Monday, September 01, 2014

Governo decepciona

  
Pedro J. Bondaczuk


A “Alianza Popular Revolucionária Americana”, APRA (conhecida, atualmente, só como Partido Aprista), ficou distante de Presidência da República do Peru, virtualmente, desde a sua criação, em 1929, através de Haya de La Torre. A despeito de ter sido, ao longo de todos esses anos de jejum do poder, a agremiação política mais popular do país, e a mais organizada, e mais antiga, da América do Sul, não conseguia eleger um único presidente. Até porque, os militares não deixavam.

Ambos eram inimigos históricos, desde a revolta de 1932, na cidade de Trujillo, quando o povo, insuflado por políticos, matou vários oficiais. E quando, em represália, um conselho de guerra comandou o fuzilamento de três mil civis.

Havia, portanto, muita expectativa no Peru sobre quais seriam os rumos que os apristas imprimiriam ao Estado caso um seu representante viesse a chegar à Presidência da República. E em 1986, finalmente, isso aconteceu. Um integrante da ala jovem do partido, Alan Garcia Perez, foi eleito presidente.

Mas no momento em que esse político atinge o limiar do quarto ano de mandato, o sentimento entre os peruanos é de decepção. Mais do que isso, de frustração. Identificada como uma facção de centro-direita, a administração da APRA está conseguindo descontentar a gregos e troianos, ou seja, tanto a centristas, quanto a esquerdistas.

A verdade é que hoje, dificilmente, é possível encontrar alguém no Peru que possa afirmar que está satisfeito com o atual governo. A inflação (embora muito distante de ser tão voraz quanto a brasileira) segue inexorável escalada rumo ao patamar de três dígitos, podendo fechar o ano em torno de 200%.

A violência campeia por todo o país e, o que é pior, toda uma geração de jovens está relegada ao abandono, sem que as autoridades façam qualquer coisa para evitar que milhões de meninos e de meninas caiam na marginalidade.

As guerrilhas ultra-esquerdistas, em especial os grupos Tupac Amaru, que atua nas zonas urbanas, e o Sendero Luminoso, que age nas áreas rurais, seguem ceifando vidas e mais vidas, sem que se encontrem fórmulas que as desativem.

Esperava-se muito mais de Alan Garcia. Sua retórica de palanque havia impressionado a nova liderança latino-americana e vários observadores políticos, que acreditavam que, afinal, algum país da região iria poder contar com idéias novas e criativas para tentar solucionar os problemas locais, que acabam sendo comuns a todos os povos do hemisfério.

Mas, entre o discurso e a prática, vai uma distância enorme. E o que se viu, até aqui, foi uma gestão despida de criatividade, e de alternativas, mesmo tendo que se admitir que a solução para uma crise, como a vivida por toda a América Latina, sem distinção de qualquer país, é coisa para uma década, ou mais, e nunca para uma única administração.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 29 de julho de 1988).


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