Desenvolvimento é conquista
Pedro J. Bondaczuk
As condições sanitárias
inadequadas, aliadas a uma crônica falta de proteínas, têm matado mais pessoas
no Terceiro Mundo do que muitas guerras e revoluções. Estudo do Worldwatch
Institute, de Washington, mostra em que direção os países subdesenvolvidos
deveriam orientar seus investimentos, para resolver uma série de graves
problemas de saúde pública, entre os quais a redução das absurdas taxas de
mortalidade infantil.
Doenças
como o cólera, o tifo e as diarréias agudas poderiam ser evitadas pelo simples
acesso da população à água limpa e a sanitários condizentes com seres
civilizados. O instituto, por exemplo, conclui, em relação ao Brasil, que
apenas 25% dos brasileiros têm banheiros, ou fossas cépticas, em suas casas. O
restante, ou seja, 75%, se vêem expostos aos riscos das endemias de fácil prevenção e controle, mas que dizimam
preciosas vidas e empatam grandes parcelas dos parcos recursos de que o País
dispõe na recuperação dos doentes.
Mas
este não é o caso mais grave. Muito pelo contrário. Em relação ao conjunto dos
que integram o chamado Terceiro Mundo, o Brasil é, até, privilegiado. O
Afeganistão, por exemplo, “ajudado” atualmente pelos seus “amigos soviéticos”
(pelo menos foi esta a expressão adotada pelo Cremlin quando da invasão desse
país asiático, no natal de 1979), conta com sua população, avaliada em 14
milhões de habitantes, exposta a muito maiores riscos do que a brasileira.
Apenas
11% dos afegãos têm o raro privilégio do acesso à água potável, líquido
bastante raro e precioso nos paupérrimos Estados eufemisticamente classificados
como “em desenvolvimento”. Enquanto isso, seus governos se preocupam com o quê?
Em adquirir toneladas e mais toneladas de armas, jogando pelo esgoto (em
linguagem figurada, é claro, pois sequer dispõem desse recurso sanitário) de
sua inconseqüência preciosíssimos recursos, a maioria das vezes tomados de
empréstimos alhures, com o compromisso de pagamento de escorchantes juros.
Buscam
ilusórios status junto a vizinhos tão miseráveis quanto eles, ao invés de se
preocuparem com conquistas primárias, mas fundamentais, como a saúde pública, a
alimentação e a educação dos seus habitantes, tarefas prioritárias de qualquer
governo que se preze e mereça essa designação, professe que ideologia for.
É
indispensável que os povos do Terceiro Mundo percam o costume, adquirido no
período em que a maioria dos países era constituída de colônias das potências
européias, de esperar dos outros a satisfação das suas necessidades.
Cada
recurso mal aplicado representa centenas de milhares de pessoas condenadas a
uma qualidade de vida subumana, quando não à morte prematura. O tempo não pára
jamais...Se alguém pretender construir um futuro decente para os filhos e
netos, deve fazê-lo hoje, agora, sem nenhum retardo. Qualquer vacilação ou
irresponsabilidade tende a ter preço altíssimo, intolerável, que todos,
indistintamente, acabarão pagando, em maior ou menor medida, inexoravelmente.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 31 de outubro de
1984).
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