Governo decepciona
Pedro J.
Bondaczuk
A “Alianza Popular Revolucionária Americana”, APRA
(conhecida, atualmente, só como Partido Aprista), ficou distante de Presidência
da República do Peru, virtualmente, desde a sua criação, em 1929, através de
Haya de La Torre. A despeito de ter sido, ao longo de todos esses anos de jejum
do poder, a agremiação política mais popular do país, e a mais organizada, e
mais antiga, da América do Sul, não conseguia eleger um único presidente. Até
porque, os militares não deixavam.
Ambos eram inimigos históricos,
desde a revolta de 1932, na cidade de Trujillo, quando o povo, insuflado por
políticos, matou vários oficiais. E quando, em represália, um conselho de
guerra comandou o fuzilamento de três mil civis.
Havia, portanto, muita
expectativa no Peru sobre quais seriam os rumos que os apristas imprimiriam ao
Estado caso um seu representante viesse a chegar à Presidência da República. E
em 1986, finalmente, isso aconteceu. Um integrante da ala jovem do partido,
Alan Garcia Perez, foi eleito presidente.
Mas no momento em que esse
político atinge o limiar do quarto ano de mandato, o sentimento entre os
peruanos é de decepção. Mais do que isso, de frustração. Identificada como uma
facção de centro-direita, a administração da APRA está conseguindo descontentar
a gregos e troianos, ou seja, tanto a centristas, quanto a esquerdistas.
A verdade é que hoje, dificilmente, é possível encontrar
alguém no Peru que possa afirmar que está satisfeito com o atual governo. A
inflação (embora muito distante de ser tão voraz quanto a brasileira) segue
inexorável escalada rumo ao patamar de três dígitos, podendo fechar o ano em
torno de 200%.
A violência campeia por todo o
país e, o que é pior, toda uma geração de jovens está relegada ao abandono, sem
que as autoridades façam qualquer coisa para evitar que milhões de meninos e de
meninas caiam na marginalidade.
As guerrilhas ultra-esquerdistas,
em especial os grupos Tupac Amaru, que atua nas zonas urbanas, e o Sendero
Luminoso, que age nas áreas rurais, seguem ceifando vidas e mais vidas, sem que
se encontrem fórmulas que as desativem.
Esperava-se muito mais de Alan
Garcia. Sua retórica de palanque havia impressionado a nova liderança
latino-americana e vários observadores políticos, que acreditavam que, afinal,
algum país da região iria poder contar com idéias novas e criativas para tentar
solucionar os problemas locais, que acabam sendo comuns a todos os povos do
hemisfério.
Mas, entre o discurso e a
prática, vai uma distância enorme. E o que se viu, até aqui, foi uma gestão
despida de criatividade, e de alternativas, mesmo tendo que se admitir que a
solução para uma crise, como a vivida por toda a América Latina, sem distinção
de qualquer país, é coisa para uma década, ou mais, e nunca para uma única administração.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 29
de julho de 1988).
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