Monday, September 29, 2014

Europa preconceituosa



Pedro J. Bondaczuk



O preconceito racial, sob suas diversas formas, vem se manifestando com maior agudeza nos últimos tempos na Europa, justamente um continente que pagou um preço alto demais (em vidas e perdas materiais) por causa dessa autêntica doença comportamental. Estranha-se que uma civilização já consolidada, que adquiriu tradição, abrigue na sua esfera de influência esse tipo de ação. A discriminação, em especial contra pessoas oriundas do Terceiro Mundo, manifesta-se às vezes de maneira apenas sutil, com "indiretas" insinuadas a tais cidadãos acerca dos problemas existentes nos países em desenvolvimento de onde eles procedem, muitos dos quais surgidos com a colaboração dos europeus (os brasileiros, por exemplo, são vistos como "caloteiros" e como depredadores do meio ambiente). Em outras ocasiões, ela é ostensiva, quando não violenta.

Uma de suas formas mais antigas, o antissemitismo, parece ressurgir com grande força agora, 45 anos depois do terrível massacre, que quase eliminou os judeus da face da Terra, num genocídio monstruoso, que contou com a conivência (através do silêncio) de muitos povos que hoje posam como defensores dos direitos humanos e da liberdade e democracia. O episódio de violação de 34 sepulturas na cidadezinha francesa de Carpentras, próxima a Marselha, no Sul da França, talvez nem tenha sido o mais grave caso dos últimos tempos (muitos dos quais até foram omitidos do noticiário). Mas ganha realce por ter ocorrido um dia depois que a Europa comemorou o quadragésimo-quinto aniversário da vitória das forças aliadas sobre os nazistas.

Ninguém fomenta ódios entre os povos impunemente. Rancor gera rancor, violência produz violência e isto é do que menos o mundo precisa na atualidade, quando se defronta com problemas gravíssimos, como a superpopulação, o estado de miserabilidade crescente de dois terços da humanidade, a degradação do meio ambiente, o desaparecimento de inúmeras espécies vegetais e animais, a poluição das águas e do ar, o aquecimento do Planeta que pode conduzir ao "efeito estufa", a ruptura na camada de Ozônio e tantos outros que freqüentam diariamente os noticiários da imprensa.

Gente de mente doentia, que ainda cultiva preconceitos de toda a espécie e dissemina somente rancores inúteis, tem que ser segregada do convívio social. Não contribui em nada para resolver as grandes questões e ainda cria novas. Pessoas que agem assim não passam de parasitas, de homicidas potenciais, de agentes de destruição. Compete aos formadores de opinião pública fazerem alguma coisa para extirpar, de uma vez para sempre, essa terrível doença da alma, responsável por um dos piores conflitos que a humanidade já viveu, que foi a Segunda Guerra Mundial.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 12 de maio de 1990)


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