Thursday, September 04, 2014

Desenvolvimento é conquista


Pedro J. Bondaczuk


As condições sanitárias inadequadas, aliadas a uma crônica falta de proteínas, têm matado mais pessoas no Terceiro Mundo do que muitas guerras e revoluções. Estudo do Worldwatch Institute, de Washington, mostra em que direção os países subdesenvolvidos deveriam orientar seus investimentos, para resolver uma série de graves problemas de saúde pública, entre os quais a redução das absurdas taxas de mortalidade infantil.

Doenças como o cólera, o tifo e as diarréias agudas poderiam ser evitadas pelo simples acesso da população à água limpa e a sanitários condizentes com seres civilizados. O instituto, por exemplo, conclui, em relação ao Brasil, que apenas 25% dos brasileiros têm banheiros, ou fossas cépticas, em suas casas. O restante, ou seja, 75%, se vêem expostos aos riscos das endemias de fácil  prevenção e controle, mas que dizimam preciosas vidas e empatam grandes parcelas dos parcos recursos de que o País dispõe na recuperação dos doentes.

Mas este não é o caso mais grave. Muito pelo contrário. Em relação ao conjunto dos que integram o chamado Terceiro Mundo, o Brasil é, até, privilegiado. O Afeganistão, por exemplo, “ajudado” atualmente pelos seus “amigos soviéticos” (pelo menos foi esta a expressão adotada pelo Cremlin quando da invasão desse país asiático, no natal de 1979), conta com sua população, avaliada em 14 milhões de habitantes, exposta a muito maiores riscos do que a brasileira.

Apenas 11% dos afegãos têm o raro privilégio do acesso à água potável, líquido bastante raro e precioso nos paupérrimos Estados eufemisticamente classificados como “em desenvolvimento”. Enquanto isso, seus governos se preocupam com o quê? Em adquirir toneladas e mais toneladas de armas, jogando pelo esgoto (em linguagem figurada, é claro, pois sequer dispõem desse recurso sanitário) de sua inconseqüência preciosíssimos recursos, a maioria das vezes tomados de empréstimos alhures, com o compromisso de pagamento de escorchantes juros.

Buscam ilusórios status junto a vizinhos tão miseráveis quanto eles, ao invés de se preocuparem com conquistas primárias, mas fundamentais, como a saúde pública, a alimentação e a educação dos seus habitantes, tarefas prioritárias de qualquer governo que se preze e mereça essa designação, professe que ideologia for.

É indispensável que os povos do Terceiro Mundo percam o costume, adquirido no período em que a maioria dos países era constituída de colônias das potências européias, de esperar dos outros a satisfação das suas necessidades.

Cada recurso mal aplicado representa centenas de milhares de pessoas condenadas a uma qualidade de vida subumana, quando não à morte prematura. O tempo não pára jamais...Se alguém pretender construir um futuro decente para os filhos e netos, deve fazê-lo hoje, agora, sem nenhum retardo. Qualquer vacilação ou irresponsabilidade tende a ter preço altíssimo, intolerável, que todos, indistintamente, acabarão pagando, em maior ou menor medida, inexoravelmente.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 31 de outubro de 1984).


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