"Irmãozinhos"
antecipam desculpa
Pedro J. Bondaczuk
Apaixonado
pela Ponte Preta desde que me conheço por gente, nada me dá uma satisfação
maior do que uma vitória num dérbi. Nos últimos dois anos, os irmãozinhos do
Guarani nos privaram desse delicioso prazer, fugindo da raia. No ano passado,
por exemplo, recusaram-se a nos enfrentar num jogo que estava sendo proposto
para comemorar o aniversário de Campinas.
Hoje,
não há como escapar, já que novamente os dois times estão no mesmo grupo do
Campeonato Paulista. E algo me diz que já vamos começar com dois pontos a
favor.
A
última vez que pude gozar meus amigos bugrinos foi na decisão da Copa João
Saad, de aspirantes, em dezembro de 1991, na preliminar da decisão daquele ano
entre São Paulo e Corínthians. A meninada do Majestoso deu um vareio de bola e
trouxe a taça para Campinas.
O
dérbi anterior entre profissionais, o de 1990, não teve muita graça. A Ponte
estava numa fase de autoafirmação, após um período desastroso, e o jogo
terminou em zero a zero. Ou seja, mesmo enfrentando um time dos menos
brilhantes, os irmãozinhos não conseguiram ganhar de nós.
Tenho
ouvido muitas gozações sobre as duas descidas da Macaca para a Segunda Divisão,
enquanto o Bugre jamais caiu. Mas com tudo isso, em toda história dos dérbis
--- que vão completar neste ano 81 anos --- as estatísticas mostram um virtual
empate.
O
Guarani venceu 55, a Ponte 54 e os dois empataram 50 jogos. Isto porque o
resultado do primeiro confronto, o de 1912, é controvertido. Nos meus arquivos
consta que o timão alvinegro venceu. Os bugrinos garantem que houve empate.
Os
historiadores esportivos preferem considerar o resultado indefinido. Que seja.
Digamos que de fato o Guarani tenha uma vitória a mais. Pois hoje, depois do
jogo, já não a terá!
A única
frustração é que a diretoria dos irmãozinhos está dando uma colher de chá à
torcida bugrina e arranjando uma desculpa antecipada para a derrota: a venda de
Edilson para o Palmeiras. O mais gostoso seria enfrentar o Guarani completo.
Quem sabe, até mesmo com reforços de jogadores de seleção.
Ainda
assim, nossa torcida certamente não vai deixar de saborear o prazer de começar
a temporada com uma consagradora vitória. E justo em cima de quem!
Não
se trata de achar que o Bugre seja um grande time. O prazer de vencer o dérbi
está no fato de poder gozar os amigos. Outros adversários, ou não têm
torcedores na cidade ou estes são em pequena quantidade. Os irmãozinhos não.
Estão ao nosso redor, prontinhos para as gozações.
Vamos,
pois, todos ao Majestoso. Mas sem violência entre as torcidas, pos essa atitude
não está com nada. Brigas acabam tirando o prazer de uma boa torcida. O gostoso
é festejar, esportivamente, numa confraternização entre as torcidas.
Claro
que vencer é o desejável, mas os bugrinos terão que se conformar diante da
nossa superioridade. As gozações serão em tom carinhoso, até para não se perder
a freguesia. Não se põe na panela a galinha dos ovos de ouro. E, como dizem os
cariocas, mestres em gozações: "Bronca é instrumento de trouxa". O
gostoso do esporte é brincar.
(Artigo
publicado na página 17, Esportes, do Correio Popular, em 24 de janeiro de
1993).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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