de horas, a cotação da matéria-prima deu um salto para o alto de até US$ 5 por barril. Para os produtores, a situação não deixa de ser favorável, revertendo uma tendência francamente de baixa.

Mas para os países que importam o produto, o fato pode vir a ser uma tragédia a longo prazo, caso a crise se prolongue – e há temores de que isso ocorra, pela própria postura que o presidente iraquiano, Saddam Hussein, sempre assumiu desde que chegou ao poder em 1978 – afetando diretamente o Brasil, longe da auto-suficiência e que ainda de quebra passa por um sério problema na produção do combustível alternativo que desenvolveu e não está sendo capaz de manter: o álcool.

Recorde-se que o fim do sonho brasileiro de se tornar uma potência, a descoberta de que o propalado “milagre econômico”não passava de tapeação, ocorreu após os dois choques do petróleo da década de 70. No primeiro, a crise foi dissimulada, com o governo tomando emprestado dos banqueiros internacionais bilhões de dólares, em condições sumamente desfavoráveis, (deixando por conta do credor a determinação da taxa de juros a ser cobrada), para queimar na importação de óleo cru.

No segundo, todavia, não foi possível continuar sustentando o castelo de ilusões. Veio à tona que o decantado País das Maravilhas era como o da Alice, da história de Lewis Carroll. Por tudo isso, e pensando principalmente na estabilidade política mundial, torce-se para que o general Saddam Hussein tenha um pouco de juízo e entenda que o tempo das invasões já ficou para trás na nova ordem mundial que impera desde o fim da guerra fria.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de agosto de 1990).

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