Monday, September 22, 2014

"Irmãozinhos" antecipam desculpa


Pedro J. Bondaczuk


Apaixonado pela Ponte Preta desde que me conheço por gente, nada me dá uma satisfação maior do que uma vitória num dérbi. Nos últimos dois anos, os irmãozinhos do Guarani nos privaram desse delicioso prazer, fugindo da raia. No ano passado, por exemplo, recusaram-se a nos enfrentar num jogo que estava sendo proposto para comemorar o aniversário de Campinas.

Hoje, não há como escapar, já que novamente os dois times estão no mesmo grupo do Campeonato Paulista. E algo me diz que já vamos começar com dois pontos a favor.

A última vez que pude gozar meus amigos bugrinos foi na decisão da Copa João Saad, de aspirantes, em dezembro de 1991, na preliminar da decisão daquele ano entre São Paulo e Corínthians. A meninada do Majestoso deu um vareio de bola e trouxe a taça para Campinas.

O dérbi anterior entre profissionais, o de 1990, não teve muita graça. A Ponte estava numa fase de autoafirmação, após um período desastroso, e o jogo terminou em zero a zero. Ou seja, mesmo enfrentando um time dos menos brilhantes, os irmãozinhos não conseguiram ganhar de nós.

Tenho ouvido muitas gozações sobre as duas descidas da Macaca para a Segunda Divisão, enquanto o Bugre jamais caiu. Mas com tudo isso, em toda história dos dérbis --- que vão completar neste ano 81 anos --- as estatísticas mostram um virtual empate.

O Guarani venceu 55, a Ponte 54 e os dois empataram 50 jogos. Isto porque o resultado do primeiro confronto, o de 1912, é controvertido. Nos meus arquivos consta que o timão alvinegro venceu. Os bugrinos garantem que houve empate.

Os historiadores esportivos preferem considerar o resultado indefinido. Que seja. Digamos que de fato o Guarani tenha uma vitória a mais. Pois hoje, depois do jogo, já não a terá!

A única frustração é que a diretoria dos irmãozinhos está dando uma colher de chá à torcida bugrina e arranjando uma desculpa antecipada para a derrota: a venda de Edilson para o Palmeiras. O mais gostoso seria enfrentar o Guarani completo. Quem sabe, até mesmo com reforços de jogadores de seleção.

Ainda assim, nossa torcida certamente não vai deixar de saborear o prazer de começar a temporada com uma consagradora vitória. E justo em cima de quem!

Não se trata de achar que o Bugre seja um grande time. O prazer de vencer o dérbi está no fato de poder gozar os amigos. Outros adversários, ou não têm torcedores na cidade ou estes são em pequena quantidade. Os irmãozinhos não. Estão ao nosso redor, prontinhos para as gozações.

Vamos, pois, todos ao Majestoso. Mas sem violência entre as torcidas, pos essa atitude não está com nada. Brigas acabam tirando o prazer de uma boa torcida. O gostoso é festejar, esportivamente, numa confraternização entre as torcidas.

Claro que vencer é o desejável, mas os bugrinos terão que se conformar diante da nossa superioridade. As gozações serão em tom carinhoso, até para não se perder a freguesia. Não se põe na panela a galinha dos ovos de ouro. E, como dizem os cariocas, mestres em gozações: "Bronca é instrumento de trouxa". O gostoso do esporte é brincar.

(Artigo publicado na página 17, Esportes, do Correio Popular, em 24 de janeiro de 1993).


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