Europa preconceituosa
Pedro J. Bondaczuk
O preconceito racial, sob suas diversas formas, vem se
manifestando com maior agudeza nos últimos tempos na Europa, justamente um
continente que pagou um preço alto demais (em vidas e perdas materiais) por causa
dessa autêntica doença comportamental. Estranha-se que uma civilização já
consolidada, que adquiriu tradição, abrigue na sua esfera de influência esse
tipo de ação. A discriminação, em especial contra pessoas oriundas do Terceiro
Mundo, manifesta-se às vezes de maneira apenas sutil, com "indiretas"
insinuadas a tais cidadãos acerca dos problemas existentes nos países em
desenvolvimento de onde eles procedem, muitos dos quais surgidos com a
colaboração dos europeus (os brasileiros, por exemplo, são vistos como
"caloteiros" e como depredadores do meio ambiente). Em outras
ocasiões, ela é ostensiva, quando não violenta.
Uma de suas formas mais antigas, o antissemitismo,
parece ressurgir com grande força agora, 45 anos depois do terrível massacre,
que quase eliminou os judeus da face da Terra, num genocídio monstruoso, que
contou com a conivência (através do silêncio) de muitos povos que hoje posam
como defensores dos direitos humanos e da liberdade e democracia. O episódio de
violação de 34 sepulturas na cidadezinha francesa de Carpentras, próxima a
Marselha, no Sul da França, talvez nem tenha sido o mais grave caso dos últimos
tempos (muitos dos quais até foram omitidos do noticiário). Mas ganha realce
por ter ocorrido um dia depois que a Europa comemorou o quadragésimo-quinto
aniversário da vitória das forças aliadas sobre os nazistas.
Ninguém fomenta ódios entre os povos impunemente.
Rancor gera rancor, violência produz violência e isto é do que menos o mundo
precisa na atualidade, quando se defronta com problemas gravíssimos, como a
superpopulação, o estado de miserabilidade crescente de dois terços da
humanidade, a degradação do meio ambiente, o desaparecimento de inúmeras
espécies vegetais e animais, a poluição das águas e do ar, o aquecimento do
Planeta que pode conduzir ao "efeito estufa", a ruptura na camada de
Ozônio e tantos outros que freqüentam diariamente os noticiários da imprensa.
Gente de mente doentia, que ainda cultiva
preconceitos de toda a espécie e dissemina somente rancores inúteis, tem que
ser segregada do convívio social. Não contribui em nada para resolver as
grandes questões e ainda cria novas. Pessoas que agem assim não passam de
parasitas, de homicidas potenciais, de agentes de destruição. Compete aos
formadores de opinião pública fazerem alguma coisa para extirpar, de uma vez
para sempre, essa terrível doença da alma, responsável por um dos piores
conflitos que a humanidade já viveu, que foi a Segunda Guerra Mundial.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 12 de maio de 1990)
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